Mais que a cara do mineiro, essas características acima mostram o estado como um pequeno retrato do Brasil“Minas Gerais, normalmente, acompanha a média nacional e é considerada uma miniatura do país”, afirma a demógrafa Luciene Longo, analista do IBGEMas o Censo 2010 também revelou características curiosas ao estado e que refletem a cultura de quem vive entre as montanhasUm dos aspectos mais evidentes se refere ao casamentoSimplesmente juntar as escovas de dente e casar “sem papel passado” é uma realidade ainda tímida em Minas
Em 10 anos, o aumento das relações consensuais em Minas foi de 37,9%, acima da média nacional de 27,1%Com isso, houve um salto de 18,8% para pouco mais de um quarto das uniõesO casal Jonathas Moreira de Carvalho, psicólogo, de 30 anos, e Lucy Rodrigues de Oliveira, estudante, de 20, ajuda a romper a tradiçãoNamorados durante seis anos e vivendo juntos há um ano no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, Jonathas e Lucy preferem manter a relação sem assinatura de papéis“O casamento é uma tradição, um valor cultural”, acredita o psicólogoLucy lembra que o que vale mesmo é o amor, independentemente de ter passado pelo cartório ou pela igreja.
Na tarde de ontem, eles tinham horário marcado num estúdio fotográfico da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo HorizonteO objetivo: documentar a primeira gravidez da jovem – Bárbara vai chegar em 4 de julhoEra nítida a felicidade dos dois ao caminhar de mãos dadas pela Rua Pernambuco, trocar beijinhos e acariciar a barriga sob a blusa vermelhaPor causa dessas uniões consensuais, Minas apresentou queda de 5,5% em relação às pessoas casadas oficialmente em 2000.
De acordo com o Censo 2010, assim como Jonathas e Lucy, 48,5% da população mineira acima de 10 anos vive os encantos e desafios da vida a dois, pouco abaixo da média nacional, de 50,1%
Filhos
Independentemente de a relação ser formal ou consensual, as famílias têm sido bastante semelhantes quando o assunto é gravidez, cada vez menos desejada pelos casaisCasada há três anos, a promotora de vendas Carla Antônia Rocha, de 28, moradora do Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul de BH, não pensa em mais filhosEla já tem a pequena Mirella, de um ano, e quer parar por aí“A condição financeira não permite, tem alimentação, escola e outros gastos”, revela a jovem mamãe, casada com um motoboy“Nós dois trabalhamos e somamos em casaHoje, uma mochila pode custar até R$ 200, já pensou se fossem quatro filhos?”, pergunta, certa de que a vida ficou complicada e os apelos do consumo são grandes.
Os dados refletem a opinião de Carla e mostram redução de 20,1% da taxa de fecundidade nos últimos 10 anos, passando de 2,38 filhos em 2000 para 1,90 em 2010Entre as mineiras, o índice caiu de 2,22 filhos em 2000 para 1,77 por mulher, 10 anos depoisDados relativos à gravidez revelam também mais mulheres se tornando mães depois dos 30 anosAlém da taxa de fecundidade, outro fator reforça a tendência de famílias com menos integrantesNa última década, houve queda de mais de 30%, no país, e 33,9%, em Minas, do número de mulheres recenseadas que tiveram filhos no ano anterior ao censoNo país, 3,2% das entrevistadas declararam ter tido filho, enquanto no estado, apenas 2,8% afirmaram ter sido mães, acima apenas do Acre, Ceará, Sergipe e Santa Catarina.
Daqui para o futuro
A população vai diminuir
A taxa de fecundidade brasileira apresentou queda de 20,1% na última década, passando de 2,38 filhos por mulher em 2000 para 1,90, conforme mostraram dados do Censo 2010, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)Em Minas Gerais, a queda foi ainda maior, de 2,22 filhos para 1,77De acordo com a demógrafa Luciene Longo, analista do IBGE, o índice está abaixo do nível de reposição (2,1 filhos), que garante a substituição das gerações“Isso indica que se mantido esse ritmo, daqui a 50 anos vamos ver a população diminuir”, afirma.