Prados – Tempo de esperança e salvação para o casarão símbolo de uma atividade com mais de dois séculos no Campo das Vertentes
Cardoso explicou que o comodato firmado com os proprietários, para um período de 20 anos, permitirá que a prefeitura ocupe o segundo andar do casarão, instalando ali as dependências da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura, Esportes e Lazer e o futuro Museu do Couro“No andar de baixo, continuará funcionando a selaria Enquanto durar a obra, moradores e o empreendimento vão mudar de endereço ”, diz o prefeito, que tem R$ 100 mil do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural para os primeiros serviços
Localizado na esquina da Rua Coronel José Manoel e Travessa José Marques da Costa, o imóvel foi erguido no século 18 para ser residência do padre José Maria PamplonaNa fachada, diz a secretária municipal de Turismo, Keila Maria Franco, está indicado o ano 1892, referente a uma grande reforma “O prédio é muito importante para a cidade, ocupa área estratégia, traz orgulho para a população
Em 2005, a Selaria Estrela foi considerada referência cultural de Prados, e o tombamento municipal veio em 15 de abril daquele anoA partir dessa medida, o município passou a receber o repasse do ICMS Cultural, mas o estado precário da edificação exigia mais investimentos
Ponto de parada dos tropeiros
Um dos expoentes da Estrada Real, o Arraial dos Prados surgiu no início do século 18 – a cidade está comemorando 308 anosSegundo estudos, foram os paulistas de Taubaté, da família Prado, os fundadores do povoado primitivoEm 1704, Manoel e Félix Mendes do Prado começaram ali a exploração do ouroAlém de núcleo minerador, a localidade era ponto de parada de tropeiros e bandeirantes que se dirigiam a outras regiões Essas paradas favoreceram o rápido crescimento da populaçãoO povoado teve como primeiro templo uma capela de sapé dedicada a Nossa Senhora da ConceiçãoPouco depois, um dos fundadores, já dono de grande fortuna e aliado a outros habitantes ricos, contratou artistas para erguer um novo temploAs obras só foram concluídas 50 anos depoisA localidade de Prados pertenceu a São José del-Rei, atual Tiradentes, e em 1892 recebeu o título de cidade.Com o esgotamento das jazidas de ouro, o arraial partiu para uma nova alternativa econômica, com a implantação de pequenas indústrias de artefatos de couro.
Uma viagem ao tempo da bruaca e do balaio
Entrar na selaria é conhecer um casarão mineiro desses bem antigos e cheios de históriaCom está hoje, o espaço, com mais de 20 cômodos, não inspira conforto e segurança, mas é preciso admitir que permite uma viagem pelo tempo
A selaria vem de longa data em Prados“Há mais de dois séculos”, revela Nhô Marques, que começou a conhecer os segredos dessa arte ainda bem criança, aos 7 anosDe tanto conversar com os parentes e conterrâneos mais velhos, descobriu que os tropeiros, os legendários negociantes que cruzaram terras, levavam muito mais do que alimentos, roupas e mobiliário no lombo dos burrosDentro das bolsas de couro, chamadas bruacas, dos balaios e das arcas, iam também arreios de Minas para vender em outras regiões , como GoiásFez-se assim a tradição de bons seleiros
Diz a sabedoria popular que a oportunidade é um cavalo arreado que só passa uma vez na vidaQuem consegue vê-lo e deixa de montá-lo corre o sério risco de ficar na poeiraEnxergando a ótima chance de agarrar a sorte e segurar as rédeas de um bom negócio, desde os tempos coloniais, muitos mineiros se tornaram seleiros em Prados, Conceição do Mato Dentro, na Região Central, e Araçuaí, no Vale do JequitinhonhaPortanto, as histórias que Nhô Marques ouvia quando criança eram mais do reais e hoje ganham eco nas pesquisas sobre o tema
Em Prados, as atividades que têm o couro como matéria-prima se tornaram referência econômica do município, revelando, com seus produtos, o talento de muitos artesãosEntre eles, José Marques da Costa (1899–1984), que soube recuperar um ofício do século 18 e repassá-lo, com a criação da Selaria Estrela, em 1930, para outras gerações