Jornal Estado de Minas

Belo Horizonte está bem colocada no ranking de calçadas e acessibilidade

O que nem sempre garante conforto e segurança aos moradores. Arborização é ponto alto, segundo o IBGE

Paula Sarapu Valquiria Lopes

BH lidera no ranking de quantidade de calçadas, mas Fábio Peixoto circula nas ruas, por causa dos obstáculos nos passeios - Foto: Fotos GLADYSTON RODRIGUES/EM/D. A PRESS

 

 

Quantidade não é garantia de qualidadeEssa é uma análise válida para a infraestrutura urbana no paísA presença de equipamentos e acessórios nem sempre atende bem a populaçãoPesquisa inédita divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2010, mostra a realidade da infraestrutura em torno das casas nos municípios brasileiros, de acordo com a percepção dos pesquisadoresEntre as 15 cidades com mais de um milhão de habitantes, Belo Horizonte se destaca em pavimentação e calçadas, ficando em segundo lugar nos quesitos iluminação e meio-fioNo item acessibilidade, a capital mineira está em quinto lugar e deixa a desejar no atendimento à populaçãoO censo mostra também a realidade de todos os municípios mineiros, e o Norte do estado vive situação singular, onde estão os municípios mais pobres e consequentemente com menos estrutura no entorno das casas

As rampas a deficientes físicos apresentam baixa média nacional, com percentual de 4,7Belo Horizonte, com 9,6%, está acima e fica na quinta posição, atrás de Porto Alegre, Brasília, Curitiba e Goiânia, cidades mais desenvolvidas na questão da acessibilidadeMas, para quem precisa diariamente das rampas, BH ainda tem muito a avançar“A cidade não está preparada para acolher portadores de necessidades especiais

Prefiro andar na rua a andar na calçada, já que elas são irregulares e sempre têm obstáculos”, afirma o funcionário público Fábio Augusto Peixoto, de 28 anosCadeirante devido a uma doença que paralisa o movimento das pernas, Fábio contou que já fraturou o fêmur em quatro lugares por causa de uma queda em um passeio no Centro da cidade.

Quantidade de árvores na capital é referência entre os pesquisadores do IBGE, como pode ser visto na Avenida Afonso Pena - Foto: Fotos GLADYSTON RODRIGUES/EM/D. A PRESS

As árvores estão em volta de 83% das casas da cidade, deixando BH na terceira colocação, um benefício constatado pelas amigas Marisa Chaves, de 51 anos, e Maria da Penha de Oliveira, de 48Vindas de Vitória (ES), elas afirmam que por onde passaram na capital mineira puderam comprovar que BH é uma cidade que preserva o verde“O canteiro central das avenidas é repleto de árvores, que podem ser vistas por várias partes, até onde a vista alcança”, conta Maria da Penha, enquanto admirava o Parque Municipal, no Centro, ao lado da amiga.

Quanto ao esgoto a céu aberto e acúmulo de lixo, BH enfrenta problemas também, ficando em 13º lugar em ambos os itensA situação no Bairro Tupi, na Região Norte, ilustra bem o censoNa Rua Desembargador Cândido Martins de Oliveira, moradores reclamam não só da falta de pavimentação, mas também do mau cheiro, dos insetos e do lixo que surgem com o esgoto que corre na porta das casas “A gente tem muita vontade de morar em um lugar mais organizadoQueria que o asfalto passasse na frente de casa e que o esgoto fosse canalizado”, diz a pedreira Rita de Cássia Alves de Souza, de 51, moradora da rua.

No que diz respeito aos bueiros e bocas de lobo, responsáveis por evitar alagamentos com chuva, problema constante na capital mineira, apenas 45,3% dos domicílios pesquisados têm esse tipo de equipamento no seu entornoNo Brasil, a média é de 41,5%.

Coordenadora estadual do setor de Disseminação da Informação do IBGE, a demógrafa Luciene Longo diz que Belo Horizonte tem bons resultados, mas lembra que a pesquisa só determina se há ou não intervenção urbana“A análise deve ser feita com cautela, porque a qualidade dos equipamentos não foi objeto do estudo
BH aparece em primeiro em algumas categorias e outras cidades com mais de um milhão de habitantes estão abaixo, mas isso não significa que a capital mineira tenha a melhor infraestruturaTrata apenas da existência ou não”, explica.

Para Luciene, a cidade apresenta resultados que precisam de investimento“A cidade está acima da média brasileira quanto a rampas de acessibilidade, mas menos de 10% dos domicílios estão localizados onde existe essa infraestruturaÉ menos do que se espera e do que se precisaPorto Alegre, por exemplo, está mais avançada nessa discussão, com 23%”, cita ela“Já os bueiros, com impacto direto no período de chuvas, estão em torno de menos da metade das casasIsso é preocupante, mas não significa que ter já é suficienteEles precisam estar em condições de uso, sem entupimento, e receber manutenção.”