Jornal Estado de Minas

Renovada, elegante E PERIGOSA

Série de arrombamentos faz Savassi apelar para segurança privada

Comerciantes denunciam onda de ataques a lojas após revitalização, dizem que polícia some à noite e querem contratar segurança privada. PM reconhece surto de crimes e promete reforço

- Foto: Rodrigo Clemente/Esp EM/D.A Press

Uma febre de arrombamentos se alastra pela recém-revitalizada Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde depois de mais de um ano de obras, que consumiram R$ 11,8 milhões, falta investimento em reforço na segurança do comércio e do patrimônio públicoComo resultado da onda de crimes, admitida pela própria Polícia Militar, comerciantes já articulam a contratação de seguranças para trabalhar de madrugada, quando, denunciam, falta policiamento e os ladrões “fazem a festa”.

Prova disso é que em apenas dois quarteirões da Rua Fernandes Tourinho, entre as avenidas Getúlio Vargas e Cristóvão Colombo, 10 lojas foram atacadas em menos de dois meses, conforme levantamento do Estado de MinasCinco casos ocorreram após a reinauguração da praça, no dia 10, após mais de 12 meses de obras, durante as quais os crimes contra o patrimônio aumentaram 30%, segundo os lojistas.

O diretor do conselho da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Savassi, Alessandro Runcini, não concorda com a contratação de vigilância particular e diz que quem deve cuidar da segurança é a Polícia Militar e a Guarda Municipal“Semana passada enviei ofício à PM e à guarda, justamente para melhorar o serviço de prevenção e segurança na SavassiInclusive, falamos em colocar equipamentos de vigilância na praça e ruas adjacentes, pois há câmeras do Olho Vivo, mas não em todos os lugares”, disse


Comandante da 4ª Companhia do 1º Batalhão da PM, o major Carlos Alves, responsável pela Savassi, argumenta que no primeiro trimestre do ano houve redução de 40% nos crimes contra o patrimônio na região, em comparação ao mesmo período do ano passado, mas reconhece a recente onda de arrombamentos “A partir de amanhã (hoje) vamos destinar uma viatura do programa Polícia e Família, das 20h às 6h da manhã, para patrulhar exclusivamente a SavassiTemos que migrar nosso policiamento para dar uma resposta”, disse o major, que também vai pedir apoio ao serviço de inteligência do 1º BPM para identificar suspeitos


Os arrombamentos, segundo o militar, são cometidos por moradores de rua e menores que vivem na região, todos viciados em crack ou álcoolO comandante da 4ª Companhia também é contra contratação de vigilância privada como resposta para o problema“O tiro pode sair pela culatra

Há casos de seguranças dando dicas de assaltos mais elaboradosTemos que trabalhar com os programas oficiais e fortalecer os laços com a PM”, defende o militar, citando a Rede de Comerciantes Protegidos como exemplo


A presidente da Associação dos Lojistas da Savassi (Alsa), Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, moradora da região, em que também tem loja há 22 anos, conta que nunca viu a área tão bem policiada durante o dia, mas, à noite, segundo ela, ruas e avenidas ficaram entregues a ladrões e moradores de rua“É a primeira vez que vejo 15 homens da PM fazendo o policiamento diário, mas o problema é depois das 20h, quando eles desaparecemNunca tivemos tanto arrombamento”, reclama

Rodízio de arrombamentos

Em 24 horas, duas lojas dos sócios Alencar Perdigão e Cláudia Masini foram arrombadas na SavassiNa madrugada de domingo, ladrões levaram computadores, uma caixa com dinheiro e bebidas da Livraria Quixote, na Fernandes TourinhoNa madrugada dessa segunda-feira, o ponto onde funciona o estoque da loja virtual também foi atacado, na Rua Alagoas, onde foram roubados computadores

A Quixote já foi arrombada três vezes em dois anos, segundo Alencar Perdigão“Sempre que chego para trabalhar na segunda-feira tenho notícia de lojas arrombadas

A Rua Fernandes Tourinho é pouco movimentada e muito escura à noiteVira uma cracolândia depois das 19h e não tem policiamentoÀs vezes, a gente sai da loja depois das 20h e os viciados ficam usando crack agachados entre os carrosPessoas de classe média também chegam de carro para comprar drogas com eles”, disse Alencar.


Cláudia lembra que na Semana Santa os ladrões entraram em duas noites seguidas na livraria“Entraram na Sexta-feira da Paixão pelo telhado e voltaram no sábado”, disse a sócia“Isso dá para medir o grau de insegurança na SavassiNão adianta gastar mais de R$ 10 milhões para fazer fontes luminosas se não investem na segurança”, completa Alencar.

Da loja Black Boots, também na Fernandes Tourinho, os ladrões levaram R$ 15 mil em importados no fim de março“A insegurança aumentou  depois da reforma da praçaA polícia se esqueceu completamente da gente à noite”, disse o vendedor Júlio César Vieira, de 26.


Luanda Brandão Bastos é gerente da Ronaldo Fraga e conta que os ladrões entraram em 27 de abril e retornaram em 17 de maioHá duas semanas, a loja Cellsoft Celular, na Fernandes Tourinho, também teve prejuízo“Arrancaram a grade de proteção do segundo andar e entraram pela janela”, conta a vendedora Tatiane Trindade, de 30


Kelly Viana, de 33, é dona da loja Ravik, na Antônio de Albuquerque, e levou um susto na terça-feira da semana passada, quando chegou para trabalhar e encontrou uma porta de vidro destruída“Levaram computador e pilhas de roupas, um prejuízo de R$ 4 mil”, afirmouNa madrugada seguinte, tentaram arrombar a loja ao lado“Estamos conversando com vizinhos para contratar segurança particular que trabalhe à noite”, disse a gerente, Lucy Hallak


Alessandro Runcini recomenda que os comerciantes participem das reuniões mensais da CDL, com a PM, Guarda Municipal e Regional Centro-Sul da prefeitura, e que registrem boletim de ocorrência relativos a furtos e assaltos“A PM apresentou estatística dizendo que os crimes caíram 40% no início do anoEvidentemente, ela se baseia nos boletins de ocorrência registradosEstou surpreso com tantas ocorrências recentes”, disse