Jornal Estado de Minas

Engenheiro diz que não houve descuido em acidente que matou dois em Confins

O responsável técnico pela obra em Confins, engenheiro Antônio de Pádua Drummond, visitou o local pela última vez na quinta-feira da semana passada
"O buraco estava com uns 90 centímetros de profundidade e não precisava de escora, mas o dono da construtora me telefonou e disse que foi escorado quando atingiu 2,2 metrosEu somente assino pela obraTive problemas de saúde e fiquei afastado", informou.

O engenheiro admitiu que assina várias anotações de responsabilidade técnica (ART)Ao ser informado do acidente, ele quis saber primeiro qual o nome da construtora que executava o serviço (Construvias Serviços e Conservação Ltda.) e o endereço do soterramento para admitir ser o responsável técnico"Atendo várias obras", afirmou.

A sede da Construvias fica no Bairro Vista Alegre, em Matozinhos, na Grande BHO proprietário, identificado como Wagner, não foi localizadoSegundo o engenheiro, ele passou mal quando soube do acidente e foi hospitalizado“Até marcou uma reunião comigo, mas não compareceu", disse o engenheiro.

Esse não foi o primeiro desmoronamento envolvendo obras do engenheiroEm março do ano passado, ele também era responsável técnico por um obra na Avenida Caio Martins, em Matozinhos, e um barranco desabou levando parte de uma propriedade particularNão houve feridos
Ontem, o engenheiro disse que a causa foi um vazamento em uma manilha trincada e que a rede de esgoto tinha mais de 50 anos.

Prefeitura vai abrir sindicância


A obra em Confins, segundo o procurador do Município, Flávio Toledo, obedece a todos os rigores da Lei de Licitações (nº 8.666/93)“Essa obra recebeu o mesmo tratamento de todas as outrasHouve licitação e a empresa vencedora foi a Construvias para executar o serviço de coleta de águas pluviais na Rua Olegário Lucas Evangelistas, no Bairro TavaresO contrato foi assinado em 27 de fevereiro e tinha prazo de duração até 31 de dezembro, mas ficou parada por um tempo devido às chuvas”, disse o procurador.

Ainda de acordo com ele, quando uma empresa se submete a um processo licitatório apresenta documentos comprovando idoneidade e regularidade, com responsável técnico assinando pela obra, no caso, um engenheiro“Tudo que acontece é de responsabilidade do engenheiroÉ claro que o município não se esquivaA prefeitura é solidáriaSe em algum momento a empresa se omitir das responsabilidades desse acidente, cabe ao município suprir essa omissão e depois, resguardado pelo contrato assinado, buscar o ressarcimento”, disse Toledo.

A primeira preocupação do município, segundo o procurador, foi dar suporte às famílias das vítimas e tentar o socorro emergencial dos operários“Colocamos maquinário da prefeitura ajudando nas escavações para tentar resgatar as vítimas com vidaEm um segundo momento, vamos instaurar procedimento administrativo para apurar as responsabilidades, garantindo a todos o direito de defesa”, disse Flávio Toledo
Ele adiantou que vão ouvir todo mundo e buscar testemunhas para apurar se houve acidente ou se teve algum responsável“Vai haver uma perícia técnica para saber se houve culpa de alguém”, afirmou.

A Construvias, segundo o procurador, é responsável por outras duas obras de drenagem pluvial e de esgoto nas ruas José de Oliveira e Silva, também no mesmo bairro onde houve o acidente, e a José Ribeiro Sobrinho, no CentroO pacote ficou em R$ 119,4 milA Construvias é registrada no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-MG), que se recusou a passar informações sobre a empresa e sobre o engenheiro responsável