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Estado de Minas

Cheia cria povoado fantasma

Maioria dos moradores abandonou comunidade varrida pelo Rio Xopotó e poucas famílias que resistem enfrentam incerteza em barracas. Nas cidades mais afetadas, comércio sofre estagnação


postado em 01/04/2012 07:30 / atualizado em 01/04/2012 07:32

Além Paraíba e Guidoval – “Aqui era a casa do meu filho. Ali, a da minha filha. Esta era a escola onde eu dava aula de catequese. Fazíamos as coroações no mês de Maria e, para montar o altar, a gente usava estas cadeiras, que agora estão no meio do entulho. Foi todo mundo embora. É muita recordação, muita coisa boa. Era uma só família.” Maria dos Anjos Antero Moreira, de 56 anos, não consegue conter as lágrimas ao falar de um passado tão recente na comunidade onde nasceu. Em 9 de janeiro, a força das águas do Rio Xopotó transformou Vargem Alegre, na área rural de Guidoval, na Zona da Mata, a cerca de 300 quilômetros da capital, em mar. Quase três meses depois, o lugarejo virou um deserto de entulho, destroços e lembranças. A destruição levou 31 das 43 famílias a se mudar da localidade, uma das mais atingidas na cidade.

Com grande parte das estradas recuperadas, muitos foram para as cidades vizinhas de Rodeiro ou Ubá, mas é na casa de Dos Anjos, líder comunitária, onde permanece a maior parte das famílias que ficaram em Vargem Alegre, ainda com futuro incerto. Em seu quintal, ficam quatro barracas doadas pela organização não governamental inglesa ShelterBox e distribuídas pelo Rotary Club. Com duração de dois anos e cerca de 20 metros quadrados, as tendas servem de moradia temporária para as famílias de três filhos de Dos Anjos e de uma amiga, num total de 13 pessoas. “No dia da chuva, cheguei a abrigar 10 famílias aqui. Muitos foram embora e outros voltaram para casa, mesmo em situação de risco”, conta.

Uma das filhas, Adriana de Fátima Moreira, de 34, que, agora, sem emprego, tenta ganhar a vida com faxina, torce por uma definição. “É gostoso dormir em barraca, mas não estamos de férias. Muita gente saiu daqui e foi para outras cidades. Só que, sem emprego e sem nada, preferimos não arriscar e esperar as casas populares que estão sendo prometidas pela prefeitura”, diz Adriana, que divide a barraca com duas filhas e o marido. O vendedor de picolé Paulo Sérgio Rodrigues, de 43, tem a mesma expectativa. De volta à casa, em área de risco, ele torce para conseguir outra moradia. “Tive que vender muito picolé para construir isto aqui. Sei que é perigoso, mas ficar na casa dos outros é muito ruim”, conta, em meio aos escombros que restaram de onde morava a mãe, às margens do Rio Xopotó.

TRAILER Na área urbana de Guidoval, Luciana Silva, de 25, passa por angústia semelhante. Ela, o marido, Nilton, de 34, e o filho Samuel, de 5, saíram com a roupa do corpo da enchente de 2 de janeiro. As ferragens do carro da família foram encontradas dias depois. “Vendemos por R$ 1,2 mil para um ferro-velho e compramos um trailer de sanduíche para morar. Consegui água e eletricidade do vizinho. À noite, se queremos ir ao banheiro, temos que dar nosso jeito no mato mesmo”, conta em frente à nova moradia, estacionada em um pasto. Uma das dificuldades da família é que só podem receber o benefício do aluguel social, concedido pelas prefeituras por meio de recurso do governo federal, pessoas que perderam seus imóveis. “Morávamos de aluguel. Mas o problema é que a fábrica de móveis onde eu trabalhava também foi destruída e fui dispensada. Agora, estou fazendo faxina e ganho R$ 120 por mês. Com tanta casa destruída, também ficou difícil alugar alguma coisa”, desabafa.


ENQUANTO ISSO...
...cruzes lembram 22 mortos no rio
É raro ver alguém perambulando por Jamarapá. O bairro de Sapucaia (RJ), às margens do Rio Paraíba, na divisa com Minas, virou agora reduto de casas abandonadas em torno de uma montanha de lama. Sobre o barro, 22 cruzes de isopor. Homenagem aos mortos no deslizamento da madrugada de 9 de janeiro, feita por amigos que, quase três meses depois da tragédia, longe da antiga vizinhança, tentam recomeçar a vida na casa de parentes com a ajuda do aluguel social ou em barracas de 20 metros quadrados. Doadas pela organização não governamental inglesa ShelterBox, as tendas já foram 43. Agora, somam 20 abrigos para cerca de 100 pessoas à espera de dias melhores.


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