(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Obra da Pedro II é inaugurada nesta quarta-feira

Depois de quase cinco anos de trabalho e muitos atrasos, ligação com as avenidas João XXIII e Tancredo Neves será inaugurada hoje, facilitando o trânsito na Região Noroeste


postado em 04/07/2012 06:00 / atualizado em 04/07/2012 07:02

Para construir via, PBH gastou R$ 150 milhões. Maior parte dos recursos foi empregada na desapropriação e remoção de famílias da região(foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
Para construir via, PBH gastou R$ 150 milhões. Maior parte dos recursos foi empregada na desapropriação e remoção de famílias da região (foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)

Quatro anos e oito meses de obras, cinco atrasos nas promessas de inauguração e R$ 150 milhões investidos. Com esse balanço, a Prefeitura de Belo Horizonte inaugura hoje a ligação das avenidas Pedro II, João XXIII e Tancredo Neves, na Região Noroeste da capital. A obra, esperada pelo menos desde o fim da década de 1970, quando ocupações irregulares deram início à Vila São José, promete melhorar a circulação entre as regiões da Pampulha, Noroeste e Centro-Sul.

 A via será aberta ao tráfego de veículos hoje depois do evento de inauguração, marcado para 10h. O atraso é reconhecido pelo próprio secretário municipal de Obras e Serviços Públicos da Prefeitura, Murilo Valadares. Ele afirma que a obra deveria ter sido concluída em 42 meses. O prazo final, no entanto foi 33% maior e chegou a 56 meses. Inicialmente, o tempo era ainda mais apertado. “Fizemos uma previsão inicial de 24 meses de obra”, garantiu.

Tanta demora para entrega das obras tem explicação nas 2.226 pedras encontradas pelo caminhos das máquinas, segundo a prefeitura. De acordo com Valadares, esse foi o número de famílias que tiveram de ser desapropriadas ou removidas para que os trabalhos pudessem ter início. Do total, 818 eram donas do terreno e do imóvel e foram desapropriadas. Mais 1.408 famílias ocuparam o local de forma irregular e foram removidas para unidades do Conjunto Habitacional Vila São José, construído na Avenida João XXIII, que também ganhou mais um quilômetro de extensão.

No lado oposto da via, as máquinas vão permanecer, já que as obras continuam para construção do Vila São José II. O conjunto terá 208 apartamentos distribuídos em 16 prédios. A região vai ganhar ainda uma Unidade Municipal de Educação Infantil, um centro de saúde e uma unidade do BH Cidadania.

“Remover famílias não é uma situação simples. Exige conversa, negociação, trabalho social e lugar para levar essas pessoas”, alega. Ele diz ainda que outro empecilho na conclusão dos trabalhos foi a mudança de empreiteira durante as intervenções. “A empresa vencedora da licitação abandonou a obra em 2010. Por isso, tivemos que chamar a segunda colocada na concorrência pública, o que atrasou ainda mais o serviço. Também enfrentamos outro obstáculo, que foi esperar o período de chuvas”, disse.

Detalhes

Nessa terça-feira, máquinas e operários ainda estavam no local para os últimos retoques. A sinalização horizontal já havia sido concluída, mas faltava a instalação de algumas placas. Semáforos estavam sendo testados e caminhões pipa lavavam a pista. Curiosos, moradores acompanhavam os trabalhos ainda sem acreditar que a ligação entre as avenidas foi concluída. Morador da região há pelo menos 60 anos, o aposentado Wilson Luciano da Silva, de 70, disse que ver a obra pronta é a realização de um sonho. “Passei minha vida toda aqui. Sofri com a falta de infraestrutura, assim como muitos vizinhos. Não tinha água encanada e o esgoto era a céu aberto. Ver a avenida aberta era um sonho antigo”, afirmou.

Os amigos Fidelcino Moreira da Silva, de 59, azulejista, e o eletricista Otacílio Oliveira Silva, de 53, também olhavam para o trabalho final das máquinas. “Essa é uma obra muito importante não só para a região, mas para a cidade, já que facilita a vida de quem segue do Centro para a Pampulha e vice-versa”, garantiu Fidelcino. O amigo acredita que a obra vai beneficiar os usuários do transporte coletivo, que vão ganhar tempo nas viagens. “Gasto até uma hora e meia da minha casa, no Bairro Alvorada, até o Centro. Agora, acredito que esse tempo vai ser reduzido em meia hora, já que não precisaremos passar mais por ruas tão apertadas do bairro”, disse.

A intervenção vai beneficiar também o entorno de bairros como Castelo, Serrano, Santa Terezinha, Paquetá, Conjunto Celso Machado e parte de Contagem, na Grande BH. De acordo com a PBH, passam diariamente pela Pedro II e Tancredo Neves 85 mil veículos.

Caminhões foram usados para lavar a pista e preparar o local para a inauguração na manhã de hoje(foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
Caminhões foram usados para lavar a pista e preparar o local para a inauguração na manhã de hoje (foto: Fotos: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)


Ameaça de novas invasões

Apesar de ter gastado pelo menos 54% dos r$ 150 milhões da obra com desapropriação de 818 famílias (R$ 28,4 milhões) e com a construção dos 1.408 apartamentos para abrigar famílias removidas da Vila São José (R$ 53,8 milhões), a obra viária no entorno do aglomerado será inaugurada com um novo desafio: evitar novas invasões. Isso porque, nas margens da Avenida Tancredo Neves, logo após o fim da Avenida Pedro II, próximo ao viaduto do Anel Rodoviário, uma área desocupada vai permanecer sem uso. A prefeitura garante que o terreno é particular, mas ontem, homens vestidos com uniformes da PBH cercavam o local com vigas de concreto.

“A prefeitura demorou tanto para fazer a obra porque alegava que era caro fazer as remoções. Agora, deixa área remanescente. Não é meu desejo, mas tenho certeza que famílias vão ocupar o espaço de forma irregular novamente”, afirmou o funcionário público Augusto Viana, de 32 anos, que mora no Bairro Castelo há 15 anos. Enquanto esticava os arames da cerca no entorno da área, um funcionário da prefeitura garantiu. “A área é do município. Mas, pelo menos por enquanto, nada será construído aqui. Por isso que estamos cercando. Ainda assim, já teve gente que tentou invadir. Na semana passada, retiramos uma cerca que alguém havia colocado dentro do terreno”, disse. A manicure Andrey Rose Alencar Costa, que mora em frente ao local, também desaprovou a possibilidade de invasão. “Preferia que tivessem construído uma praça ou uma área de lazer”, disse.

De acordo com o secretário municipal Obras e Serviços Públicos, Murilo Valadares, a prefeitura não tem responsabilidade sobre a área e insistiu em garantir que o terreno é de propriedade privada.


MEMÓRIA: Aglomerado da década de 1970

Para abertura da ligação entre as avenidas Pedro II, Presidente Tancredo Neves e João XXIII foi necessária a desapropriação de uma área antiga da cidade: a Vila São José. O aglomerado, fruto de invasões iniciadas no fim da década de 1970, estava encravado entre os bairros Jardim Alvorada, Alípio de Melo e São José, na Região Noroeste, tendo a Avenida Pedro II e o Anel Rodoviário como importantes referências.

Antes das remoção e desapropriações para abertura do canteiro de obras, a região era habitada por 9 mil pessoas, distribuídas em 2,4 mil domicílios numa área se 197 mil metros quadrados. O perfil socioeconômico da população sempre foi muito baixo. De acordo com levantamentos da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), 67,3% do total de residentes tinham renda inferior a um salário mínimo e apenas 2% ganhavam acima de três salários mínimos. O grau de escolarização também era incipiente: apenas 49% tinham o 1º grau completo.

Das famílias, 1.408 foram levadas para unidades habitacionais construídas pela prefeitura na região. O restante foi indenizado e deixou o local. Cortado pelo córrego São José, o aglomerado padecia da falta de saneamento básico, de moradias e de áreas de saúde, educação e lazer. A população também sofria com a violência, que apesar da urbanização, ainda perdura, conforme moradores.
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)