Em 10 anos, a variação foi de apenas 1,3 ponto percentual, o que, na avaliação da professora do Departamento de Ciência Política e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, demonstra uma segregação ocupacional definida pelo gêneroSegundo ela, embora as mulheres tenham melhorado o nível de instrução nos últimos anos, esse aperfeiçoamento não foi acompanhado de incremento proporcional na remuneração.
Esse é o cenário encontrado no mercado por mineiras como a demonstradora de produtos de beleza Débora Viana, de 23 anos, moradora de Contagem, na Grande BHCasada há apenas oito dias – “Ainda estou em lua de mel”, brinca –, ela sabe que precisa continuar trabalhando para ajudar o marido“Sozinho, ele não daria conta de manter a casaJá havíamos combinado dividir as despesas”, contouTrabalhando desde os 18 anos e com o segundo grau completo, Débora pretende estudar mais e ter filhos“Mas, criança, só daqui a uns três anos”, afirma, lembrando que a vida está difícil para as famílias
Posição
Com a melhora no rendimento das mineiras na última década, Minas passou de 15º para 13º lugar no ranking nacionalMas elas ainda ganham menos do que as mulheres de Goiás, Roraima, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Amapá, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal
A demógrafa e coordenadora da Supervisão de Divulgação do IBGE em Minas Gerais, Luciene Longo, atribui a diferença aos salários praticados no interior de Minas, menores que os da capital, e às remunerações de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro“O salário das mulheres no interior puxa para baixoRio de Janeiro e São Paulo puxam a média brasileira para cimaEssas duas questões podem ter influenciado para que a média mineira fosse menor”, diz.
Na média nacional, as mulheres tiveram ganho real de 13,5% nos rendimentos e os homens, de 4,1%O salário médio delas variou de R$ 982 para R$ 1.115A diferença entre ganho real em nível nacional (13,5%) e o crescimento em termos nominais em Minas (127,2%) se deve a variáveis diferentes na análiseQuando se avalia os ganhos em termos nominais não se leva em conta a correção inflacionária no período dos 10 anos, considerando-se apenas o valor e não o que ele representa em termos reaisO IBGE não informou os dados referentes a Minas Gerais em ganhos reais.
O rendimento das mulheres acompanha outros indicadores de melhoria no mercado de trabalho brasileiroOs dados demonstram redução na taxa média de desemprego, que passou de 15,3% em 2000 para 7,6% em 2010Minas Gerais seguiu a tendência nacional
Palavra de especialista
Marlise Matos - coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher UFMG
A segregação permanece
É a primeira vez na história que nosso quadro de desigualdade social arraigado se alteraAs mulheres são cerca de 48% da população economicamente ativa no BrasilNo entanto, vão para postos de trabalhos que socialmente são legitimados como femininos, profissões ligadas ao mundo do cuidado, que têm salários menores em comparação com ocupações masculinasA melhoria na remuneração feminina é reflexo da maior escolarizaçãoA relação mercado de trabalho e renda está ligada à escolarizaçãoAs mulheres superaram a defasagem educacional em relação aos homens, no entanto, proporcionalmente ainda tem remunerações menoresÉ um traço do BrasilEm qualquer país, maior escolaridade aufere maior rendaMesmo diante do acesso maciço das mulheres aos bancos escolares, a segregação ocupacional ainda existe.