Jornal Estado de Minas

Depois de oito dias refém, adolescente ajuda polícia a procurar sequestrador

A jovem festeja liberdade e vai a rádio para agradecer esforço da polícia e apoio da cidade

Guilherme Paranaiba

Antes do almoço com os parentes, a estudante acompanhou equipe de policiais na busca pelo local onde sequestrador a manteve presa - Foto: Marcos Michelin/EM DA Press

São Roque de Minas – No cardápio, feijoada, do jeito que foi prometido pela mãeO domingo de Páscoa da adolescente Sarita Marques Batista, 14 anos, foi com a família, em São Roque de Minas, Centro-Oeste do estado, da maneira que todos os parentes e a cidade esperavamDepois de oito dias em poder do sequestrador Lindair Marques, 32, a menina voltou ao convívio da família, mas antes acompanhou os policiais da Delegacia Antissequestro de Belo Horizonte em uma busca nas proximidades da ponte de ferro onde foi libertada, a 2,5 quilômetros da sede do municípioO objetivo era localizar o local onde a menina foi mantida em cativeiro.

Os agentes percorreram um extenso trecho com a garota, mas não tiveram êxito“Provavelmente, Lindair deu várias voltas com ela antes de entregá-la, para não deixar claro o lugar onde passaram esses dias”, diz o delegado Hugo Malhano, coordenador da equipe que trabalha no casoA polícia também procurou pistas de Lindair em outras áreas do Parque Nacional da Serra da Canastra, mas sem suecesso“Os locais das buscas são de mata fechada e de difícil acessoSe uma pessoa tem a real intenção de se esconder, fica complicado o trabalho de achá-la”, afirma o delegadoAinda segundo o policial, à medida que as investigações forem avançando e aparecerem indícios fortes da presença de Lindair, o helicóptero da corporação poderá ser usado novamente para ajudar os agentes.

AGRADECIMENTO

No início da noite, Sarita compareceu à Rádio Chapadão FM, na companhia do pai, o ex-prefeito Antônio Batista Sobrinho, e da mãe, Luzair Marques, para agradecer à população de São Roque de Minas e à polícia pelo trabalho que culminou com sua libertaçãoNa entrevista, deu mais detalhes do período que passou na mata“Fiquei em uma barraca que tinha colchão, tinha cobertor e não passava frio nem fome”, contou
Sobre as ameaças e agressões de Lindair durante o sequestro, disse que isso não ocorreu“Não senti medo porque ele não fez nada comigo e guardou o revólver que carregavaNão chegou a me amarrar”, disse, desmentindo a informação de que ficava amarrada quando Lindair deixava o cativeiro para buscar alimentos.

Acrescentou que se alimentava de leite, pão, bolacha, arroz e carne“Tinha um fogãozinho e ele mesmo fazia as coisas”, contouNão soube dizer com certeza se os alimentos já estavam no local ou se Lindair chegava a buscar mais para a sobrevivência de ambosContou que o sequestrador permitia que ela saísse da barraca, mas por pouco tempo e sem caminhar“Não tinha ninguém lá perto e à noite só ouvíamos a rádio mesmoFiquei com muita saudade pelo tempo que estive longe de casa”.

Sobre o comportamento do homem que a retirou da casa dos pais sob a ameaça de um revólver, Sarita disse que ele se arrependeu do crime“Ele falava a todo momento que estava arrependido e que não deveria ter feito issoFalava também que sentia muita saudade dos filhos”
Ela afirmou que cumpriu a promessa que fez a Lindair e entregou ovos de Páscoa aos três filhos deleConcluiu afirmando que não sentia mágoa e que perdoava seu sequestrador“Eu o desculpo, já que ele se arrependeu do que fezÉ isso que importa”.

O pai da jovem, que no sábado, horas antes de a filha ser resgatada, gravou um apelo transmitido pela rádio, na tentativa de convencer Lindair a libertá-la, falou que seu maior temor era a morte de Sarita, por causa do histórico de violência na família do foragido, que teve dois irmãos que mataram as mulheres e depois se suicidaram“Toda a população sabe dos casos da família deleEle não é um criminoso profissional, mas um psicopata, e por isso tive muito medo”, afirmou.

OUTRA PROMESSA

 

Depois de soltar Sarita, o sequestrador entrou em contato com a advogada dele, Ana Maria de Miranda, e prometeu se entregar na manhã de ontem, o que não ocorreuO radialista Jardel Morais, um dos interlocutores de Lindair com a polícia, afirmou que o que pesou para a libertação foi a gravação feita pelos filhos do lavrador, pedindo que o pai entregasse Sarita o quanto antes“Em uma das ligações eu exibi o áudio gravado e ele começou a chorar muitoProvavelmente ficou sensibilizado e resolveu soltá-la”, disse Jardel

 

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