O desejo de fundar uma instituição capaz de difundir o ensino de música de maneira ampla e livre levou à criação, em 1963, da Fundação de Educação Artística (FEA), em Belo HorizonteQuase 50 anos após a proposta inicial sair do papel e com diversos feitos no currículo, a missão permanece“Não vejo a fundação como obra acabada Há muitos sonhos e ideias a serem feitasO importante é não termos nos afastado da proposta inicial: oferecer algo alternativo ao ensino formal de música, autônomo, dando oportunidade a todos”, salienta Berenice Menegale, idealizadora e atual diretora executiva
Então com 29 anos, Berenice, ao lado de um grupo de amigos, idealizou a fundação na época com uma tríplice vocação: educacional, social e culturalDentro da perspectiva propôs, desde o início, ações de valorização destes aspectos, tanto na democratização do ensino de música quanto no incentivo à criação artísticaAs atividades permanecem, tendo como centro difusor a sede da instituição, localizada na Rua Gonçalves Dias, 320, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul da capital, onde estão, além de salas de aulas e biblioteca, um teatro com capacidade para 180 lugaresNo local, semanalmente são realizados eventos como a tradicional série Manhãs musicais, aos domingos, às 11h.
A entidade sem fins lucrativos, fora do âmbito governamental, é rara em longevidade no cenário nacional“Esta autonomia custa caroApesar de não termos subvenções públicas, há outras coisas que compensam: aqui podemos experimentar a qualquer momento as idéias que surgem
Inovação
Como viveu os dois lados, Berenice lembra que o surgimento na Fundação de Educação Artística de grupos importantes para a cultura nacional, como a Oficina Multimédia e o Uakti, só foi possível porque rapidamente as ideias encontraram ambiente propício para se tornar realidadeSe fosse no poder público, dificilmente sairiam do papel.
O clima de liberdade e a democratização do ensino musical marcaram época na FEA Reconhecida dentro e fora do Brasil pelo trabalho de difusão da música brasileira e latino-americana, assim como estímulo aos jovens compositores, ela tem priorizado aspectos e valores menos atendidos pelos meios tradicionais e a mídia
Além dos espetáculos e eventos abertos à comunidade em geral, no campo pedagógico, tem exercido um papel fundamental no processo de renovação do ensino, incentivo à experimentação e à criaçãoNa área da responsabilidade social, desde às origens, desenvolve programa profissionalizante em favor da comunidade carente de Belo Horizonte e regiãoAs escolhas, mesmo com resultados evidentes na cultura local, tem levado a instituição a enfrentar vários desafios para manutenção.
O desafio de novos apoios
Com uma trajetória de déficit orçamentário, a FEA luta, a cada dia, por alternativas para continuar difundindo sua missão“Toda aula de instrumentos é deficitária porque são individuais ou em pequenos grupos A manutenção diária de um centro cultural como este é cara”, justifica
A aproximação com o aniversário dos 50 anos da fundação – ela foi criada em 8 maio de 1963 – é mais um momento no qual se tentará colocar em prática vários projetosSobretudo de melhoria das condições físicas e modernização; de difusão e organização do precioso acervo, composto por documentos e gravações; exposições; lançamentos de livros e eventos“Pretendemos realizar uma nova edição de um encontro latinoamericano, com foco na música contemporânea e na música de câmara”, adianta
O maior desafio das comemorações será o de conquistar mais apoios para as atividades“Queremos realizar uma campanha para conquistar mantenedores que possam, inclusive, como pessoas físicas ou jurídicas, nos ajudar a diminuir o déficit.” Outra meta é a aquisição de um novo pianoO custo é alto, cerca de R$ 250 mil“O que temos serviu não só a nós como a toda a cidade durante anos Foi um piano maravilhoso, mas está desgastado.”
A tarefa de manter uma instituição deficitária e não arredar um milímetro da vocação inicial não desanima Berenice“Não é brincadeira, nãoVivemos deficitários porque o que fazemos não cabe no orçamento.” Enquanto a instituição continuar formando gerações e levando arte de qualidade aos mineiros, as dificuldades parecem não a abatê-la
Linha do tempo
1963: A Fundação de Educação Artística é criada por um grupo de pessoas ligadas às artes, descontentes com o ambiente musical tradicionalista e desatualizado de Belo Horizonte
1968: Depois de permanecer o tempo inicial numa casa alugada, na Avenida Bias Fortes, a fundação passa para sede própria, na Rua Gonçalves Dias, 320, no Bairro FuncionáriosOs professores se engajaram na causa doando os próprios salários para a aquisição do imóvel
1974: Para dar conta do crescimento das atividades é construído o Teatro Heloísa GuimarãesO período é marcado ainda pela criação da Orquestra de Câmara, pelo surgimento do Grupo Oficcina Multimédia e pela realização das oficinas de construção de instrumentos, origem do grupo Uakti.
1989: A queda do número de alunos leva a instituição a viver o período mais difícilCursos e atividades foram interrompidos e a maior parte dos funcionários e professores demitidosGradualmente a instituição voltou a ampliar as atividades
1997: É inaugurada a nova sedeNasceu como contrapartida do terreno cedido para construção de um edifícioA sede surge moderna, atendendo às novas demandas da instituição, inclusive com teatro com isolamento termoacústico
2002: A repercussão do 4º Encontro de Compositores e Intérpretes Latino-Americanos, um dos eventos de maior expressão realizados pela FEA, deveu-se em grande parte à funcionalidade da nova sedeDezessete concertos, mesas-redondas, oficinas e seminários foram realizados.
2012: A instituição mantém a proposta original de difusão musicalComo até 25% da receita é aplicada em bolsas de estudos, a instituição se mantém deficitáriaContinua dependendo da problemática captação de doações e patrocínios para sua manutenção e permanência