Nesta semana o Ministério do Planejamento divulgou apresentação preparada pela ministra Miriam Belchior para investidores nova-iorquinos interessados no BrasilEntre os projetos que pretendem atrair dólares destacam-se as concessões das BRs 040 e 116 em Minas Gerais, programadas para o segundo semestreO que não foi dito aos norte-americanos é que os projetos estão atolados em questionamentos desde 2008, quando foram apresentados ao Tribunal de Contas da União (TCU) e depois interrompidos.
Enquanto o impasse persiste, a necessidade de obras é grandeAs estradas estão entre as três mais mortais de Minas Gerias, perdendo apenas para a BR-381, na saída para Governador Valadares, conhecida como Rodovia da MorteApenas na 040 e somente em um acidente no trecho não duplicado, em Felixlândia, morreram 15 passageiros de um ônibus que bateu em uma carretaNo ano passado, os dois acidentes com maior número de vítimas no estado ocorreram na mesma estrada, ambos na Região Central: o primeiro, com sete mortos, em Cristiano Otoni, no sentido Rio de Janeiro, e o segundo, com cinco, em Três Marias, a caminho de Brasília.
De acordo com a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, além das BRs 040 e 116, o mercado tem demonstrado interesse em participar de concorrências para concessões da BR-381, entre a capital e Governador Valadares, da BR-262, de João Monlevade à divisa com o Espírito Santo, e da BR-050, no Triângulo, como uma continuação da Rodovia Anhanguera, que vem de São Paulo“Os estudos defasados e os projetos acabam inviabilizando a aprovação pelos órgãos fiscais”, indicou a associação
Inconsistências comuns barraram por anos no TCU os projetos de concessão das BRs 040 e 116Ambos tinham estudos de viabilidade econômica defasados, com atraso de 24 meses, segundo os processosO Relatório de Estudos de Tráfego Preliminares foi baseado em pesquisa realizada por apenas sete dias seguidos, prazo curto para uma simulação que considere vários períodos.
Os 816,7 quilômetros com privatização prevista na BR-116 e os 937 da BR-040 apresentaram inconsistências também no sistema de cálculo da tarifa básica de pedágio, inicialmente de R$ 5,48 e de R$ 2,60, respectivamenteUma reformulação foi feita pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), baixou o preço para R$ 5,43 e R$ 2,47, mas mais uma vez as contas não foram aprovadasO TCU determinou que na BR-040, por exemplo, a cobrança não poderia exceder R$ 2,20.
Técnicos do tribunal não aprovaram ainda os custos apresentados para ampliar e adequar as duas vias para a concessãoNão passaram pelo crivo do tribunal as obras de terraplanagem, obras de arte especiais, sistema de drenagem, adequação de sinalização dos padrões de segurança, faixa de domínio e iluminação “A resposta da ANTT não contemplou os detalhes, critérios ou justificativas possíveis de demonstrar a estimativa de recursos prevista.” No primeiro ano seriam investidos para a BR-040 R$ 200,46 milhões, e R$ 100,4 milhões para a 116.
A ANTT informou que aguarda decisão do TCU sobre os processosO tribunal informou que técnicos da agência estão trabalhando com os da corte para suprir as inconsistências
Ponto crítico
A privatização é solução para as estradas?
José Natan Emídio Neto
Sindicato da União Brasileira dos Caminhoneiros
EM TERMOS
Pedágio não pode passar de R$ 1,50 por eixo, porque pesa demais nos custos e tira o lucro dos caminhoneirosDo Tocantins para baixo, o Brasil aguenta pagar pedágio em um nível desses, pois compensa e pode melhorar as condições de rodagemAgora, aqui em Minas Gerais só o pedágio da Fernão Dias (BR-381) é que vale a penaNos outros, o prejuízo é muito grandeE há casos em que nem o pedágio ajudaPara a Rodovia da Morte (BR-381), por exemplo, não dá para esperar duplicação e pedágioAli tem de ser uma recuperação rápida.
Moacyr Duarte
Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias
SIM
O preço compensaÉ calculado sobre o movimento e é assim em todo o mundoAs pessoas sentem esse impacto onde não havia pedágio, mas depois percebem que vale a penaOs caminhoneiros desgastam menos os pneus, o combustível rende mais, o tempo de viagem é menor e a segurança de uma via ampliada e bem sinalizada é muito melhorÉ uma questão de foco: como cada empresa cuida da sua rodovia, pode fazer isso de forma muito melhorO Estado não tem essa flexibilidade, não garante agilidade de socorros médico e mecânico