(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Estacionamento rotativo de BH tem engarrafamento de infrações

Com poucos agentes para fiscalizar o trânsito, motoristas apostam na impunidade e ignoram regras ao parar nas ruas de BH. Mesmo aumentando 120%, multas não refletem realidade


postado em 22/06/2012 06:00 / atualizado em 22/06/2012 06:41

Fiscal pune motorista de carro parado sem tíquete em área regulamentada: média diária de autuações por desrespeito às normas mais que dobrou este ano, pouco para intimidar infratores(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Fiscal pune motorista de carro parado sem tíquete em área regulamentada: média diária de autuações por desrespeito às normas mais que dobrou este ano, pouco para intimidar infratores (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

A placa indica o tempo máximo de permanência e não deixa dúvida: a vaga deve estar disponível para ser usada por várias pessoas, por diversas vezes. Mas, nos painéis dos carros que circulam por Belo Horizonte, as folhas de estacionamento rotativo viraram raridade. Mesmo quando elas marcam presença, o que era para durar um período determinado se arrasta por horas e horas. Não foi à toa que apenas nos primeiros quatro meses do ano, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG), Belo Horizonte registrou média diária de 429 multas aplicadas a motoristas que usam e abusam do sistema. O número representa aumento de 120% em relação à média do ano passado (195/dia). O total de ocorrências de janeiro a abril de 2012, 51.875, já chega perto da quantidade verificada ao longo de todo o ano de 2011, quando houve 71.344 punições.

Embora a média tenha mais que dobrado, os números poderiam ser bem maiores se a fiscalização caminhasse na mesma proporção do aumento da frota na capital. Autoridades de trânsito e especialistas atribuem o aumento de multas ao fato de motoristas terem optado por confiar na impunidade, já que o efetivo de fiscais anda à míngua. De acordo com a BHTrans, o rotativo está distribuído por 14 áreas da capital, ao longo de 777 quarteirões. São 20.466 vagas físicas que, se usadas corretamente, geram 90.452 oportunidades de paradas de veículos por uma, duas ou cinco horas.

Para monitorar todo esse enorme estacionamento de mais de 90 mil vagas e ainda dar conta de outras ações que deveriam ser fiscalizadas no trânsito – de acidentes a controle de emissão de poluentes –, a cidade conta com 447 policiais militares do Batalhão de Trânsito e cerca de 300 guardas municipais. Resultado: muitos condutores ignoram o término do horário do rotativo e deixam os carros parados por mais tempo que o permitido ou simplesmente ignoram o uso do tíquete. Outros trocam a folha, o que também é irregular. De acordo com a BHTrans, depois de vencido o tempo regulamentar, por lei, o carro deve ser levado para outra vaga.

A sensação é de que muita gente tem preferido tomar a multa – leve, no valor de R$ 53,20 – a investir no talão de rotativo, que custa R$ 29 (10 tíquetes) e pode ser adquirido até pelo site da BHTrans, ou mesmo comprar folhas avulsas. O flanelinha Edmar Pedro dos Santos é um que tem sentido a queda nos negócios. “Ultimamente não estou vendendo muito, porque as pessoas não estão usando mesmo. A maioria prefere arriscar”, diz.

O comandante do Batalhão de Trânsito de BH, tenente-coronel Roberto Lemos, é enfático: “O motorista não tem usado o rotativo. As pessoas não acreditam que serão punidas e contam com a sorte. Como a frota cresceu muito e a cidade tem poucas vagas, muitos estão arriscando. O descumprimento ocorre em todo sentido e chega até a parada em carga e descarga e em locais onde é proibido parar e estacionar”. Segundo ele, foi criado um contingente específico, em conjunto com a BHTrans e a guarda, apenas para fiscalizar estacionamento irregular na capital.

O consultor de trânsito Osias Batista tem a mesma percepção. “Tem gente que acha que está ‘dando o cano’ apenas no dinheiro da BHTrans, mas na verdade está prejudicando outras pessoas que querem estacionar”, alerta. Ele cobra melhoria na fiscalização e ressalta que a função desse tipo de estacionamento, que é fazer com que haja vagas disponíveis, não está sendo cumprida.

Para Batista, a opção pelo desrespeito é clara. “Quem quer fazer alguma coisa rápida e não encontra vaga muitas vezes aposta na probabilidade estatística de não tomar multa.” Segundo o consultor, quando há uma fiscalização razoável, 40% das pessoas infringem, mas quando a vigilância é falha, essa média chega a 70%. “O número hoje deve ser em torno de 50%. Se são registradas 428 multas diárias, quer dizer que eles não estão multando ninguém”, diz.

A cada quarteirão, um festival de desrespeito

Com os motoristas escolhendo apostar na sorte em vez de obedecer à lei ao estacionar em vagas do sistema rotativo, não é difícil constatar infrações em todas as áreas da capital. Em pouco tempo, a equipe de reportagem do Estado de Minas flagrou dezenas de carros em situação irregular em algumas das áreas mais movimentadas da capital. Em apenas um quarteirão da Avenida Brasil, na altura da Rua Ceará, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste, eram cinco carros estacionados em desacordo com as normas.

No Centro, em uma quadra da Rua Guajajaras, nove carros estavam sem talão ou com a folha preenchida de forma errada. No quadrilátero formado pelas ruas Tomé de Souza, Sergipe, Antônio de Albuquerque e Levindo Lopes, na Savassi, foram flagrados 26 veículos estacionados irregularmente. E, no fim da tarde, no quarteirão da Rua Maranhão, entre Gonçalves Dias e Cláudio Manoel, 22 carros estavam sem a folha do rotativo.

A empresária Luiza Pillar, de 24 anos, tentou parar seu carro três vezes na tarde de ontem, na Rua Sergipe, na altura da Savassi, uma delas em local proibido. O guarda municipal Geraldo Magela Aguilar chamou a atenção da jovem, que se justificou: “Parei no lugar errado, mas não sabia. Então ele veio me orientar”, disse, enquanto preenchia o talão para estacionar.

Mas quando faltam agentes para advertir ou orientar, não falta quem abuse. No meio da tarde de ontem, na tumultuada Rua Guajajaras, um sedã prata esperava pacientemente na fila dupla, com o pisca-alerta ligado. A condutora, a estudante Naiara Pereira da Silva, de 22 anos, descansava o pé no painel do carro enquanto fazia palavras cruzadas, apoiando a revista no volante do veículo do pai. “Multa é o que eu mais recebo”, admitiu. E completou: “Meu pai fica bravo, mas quem paga é o meu namorado”.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)