Obstáculos pontuais, os radares fixos que multam e deveriam controlar a velocidade do tráfego nas vias de Belo Horizonte se tornaram equipamentos ultrapassados, que não têm conseguido fazer com que motoristas cumpram o limite estabelecido após passar pelo aparelho Foi o que constatou a equipe de reportagem do Estado de Minas em quatro das mais importantes e perigosas avenidas da capital, nas quais apenas 300 metros depois da fiscalização os condutores voltam a acelerar fundo No Anel Rodoviário e nas avenidas Nossa Senhora do Carmo, Raja Gabaglia e Carlos Luz, 414 veículos foram monitorados com um medidor móvel de velocidadeDesses, 151 (36,4%) estavam acima da velocidade máxima permitida, sendo que 70 (17%) superaram inclusive a tolerância de 10% para emissão de multas e perda de pontos na carteira.
Na Avenida Raja Gabaglia, divisa das regiões Centro-Sul e Oeste de BH, o carro mais rápido flagrado 300 metros após o radar marcou 78 km/hNo Anel Rodoviário, onde a tolerância é maior, de 70 km/h, um Siena chegou a 82 km/h logo após passar pelo aparelho de controle.
Outro índice que mostra que os radares não têm intimidado os motoristas é o aumento de multas por aparelhoDe acordo com a BHTrans, em 2010 os 37 medidores fixos aplicaram 216.094, média de 5.840 por equipamento
‘Paliativo’
Ainda assim, a BHTrans considera que os aparelhos servem para o “controle de velocidade nas vias urbanas”, mas especialistas em transportes e trânsito, ao analisar os resultados levantados pelo EM, discordam que essa função esteja sendo cumprida“Radar é um paliativoNão é o ideal para controlar o trânsito, como mostram esses númerosO uso deles em alguns pontos pode ser até perigoso, já que leva os motoristas a acelerar depois, para compensar”, afirma o chefe do Departamento de Transportes e Geotecnia da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu NunesEle sugere que radares móveis sejam usados nesses pontos, para que os motoristas tenham sempre a sensação de que estão sendo monitorados, o que os obrigaria a obedecer os limites.
O mestre em transportes e professor da PUC Minas Paulo Rogério da Silva Monteiro considera que dispor radares a intervalos muito próximos é uma providência cara demais, mas avalia que, se houvesse sinalização de monitoramento e de limite da velocidade mais ostensiva, isso poderia inibir os abusos“O radar é válido para pontos críticosNão funciona para disciplinar na longa distância”, diz.
Para combater o comportamento descrito pela reportagem, a BHTrans informou que usa radares estáticos ou móveis, que podem ser levados para vários locais, ampliando a capacidade de monitorar viasContudo, há apenas de três unidades do tipo na cidadeA empresa sustenta ainda que o uso de dispositivos de controle de velocidade preserva, em média, 180 vidas por ano em Belo Horizonte desde sua implantação, em 2000
Imprudência sem freio
Motoristas aceleram 300 metros depois da fiscalização
Avenida Nossa Senhora do Carmo
» Veículos registrados em 5 minutos: 180
» Maior velocidade medida: 87 km/h
» Acima do limite (60 km/h): 100 (55,5%)
» Acima da tolerância de 10% (66 km/h): 55 (30,5%)
Anel Rodoviário (KM 471 da BR-381)
» Veículos registrados em 5 minutos: 109
» Maior velocidade medida: 82 km/h
» Acima do limite (70 km/h): 28 (25,7%)
» Acima da tolerância de 10% (77 km/h): 4 (3,7%)
Avenida Carlos Luz
» Veículos registrados em 5 minutos: 57
» Maior velocidade medida: 89 km/h
» Acima do limite (60 km/h): 13 (22,8%)
» Acima da tolerância de 10% (66km/h): 9 (15,8%)
Avenida Raja Gabaglia
» Veículos registrados em 5 minutos: 68
» Maior velocidade medida: 78 km/h
» Acima do limite (60 km/h): 10 (14,7%)
» Acima da tolerância de 10%: 2 (3%)