A delegada do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) Rosângela Pereira, que ouviu o motorista durante a madrugada, informou que ele foi autuado em flagrante diante dos elementos de convencimento em relação ao dolo eventual, como a existência de placas proibitivas do trânsito desse tipo de veículo na via, comprovado pelo perito
Por volta das 20h50, trafegando em área proibida, ele perdeu o controle do veículo de carga que, desgovernado, atingiu oito carros, matou duas pessoas, feriu três gravemente e deixou um rastro de destruição de pelo menos 300 metros pela Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Sion, na Região Centro-Sul de Belo HorizonteO motorista chegou até o local da tragédia sem ser incomodado pela fiscalização.
A violência da batida foi tamanha que uma das bobinas se soltou da carroceria e desceu, destruindo o que estava pela frenteA tragédia só não foi maior porque, dos oito carros atingidos pela carreta, apenas dois sofreram impacto frontalA sequência de colisões teve início na altura da TV Minas, pouco acima da Avenida Uruguai, quando o condutor da carreta, já descontrolada, bateu levemente em um Honda Civic, que estava à frenteO carro foi arremessado contra um Peugeot, que também sofreu poucos danos.
Em seguida, a carreta atingiu em cheio o Celta placa HIX 5109, de Belo Horizonte, que foi arremessado a pelo menos 20 metros com a violência do choqueO carro de passeio atravessava a Nossa Senhora do Carmo rumo à Avenida UruguaiO motorista do Celta morreu no local e a passageira, a caminho do Hospital de Pronto Socorro João XXIII.
Enquanto isso, sem controle, a carreta invadia a mão contrária, destruindo a grade que separa as pistasPedaços de metal, galhos de árvore e de postes foram arremessados para o meio da avenidaPróximo à passarela em frente à Igreja do Carmo, o veículo de carga bateu em um poste de iluminação, invadiu o sentido oposto e esmagou o Gol placa HMB 9815, matando na hora a motorista Márcia Bombonato de Oliveira, de 56.
O caminhoneiro foi retirado da cabine por uma equipe da Polícia Militar e teve de ser levado às pressas para um local seguro, pois as pessoas queriam linchá-loÀ polícia, Jadson disse que perdeu o freio do veículo e que sua intenção não era entrar na Nossa Senhora do Carmo.
“Eu vinha de Ipatinga e ia para São Paulo, mas passei direto da entrada para pegar a BR-381 e fui parar no fim do Anel RodoviárioEstava apenas tentando pegar uma rotatória para fazer o retorno, quando acabou o freioNão tive o que fazer”, argumentou Jadson, pouco antes de seguir para a delegacia de plantão do Detran.
Na carreta viajava também o dono do veículo, Dário Alves Cunha, que não se feriuApesar de não apresentar sintomas de consumo de bebida alcoólica, Jdson seria submetido a exame no Instituto Médico Legal
Phelippe Costa de Cerqueira gravou imagens do local do acidente com exclusividade para o Estado de MinasAssista:
Socorro
Entre as vítimas levadas ao HPS pelo Samu estavam Caroline Palmer Irffi, de 23 anos, que já chegou sem vida, o estudante Lucas de Oliveira Magalhães, de 26, com traumatismo craniano e em estado gravíssimo, Luís Carlos Chan, de 48, sem ferimentos aparentes, e Chan Yuet Kuir, de 54, com costelas fraturadas
Todos foram atendidos por uma equipe de oito médicos, chefiada por Flávio Victor Horta Pires, que atribuiu o fato de Lucas ter chegado vivo ao hospital à agilidade das equipes de salvamentoAinda durante o atendimento, chegaram ao HPS os pais de Caroline, Elizius Zuccherate e Márcia Palmer ZucheratteElizius disse ao chefe da equipe: “Você sabe doutor que minha filha vai ser sua colega daqui a alguns anos?” Desesperada, a mãe perguntou ao médico se a estudante estava vivaO médico então pediu aos dois que entrassem para dar a notícia da morte.
Falhas
A BHTrans, por meio da assessoria de imprensa, confirmou que o tráfego de carretas do porte da que causou o acidente é expressamente proibido na Avenida Nossa Senhora do Carmo e alegou que o motorista infringiu a lei ao entrar em um trecho onde havia sinalizaçãoAinda conforme a assessoria, a fiscalização é esporádica e feita até as 20h no trevo do Bairro BelvedereQuestionada sobre o porquê de a carreta não ter sido parada antes de chegar à avenida, a empresa informou que a fiscalização é feita pela Polícia Militar Rodoviária e Polícia Rodoviária Federal e que, pela velocidade em que o veículo se encontrava, “não seria possível retê-la”.
Pela BR-040, uma carreta bitrem só tem permissão para entrar no Anel Rodoviário, conforme regulamentação da BHTransA Polícia Rodoviária Federal informou que não tem responsabilidade e atribuiu à Polícia Militar Rodoviária, que transferiu para a BHTrans.
Depoimento
Carolina Lenoir
Repórter do EM que presenciou o acidente
O som do rádio e a rapidez com que tudo ocorreu não permitiram que eu ouvisse imediatamente o som da carreta desgovernada, que desceu como um flash a pista ao lado de onde estava parada num sinalPorém, a imagem do motorista e a poeira que subiu ao longo do trajeto de destruição foram registradas de forma absolutamente claraAssim que o veículo finalmente tombou, quem trafegava pela Avenida Nossa Senhora do Carmo também parou, num misto de incredulidade e desespero por antecipar a extensão de uma tragédiaDe maneira ágil, moradores e motoristas improvisadamente começaram a organizar o trânsito, a fim de evitar novos acidentes e facilitar a chegada do resgateEnquanto isso, passageiros que estavam nos carros que, como por milagre, sofreram apenas avarias, saíram desnorteados dos automóveis e foram confortados por desconhecidosAinda que a saída do motorista da carreta tenha sido muito conturbada, na outra ponta do percurso não se ouvia gritos, mas uma movimentação intensa de quem queria ajudar e entender os motivos – e, principalmente, erros – que levaram a um acidente de tamanha dimensão.