A pouco mais de 100 quilômetros dali, no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, o servente Flávio Soares da Silva, de 36, convive há um ano com o barulho de carros, caminhões e carretasEle se instalou em uma bifurcação da estrada com a companheira e outros dois amigosO casebre de tijolos com seis metros quadrados foi ocupado depois que uma carreta desgovernada entrou na construção e a deixou em ruínas, forçando os antigos moradores a sair“A gente veio do Bairro Santa Efigênia e não tem nem camaSó colchões no chão, umas panelas e uma grelha para esquentar arroz e sopa”, contaSem controle e fiscalização eficiente, casos como o de Flávio e Rodrigo se repetem ao longo de estradas federais mineiras.
Só na BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, há 18 áreas invadidas por famílias, comerciantes e criadores de gadoNo conjunto de todas as BRs, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), pelo menos 192 locais estão ocupados irregularmente por moradias, comércios, indústrias, pastos e criadouros de animais
A ocupação clandestina das chamadas faixas de domínio – espaço mínimo livre de construções, de 15 metros a partir do acostamento – põe em risco tanto invasores como motoristasEssas áreas servem de escape, de reserva de espaço para melhorias e reparos nas rodovias e ferrovias e também auxiliam na drenagemPior: as invasões podem ser mais numerosasSegundo o Dnit, há invasões não registradas por serem muito antigas e estar em disputa judicial em processos abertos pelo extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (Dner)O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por sua vez, registra em áreas pertencentes a rodovias mineiras seis acampamentos de movimentos sociais com 422 famílias reivindicando terrasJá o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) informou ter 18 processos na Justiça sobre áreas invadidas.
Risco Autoridades alertam para o perigo dessas invasõesA porta-voz da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais, Fabrizia Nicolai, aponta que o trânsito de veículos, pessoas e animais por esses locais não sinalizados e preparados para isso tornam os trechos propensos a batidas e
O Dnit também não consegue evitar a ocupação nas áreas de domínio“Tenho uma equipe de seis pessoas e um carro velho estragadoComo vou verificar e notificar invasões nas centenas de quilômetros sob nossa jurisdição?”, desabafa, na condição de anonimato, um funcionário de uma unidade regional do DnitPor meio de nota, a assessora da autarquia em Brasília classificou a situação de Minas como “das mais complicadas do Brasil”“Para remover uma família da área de domínio, a Justiça e o Ministério Público exigem que se encontre uma outra moradia para o invasor”, informou a notaO Dnit não se pronunciou sobre a falta de estrutura das diretorias regionais.
192
É o número de invasões ao longo das BRs mineiras
35
É o total de invasões na BR-459, campeã do estado
20
É o número de BRs mineiras com invasões registradas