Seja por erros dos motoristas, seja por falha na infraestrutura, não é difícil prever que os problemas que travam ruas e avenidas em Belo Horizonte só tendem a piorarEm um cenário em que a frota da capital mineira cresce em ritmo acelerado, tendo praticamente dobrado nos últimos 10 anos, a falta de educação e de soluções de gerenciamento aponta para um futuro sombrioA quantidade de veículos saltou de 742.115 em janeiro de 2002 para 1.442.566 no primeiro mês deste ano (aumento de 94,4%)
Um motivo a mais para condenar os problemas causados pela simples má educação“Esse local (a entrada do Bairro Buritis) é um dos exemplos de onde o motorista passa por cima de tudo para não ficar na filaTalvez uma alteração geométrica pudesse impedir a migração de faixasMas o principal fator é a falta de respeito”, diz o chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Ramos Nunes.
A ânsia de tentar levar vantagem tem reflexos por toda a cidade quando ocorre nas princiais vias do entorno da rodoviária, ponto onde os especialistas são unânimes ao condenar os abusos ao volantePor volta das 17h30 começa o inferno para quem precisa deixar a Avenida Antônio Carlos e cruzar a região da rodoviária pelo Viaduto B do Complexo da LagoinhaA via elevada só tem duas pistasComo as duas fileiras de veículos que tentam acessar o elevado atingem rapidamente a Antônio Carlos, alguns condutores forçam a passagem para que dois caibam em uma faixa
Um pouco antes, caminhões e carros que deixam a Rua Além Paraíba, no Bonfim, Noroeste de BH, ficam atravessados, bloqueando a via, para acessar, cinco pistas adiante, a entrada para a Avenida Nossa Senhora de FátimaDo outro lado do viaduto, já no Hipercentro, ainda nas proximidades do terminal rodoviário, o problema são os carros que invadem as pistas exclusivas para ônibus das avenidas Santos Dumont e ParanáComo os motoristas de ônibus não conseguem entrar em suas faixas, travam o trânsito, com reflexos nas avenidas dos Andradas e do ContornoQuem espera para embarcar também sai prejudicado, pois muitos coletivos passam direto, já que os carros fecham o acesso aos pontosNessas duas áreas, para o professor da UFMG Nilson Tadeu Nunes, falta fiscalização.
O cruzamento das avenidas Silviano Brandão e Cristiano Machado é apontado pelo consultor de engenharia de tráfego Frederico Rodrigues como problemático principalmente pela ação desrespeitosa dos motoristasQuem dirige pela Silviano Brandão em direção à Cristiano Machado e quer entrar à esquerda acaba parando na área de cruzamento, bloqueando a faixa exclusiva dos ônibus“Fazendo isso, os condutores prejudicam a vida de 55% da população de BH, que passa pela Cristiano Machado nos horários de picoSolução ali, só com fiscalização”, avalia o especialista em transporte e trânsito.
O quarto ponto levantado é o cruzamento das avenidas Santa Rosa e Antônio Carlos, no Bairro São Luiz, onde os motoristas avançam o sinal e fecham a interseção das duas vias no sentido aeroporto da PampulhaAs consequências são as colisões e os congestionamentos gigantes com o cruzamento completamente paralisado“Ali, um detetor de avanço de sinal resolveria”, sugere o professor da UFMG, que como os demais especialistas condena também as conhecidas filas duplas nas portas de escolas, comuns a todas as regiões da cidade.
Palavra de especialista
Congestionamento de desrespeito
“Em Belo Horizonte, o motorista em geral se comporta de maneira extremamente individualEle não sabe dirigir em sociedadeO condutor não respeita a delimitação de faixas, toma as decisões de conversões e mudança de pista na última
hora, dirige muito devagar para procurar estacionamento e não tem o menor pudor de parar em fila dupla.”
Paulo Tarso Vilela de Resende
NÚCLEO DE LOGÍSTICA DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL