Jornal Estado de Minas

Religiosa que atuou na África e forma crianças em MG pede menos individualismo

Conheça a história de IRMÃ MARIA APARECIDA PEREIRA, missionária da congregação das clarissas franciscanas

Jefferson da Fonseca Coutinho
Irmã Aparecida vive em Curvelo: 'As pessoas não entendem que a felicidade está no que você pode ser e fazer pelo outro' - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
A voz suave ensina a calma e o sorriso acolhedor desperta a vontade de ser melhorSão muitas as imperfeições humanas e elas parecem ainda maiores diante de missionárias como a irmã Maria Aparecida Pereira, de 50 anos, nascida em arraial de Abaeté, na Região Central de MinasClarissa franciscana, a religiosa sentiu o coração tocado, ainda menina, pela paz e pelo bem do outroOs votos perpétuos vieram mais tarde, em 2000, já em terras estrangeiras, depois de longa trajetória de formação “por Cristo, com Cristo, em Cristo” – frase, segundo ela, definitiva de compreensão no chamado para o sacerdócioLonge dos filhos de seu país, entre 1995 e 2008, foram mais de 12 anos dedicados às crianças de Gabu e Bissau, em Guiné-Bissau, país da costa ocidental da ÁfricaTempos difíceis em meio à fome e à morte de pequenos filhos de Deus.

Nos anos seguintes, de volta a Minas, força e fé ainda maiores à importância do amor ao próximoIrmã Aparecida, atualmente em Curvelo, revela que o momento em que se sentiu mais forte nos ideais ensinados pela madre Serafina de Jesus – fundadora do Instituto das Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento – foi quando esteve com os pequeninos desnutridosNa miséria das paisagens que a maioria não quer ver, a irmã diz ter tido na palma das mãos as respostas do céu para a sua vocação“Quando você trabalha para salvar vidas, tem a certeza de que a sua entrega pode ajudar a transformar o mundoAo mesmo tempo, sentimo-nos estraçalhados quando não damos conta de ajudar…”.

Notavelmente tímida, a irmã confessa ter tido vontade de gritar, como se pudesse acordar o mundo para as agruras daquele povo“Quando a gente volta, depois de tudo o que se vê entre os que nada têm, é difícil se adaptar
A gente fica pensando que, num país como o Brasil, com tantos recursos, não é preciso tanta desigualdade”, consideraPara ela, se houvesse mais vontade de ajudar, o mundo poderia ser melhor“O que mais me faz sofrer é o individualismoAs pessoas não entendem que a felicidade não está na quantidade de coisas que você tem, e sim no que você pode ser e fazer pelo outro.”

Felicidade

Irmã Aparecida, com formação técnica em contabilidade, tem convicção de que as pessoas buscam do lado de fora “as coisas sem importância”, enquanto o que existe de melhor dentro de cada um cai no esquecimento“Ter não satisfazNuncaVocê tem uma coisa de hoje… quando sair o de amanhã, é o que você vai quererE isso se repete.” As lições aprendidas na África voltam ao todo instanteA irmã não consegue esquecer a falta de estrutura na saúdeTambém diz-se chocada com o desrespeito sofrido por mulheres e crianças mulçumanas, para quem ficam os restos de comida
“O pior é que em muitos casos a gente não pode interferir, fazer nadaE isso dói muito”, diz.

“A minha felicidade deveria ser a felicidade do outro”É como a irmã Aparecida define o caminho para o bem comum entre os homensNa comunidade de Curvelo, as irmãs são comprometidas com as reflexões de madre Serafina: “Ide, minhas filhas, por todo o mundo..onde houver uma lágrima a enxugar..um coração a confortar..e levai a todos o amor de Jesus eucarístico! Quem educa uma menina educa um povo...!” Exemplo seguido à risca pela irmã Aparecida, hoje aplicada na formação de alunos do colégio franciscano da cidadeDe 2008 a 2011, a religiosa esteve em Conceição do Mato Dentro.

Irmã Aparecida revela ter vontade ainda maior de estar mais perto dos pobres“Sinto em meu coração vontade de sair para onde é mais necessário.” A religiosa reconhece a importância de todas as missões e, por obediência – um de seus votos –, está à espera de um novo chamado.