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Estado de Minas

Viúvos e solteiros encontram nos vizinhos apoio e companhia para o dia a dia

Segundo o Censo 2010, apenas na capital, 38,5 mil pessoas com mais de 60 anos moram sozinhas.


postado em 29/04/2012 07:32 / atualizado em 29/04/2012 07:44

Solteiro convicto, Aurino Basílio Ferreira, de 76, não pensa em se mudar do Edifício Itatiaia, no Centro de BH, onde vive sozinho há 16 anos(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Solteiro convicto, Aurino Basílio Ferreira, de 76, não pensa em se mudar do Edifício Itatiaia, no Centro de BH, onde vive sozinho há 16 anos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)


Aos 89 anos, a viúva Ruth Pereira Mariano mora em seu apartamento no Bairro da Serra, na companhia de 12 bons vizinhos, muitos retratos e de seus escritos, que encheram 400 páginas do livro Mãos Entrelaçadas, contando a história de cumplicidade com o marido, o médico infectologista José Mariano. “Os porteiros do prédio e os taxistas são minhas bengalas. De vez em quando levo um agrado como um bombom e eles retribuem me trazendo o jornal ou parando o carro no passeio alto, de jeito que facilita na hora de descer”, revela a mulher decidida, que só se descobriu independente depois da morte do marido e não quis abrir mão da liberdade.

Dona Ruth, como é chamada respeitosamente pelos porteiros, é parte do universo de 38,5 mil pessoas com 60 anos ou mais que declararam morar sozinhas em Belo Horizonte, no último censo do IBGE, de 2010. Parece pequeno, mas representa 1,62% da população da capital (cerca de 2,37 milhões de pessoas) e está acima da média de idosos que vivem sós em Minas (1,59%) e no Brasil (1,41%). O levantamento incluiu respostas espontâneas e, portanto, pode ser que entre as pessoas entrevistadas existam aquelas que sejam acompanhadas de cuidadores ou de domésticas dormindo na mesma casa, mas que não foram incluídas como moradores do lar nos questionários.

Segundo a pesquisa do IBGE, as pessoas com 70 anos ou mais respondem por 20,5 mil solitários da capital mineira. Correspondem a mais que o dobro dos entrevistados entre 65 a 69 anos na mesma situação (8,5 mil) e aos idosos entre 60 a 64 anos (9,4 mil) vivendo em domicílios de caráter unipessoal. “Este é o meu primeiro imóvel. Paguei R$ 32 mil e hoje não vendo por menos de R$ 200 mil”, declara, orgulhoso, o comerciário aposentado Aurino Basílio Ferreira, de 76 anos, sendo os últimos 16 vividos no antigo Hotel Itatiaia, localizado em frente a Praça da Estação, na Região Central de BH.

Com 150 quartos a preços que variam entre R$ 638 a R$ 869 mensais, a hospedagem recebe muitos aposentados da capital que buscam o abrigo das quitinetes. O condomínio garante quarto, banheiro, cama de solteiro e guarda-roupa, mas não são oferecidos serviço de limpeza, roupa de cama, nem alimentação. Já os quartos do 7º ao 11º andar pertencem a proprietários, como Aurino. “Às segundas-feiras tem cinema de graça para idosos no Shopping Cidade e, uma vez por mês, almoço especial para a terceira idade, mas só entra a ‘velharia’ que mora nos quarteirões em volta do shopping”, revela o aposentado, bem informado sobre as atividades da região central.

Ele faz a limpeza do imóvel, impecável, e faz questão de lavar a própria roupa. “Esta camisa tem pelo menos 15 anos. Era de um amigo alfaiate com quem fui morar na Barroca. Eu ajudava a pregar botões, caseava, fazia bainhas. Meu primeiro emprego foi no Xodó, na Praça da Liberdade. Cheguei rapazinho de Carlos Chagas para trabalhar na capital e em duas semanas estava no caixa a mulher percebeu que eu sabia fazer contas de cabeça”, relembra.

“Daqui eu e meu marido só saímos para sete palmos abaixo da terra”, ironiza Clara de Oliveira Assunção, de 83 anos, que há 37 anos divide o imóvel com o marido, o fazendeiro aposentado Cassiano Resende Assunção, de 86 anos, portador do Mal de Parkinson. O casal conta com uma infraestrutura de cinco cuidadores financiados principalmente pelas cinco filhas. Cada dia da semana, uma delas desloca-se da própria residência para fazer companhia aos pais idosos.

“Minhas filhas são doidas para eu me mudar daqui. Eu poderia escolher entre os bairros Santa Tereza, Funcionários, Floresta ou Cidade Nova”, enumera Dona Clarinha, lembrando uma a uma as casas e os nomes das filhas, netos e bisnetos, retratados em uma foto de família tirada em frente ao prédio da Estação Ferroviária, na comemoração dos 60 anos de casados. “Minha família é muito unida. Só não aceito me mudar daqui”, pontua a matriarca.

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