Jornal Estado de Minas

Cemitério do Bonfim terá visita todo mês

Carolina Cotta

- Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

Domingo em BH: dia de feira, futebol e, agora, de passear no cemitérioA Fundação Municipal de Parques e a Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg) estrearam o programa de visitas guiadas pelo Cemitério do Nosso Senhor do BonfimInicialmente pensado para ser somente ontem, a organização já anunciou que vai se repetir uma vez por mês, tamanho o interesse da populaçãoQuem achar loucura acordar cedo no fim de semana para visitar túmulos vai se surpreender: mais duas turmas já estão fechadasO que não falta é gente querendo conhecer a história da cidade e da sociedade belo-horizontina contada em jazigos e mausoléus.

“As construções tumulares celebram os mortos e têm importante aspecto artísticoNo Bonfim vemos o neo clássico, o construtivismo, o art noveau e o art déco, uma verdadeira aula de história da arte e semiótica”, destacou a historiadora Marcelina Almeida, idealizadora da visita, sob o olhar atento do casal de professores José Antônio dos Reis, de 56 anos, e Traudi Wahlbrink, de 47“Conheço cemitérios em Buenos Aires, Washington, Paris e ÁvilaPor que não o de Belo Horizonte?”, justificou José AntônioTraudi aprovou a visita, que durou 3 horas sem que percebesse o tempo“Gosto de ver as obras de arteEspero que todos venham

É um museu a céu aberto”.

Com câmera em punho, o estudante de história Leonardo Augusto dos Santos, de 24, aluno de Marcelina, foi um dos inscritosEnquanto percorria as quadras, encantava-se com a possibilidade de ver o cemitério além de sua função de enterrar“Com essas explicações e observações é possível perceber muito da sociedadeOs túmulos conseguem revelar um pouco da identidade desses mortos por meio da arte encomendada por suas famíliasPara mim, que serei um professor de história, visitas como essa, além de toda a curiosidade que apresenta, permitem um olhar crítico de ver a memória da cidade por meio das iconografias.”

LAICO

Inaugurado às pressas em fevereiro de 1897 com a morte de Berthe Adéle, jovem belga de 19 anos filha de um engenheiro da comissão construtora da capital, o cemitério já nasceu laico, desvinculado da IgrejaFoi chamado de Cemitério Municipal, mas a população logo o batizou como Cemitério de Nosso Senhor do Bonfim, o que preza pela boa morteTal desligamento com a Igreja gera o tipo de construção comum no local“Com a impossibilidade de se destacarem pela irmandade da qual faziam parte, os túmulos precisavam se destacarEra a forma de a família mostrar seu lugar social”, explica a historiadora.

Contrariando toda a opulência dos túmulos dos grandes políticos, o de Adéle é um dos que mais chama a atençãoMesmo com o acesso mais difícil, todos querem chegar perto e ver a primeira sepultura do Bonfim
Lá nasceu um grande cipreste, circundado pela grade original adotada pela família belgaA vontade de ver o espaço mais preservado era opinião compartilhada pela maioriaO historiador e especialista em patrimônio Artur Iannini, um entusiasta por fotografias de cemitérios, há anos busca com a prefeitura a instalação de câmeras de segurança no localAutor de milhares de cliques em diversos cemitérios que já visitou, pediu licença algumas vezes para contar suas impressõesChegou, inclusive, a convencer Marcelina de uma mudança de trajeto"Precisamos mostrar a eles o anjo mais bonito do Bonfim, uma verdadeira obra de arte", compartilhou.

Muito além dos famosos fantasmas que dizem rondar o local, o Bonfim reúne obras de arte de escultores brasileiros e de além-mar, caso do italiano Ettore Ximenes, que assina o Monumento à Independência, em São Paulo, e no cemitério deu forma ao túmulo-cívico encomendado pelo governo do estado em honra a Raul Soares, um dos destaques da visitaMas circular pelas 54 quadras do Bonfim extrapola o encantamento com a arte entalhada em mármore, granito e bronzeTambém estão impressas ali a divisão de classes, a religiosidade e os costumes mineiros.

MARQUE SUA VISITA

A Fundação Municipal de Parques de Belo Horizonte e a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) decidiram ampliar o número de visitas guiadas ao Bonfim por causa da procura de visitantes interessadosA demanda inicial foi tão grande que no próximo domingo, às 9h, haverá outra turma, com 30 pessoasOutros dois grupos também já estão fechados, mas sem data definidaQuem tiver interesse em conhecer o cemitério com informações da historiadora Marcelina Almeida pode se inscrever pelo telefone (31) 3277-9358 ou pelo e-mail agendaparques@pbh.gov.br