Jornal Estado de Minas

Vistoria do Iphan revela túnel que pode fazer parte de mina de ouro explorada no século 19

Gustavo Werneck
Maurício Geraldo Vieira, secretário de Patrimônio de Congonhas, acredita que achado tem grande valor histórico - Foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press


Congonhas
– Uma luz no início do túnelVistoria feita pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), divulgada ontem, mostra que a estrutura subterrânea encontrada no distrito de Alto Maranhão, a seis quilômetros da sede do município, pode ser de uma mina de ouro do século 19O superintendente do órgão em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, informou que o trecho de duplicação – dois quilômetros – da rodovia MG-383, entre a BR-040 e São Brás do Suaçuí, na Região Central, vai continuar embargado, até que o contratador dos serviços, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG) apresente um estudo arqueológico sobre a área de atuaçãoEle ressaltou que não foi pedido ao Iphan, segundo a legislação, uma licença para fazer os serviços.

O Ministério Público de Minas Gerais, via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, está investigando as condições do sítio arqueológico e pediu um laudo à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)O promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda considera a falta do licenciamento uma questão grave, já que a construtora continuou suas atividades numa região de importância, o que fere as leis“No distrito de Alto Maranhão há muitas catas de ouro dos séculos 18 e 19 e vestígios arqueológicos de relevânciaUm dos destaques é a Mina do Vemeeiro, que pertenceu ao Barão de ParaopebaÉ necessário um trabalho amplo para Congonhas ter a sua carta arqueológica e preservar esses bens culturais”, afirma Marcos Paulo.

A vistoria do Iphan mostrou que se trata de uma estrutura importante”, disse Leonardo, afirmando que o DER e a construtora Cowan, responsável pela obra, terão que apresentar ao órgão federal um estudo arqueológico completo“É um levantamento que não se faz rapidamenteSomente depois da avaliação pela nossa equipe é que poderemos decidir sobre a continuidade da duplicação neste trecho”, disseA obra foi paralisada pela Prefeitura de Congonhas na manhã no dia 18, depois que o secretário do Patrimônio e presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico do município, Maurício Geraldo Vieira, recebeu a denúncia do “achado com potencial de interesse histórico e de preservação para sociedade”

- Foto: Rodrigo Clemente/Esp. EM/D.A Press

De imediato, Vieira notificou a construtora para paralisação da obra no trecho entre as estacas 077 e 335 e de qualquer intervenção secundária na área definida num raio de dois quilômetros a partir da estaca 183
Pelo documento assinado, a medida deve vigorar até que especialistas e técnicos dos institutos de preservação do patrimônio histórico e artístico façam estudos necessários“Precisamos saber com profundidade a importância dessa estrutura, de cerca de 60 metros de extensão, e a data de construçãoO que parece simples erosão pode ser um patrimônio de relevância”, explica VieiraComo medida de segurança, a prefeitura mandou isolar a boca do túnel, que está aparente no meio da estrada, para evitar depredação e mesmo acidentes“Podemos ver muitas marcas de sapatos, certamente de gente querendo entrar aí”, aponta o presidente do conselhoConforme a vistoria do Iphan, a obra deixou a galeria com apenas um metro de profundidade.

O engenheiro do DER/MG Cláudio Lima do Nascimento, responsável pela fiscalização da obra, informou que foi entregue ontem ao Iphan um laudo arqueológico, feito por especialista – segundo Leonardo Barreto de Oliveira, até o fim da tarde o documento não tinha chegado às suas mãos, ressaltando, no entanto, que poderia ter sido protocoladoNascimento explicou  que, para as obras iniciadas em 5 de janeiro, foi pedido o licenciamento ambiental, embora a Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Supram) não tenho exigido o estudo arqueológico“Não nos foi solicitado o estudo arqueológico pela Supram”, disse o engenheiroA primeira impressão é de que se trata de um canal aberto mais recentemente para extração de manganês.

Curiosidade

Desde que a história do túnel veio à tona, há quase duas semanas, o distrito colonial de Alto Maranhão se tornou alvo de curiosidadeQuem passa na estrada não deixa de dar uma espiadinha
O fazendeiro Levi Vieira Pinto, de 65 anos, não se espantou muito, pois sabe que há muitos túneis na região e muitas história ligadas ao ciclo do ouro“Aqui é tão antigo quanto a sede do município”, afirmaO técnico em segurança do trabalho, Luis Felipe Lobo, de 25, acredita que “se não é uma mina de ouro, é bem antigo”.

Moradora de Alto Maranhão, a estudante de eletromecânica Crislaine Herculando Cândido diz que se sentiu curiosa para ver a mina, mas está certa de que é preciso esperar pelos laudos Ao seu lado, as amigas Jéssica Sarah, Sarah Rithiane e Cristiane Cândido, todas de 13, espicharam bem os olhos para dentro do buraco, mas não viram “nada brilhando”Também com a curiosidade aguçada, o armador Geraldo de Oliveira, de 50, passou de moto e parou: “Quem me dera achar uma pepita de ouro”, brincou.