Jornal Estado de Minas

Excesso de peso e direção sob influência de álcool lideram infrações nas BR's de MG

Caminhões com excesso de peso e motoristas que consomem álcool e dirigem são os dois tipos de crimes relacionados ao trânsito mais verificados pela fiscalização da PRF

Guilherme Paranaiba

No topo do ranking dos crimes registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), conforme levantamento feito pela corporação a pedido do Estado de Minas, o excesso de peso e a direção sob a influência de álcool trocaram de lugar em 2011 e 2012

Enquanto no ano passado dirigir embriagado liderou as estatísticas, com 746 registros, e o peso excessivo ficou em segundo, totalizando 605 ocorrências, em 2012, até 31 de maio, os papéis se inverteram e as carretas e caminhões carregados com mais peso do que a legislação permite assumiram a liderança, com 309 boletins de ocorrência, enquanto o álcool combinado ao volante caiu uma posição, somando 273 autuações.

A partir do levantamento da PRF, também é possível observar como os crimes se dividem nas 18 circunscrições da corporação no estadoEm sete delas, predomina a direção sob efeito do álcoolEm outras cinco, o maior número de ocorrências é de veículos com carga em excesso.


Para os especialistas, esse quadro representa uma situação crítica, que potencializa a ocorrência de desastres, bastante comuns nas rodovias federais mineiras“O excesso de peso contribui para a deterioração do asfalto e isso tem relação estreita com os acidentesSe o pavimento se desgasta, a chance de termos mais buracos e depressões aumenta, o que cria condições favoráveis às batidas”, diz o professor da PUC Minas e mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME) Paulo Rogério MonteiroEle também destaca que o excesso de peso é incompatível com a atual situação das rodovias do país, muitas delas construídas há várias décadas e totalmente desatualizadas.

“Imagine a dificuldade de controlar um caminhão acima do pesoNessas horas ocorrem as perdas de freio, os veículos não param e as tragédias acontecemComo caminhões e carretas normalmente atingem carros pequenos, o cenário de problemas está armado”, acrescenta Paulo RogérioAinda segundo o especialista, dirigir alcoolizado é mais um fator que causa transtornos“O tempo de reação do conjunto formado por veículo e motorista alcoolizado aumenta e fica mais difícil controlar a situação

Em um acidente, dificilmente há uma fatalidadeNormalmente, uma soma de fatores contribui para o pior e esses crimes levantados pela PRF que têm relação com o trânsito são potencializadores”, completa o professor.

A delegacia de Patos de Minas, que registra os crimes ocorridos em trecho de 373 quilômetros da BR-365, ligação entre o Norte e o Triângulo, apontou 81 ocorrências de excesso de peso de janeiro a 6 de junho, se tornando a campeã desse tipo de ocorrência no estadoEm segundo lugar aparece a região de Paracatu, no Noroeste do estado, onde foram registradas 54 ocorrências de peso acima do permitidoEssa delegacia é responsável pela fiscalização de 320 quilômetros da BR-040, entre Três Marias e a divisa de Minas com GoiásDe acordo com um agente da PRF que pediu anonimato e trabalha na fiscalização nas estradas, a situação do excesso de peso pode ser maior por conta de uma das formas de fiscalização“Além das balanças, temos a ação fiscal pela nota da cargaEm muitos casos, é possível comprovar alguma fraude na nota, mas em outros pode haver a adulteração sem que o agente perceba”, diz o policial.

ÁLCOOL E DIREÇÃO

Quando o problema é dirigir embriagado, a delegacia que mais registrou esse desvio de conduta é a metropolitana, com 43 flagrantesNessa circunscrição estão trechos das BRs 381, 040 e 262, totalizando 264,3 quilômetrosOutras delegacias onde álcool e volante também lideram são as de Caratinga (Vale do Rio Doce), Pouso Alegre (Sul), Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), Poços de Caldas (Sul), Montes Claros (Norte) e Uberlândia (Triângulo).

De acordo com a assessora de comunicação da PRF, inspetora Fabrizia Nicolai, o alto número de ocorrências de excesso de peso está relacionado às ações constantes da polícia para diminuir os danos ao patrimônio público“A partir de discussões com o Ministério Público Federal (MPF) foi feito um termo de ajustamento de conduta (TAC) com as empresas reincidentes no transporte de peso excedente
O MPF começou a representar contra essas firmas e cobrar indenizações que são revertidas para melhorar a atuação da polícia”, diz a inspetoraEla informou que as balanças são o melhor instrumento de fiscalização e que a verificação das notas fiscais é uma ferramenta secundáriaSegundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Minas conta com 17 balanças, todas atualmente estão em operação.

Sobre o aumento do número de motoristas autuados por embriaguez, informou que isso é reflexo da intensificação da fiscalização sobre quem bebe e dirige

 

Equipamento irregular

Em cinco delegacias regionais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais os crimes campeões fogem à regra de motoristas embriagados ou carretas com mais peso do que o permitidoEm duas delas, a ocorrência que lidera o número de boletins gerados chama a atençãoEm Sete Lagoas, Região Central do estado, o registro que aparece em primeiro lugar é descrito como “rádio PX irregular”, com 35 flagrantes Segundo a PRF, o aparelho é um comunicador usado por motoristas sem licença da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para enganar a polícia

Como a região tem muitas siderúrgicas, transportadores de carvão que fazem o serviço irregular e com prejuízos ao meio ambiente usam o equipamento para avisar os colegas onde está a fiscalização Outro crime curioso que aparece líder de registros em uma região de Minas Gerais é o apedrejamento de veículosNa delegacia de Uberaba, no Triângulo Mineiro, esse ato de vandalismo ocorreu nove vezes, segundo os dados da PRF.

O apedrejamento é uma situação denunciada por uma das maiores empresas de ônibus que faz transporte interestadual em estradas mineirasSegundo dados da companhia, oito veículos foram atacados no estado em 2012, em regiões diversasQuatro desses casos ocorreram em Ribeirão das Neves, na Grande BH, em represália a ações do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG) contra o transporte clandestinoComo o órgão flagrou perueiros em ocasiões diferentes, foram chamados ônibus da empresa para levar os passageiros que ficaram na BR-040 sem conduçãoPor isso, como retaliação dos motoristas irregulares, esses veículos foram apedrejados.

Outro problema verificado, segundo a mesma empresa, são os assaltos aos ônibus de viagemA assessoria de comunicação do grupo informou que no Triângulo Mineiro essa situação é bem comum, especialmente nas proximidades de UberlândiaOs dados da PRF mostram que esse é um tipo de crime que consta das estatísticasNeste ano, os assaltos a ônibus estão em segundo lugar na delegacia de Uberlândia, com 13 registros, perdendo apenas para dirigir embriagado, que teve 17 ocorrências.