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Estado de Minas

Justiça intervém e casarão histórico será vigiado em Belo Vale

Por determinação da Justiça, Iepha contrata seguranças para evitar depredação e furto em edificação colonial, em Belo Vale. Ministério Público pede restauração e plano de prevenção


postado em 24/03/2012 06:00 / atualizado em 24/03/2012 07:06

Cenário de filme, fazenda colonial, que teve 900 escravos, foi responsável pelo abastecimento de alimentos de Ouro Preto, capital da província(foto: Fotos: Cristina Horta/EM/D.A Press - 17/2/12)
Cenário de filme, fazenda colonial, que teve 900 escravos, foi responsável pelo abastecimento de alimentos de Ouro Preto, capital da província (foto: Fotos: Cristina Horta/EM/D.A Press - 17/2/12)
 

 

Um dos mais importantes patrimônios culturais de Minas ganha, enfim, segurança para protegê-lo de arrombamento, furtos e depredações. O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), vinculado à Secretaria de Estado da Cultura, contratou quatro vigias para trabalhar na Fazenda Boa Esperança, do século 18, localizada em Belo Vale, na Região Central de Minas. A iniciativa foi tomada depois da ação proposta pelo Ministério Público estadual, que gerou liminar concedida pela juíza da comarca, Flávia Generoso de Mattos.

Na ação, a promotora de Justiça Fernanda Couto Garcia pediu que o bem, de propriedade do Iepha e tombado também pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), fizesse a implantação e manutenção permanente e ininterrupta de vigilância patrimonial, com vigias preferencialmente armados, tanto na sede da fazenda como no entorno. O MPE entendeu que a falta de vigilância no imóvel, “que está abandonado desde que o antigos zeladores se aposentaram no final de 2011”, expõe o patrimônio a risco iminente de danos, tais como furtos, depredações, incêndios. Além do pedido de liminar, a instituição requereu que os réus elaborem projeto de restauração integral da sede da fazenda e executem plano de prevenção a furtos e roubos.

Em 18 de fevereiro, o Estado de Minas mostrou a situação do casarão construído no fim do século 18, com influências do Norte de Portugal, e inaugurado em 1822. A edificação colonial estava desde dezembro sem funcionário para tomar conta das dependências, já que o vigia havia se aposentado e não foi providenciado um substituto. Na época, vizinhos se mostraram preocupados com a situação. O funcionário aposentado Antônio Gonçalves de Oliveira, o Toninho, que trabalhou quase quatro décadas no local, morava a 600 metros do casarão e passava o dia lá. “Ele e a mulher sempre retornavam à noite para ver se estava tudo bem. Toninho limpava o pátio e ela fazia faxina na casa e na capela. Tenho muito medo de assalto. Quando meu marido sai de casa e fico sozinha, tranco tudo”, lamentou a moradora mais próxima, a dona de casa Zélia Teixeira Mendonça, de 66 anos.

"Tenho muito medo de assalto. Quando meu marido sai de casa e fico sozinha, tranco tudo" - Zélia Teixeira Mendonça, dona de casa, vizinha da fazenda (foto: Fotos: Cristina Horta/EM/D.A Press - 17/2/12)
Quem chega à fazenda, a seis quilômetros do Centro de Belo Vale, não deixa de se impressionar com a grandiosidade do monumento histórico e paisagístico, considerado palácio rural desde os tempos do barão de Paraopeba (coronel Romualdo José Monteiro de Barros, 1773–1855), senhor de mais de 900 escravos que trabalhavam na mineração de ouro e agricultura. Logo na entrada, no meio do extenso pátio gramado, duas frondosas sapucaias dão boas-vindas aos visitantes, convidando ao silêncio, comunhão com a natureza e contemplação do engenho de pedra (paiol) e da bela capela de Nosso Senhor dos Passos, na varanda comprida. A varanda dos fundos tem 36 metros de comprimento e 2,5m de largura e esteiras coloridas de taquara no forro. O sobrado de 45 portas do sobrado hospedou dom Pedro II e chamam atenção os muxarabis, janelas em treliça azul que permitem à pessoa que está dentro da casa ver a parte externa sem ser vista.

De acordo com a direção do Iepha, uma equipe técnica esteve no local, esta semana, para fazer uma limpeza das instalações. Além disso, foi pedido à Prefeitura de Belo Vale que faça a capina no terreno. A expectativa é de que, em breve, as visitas monitoradas sejam retomadas.

Filme e livro

Cenário do filme Vinho de Rosas, da cineasta mineira Elza Cataldo, a história da Boa Esperança também foi contada em livro do jornalista Tarcísio Martins, nascido em Belo Vale. A obra conta que “a área original, situada na antiga região do Rio Paraopeba, era formada por 25 mil alqueires e compreendia dezenas de fazendas com prósperas minas. Anos mais tarde, com o esgotamento do ouro, as fazendas dos Monteiro de Barros passaram a trabalhar o campo para cultivo da terra. O que se produzia na Boa Esperança, além de atender ao consumo interno, abastecia a capital da Província de Minas, Ouro Preto. Os bons resultados do latifúndio proporcionaram ao lendário Barão de Paraopeba poder econômico e títulos”.

A fazenda adquiriu papel pioneiro na indústria metalúrgica do país, com o desenvolvimento de atividades precursoras da tecnologia industrial siderúrgica. “No tradicional casarão, foram tomadas importantes decisões políticas, além de ser residência de um presidente da província de Minas (1850), o Barão de Paraopeba”, escreveu Martins.

(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 17/7/07)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 17/7/07)

Saiba mais: capela é obra prima

A capela da Fazenda Boa Esperança atrai todos os olhares pela seu riqueza e aspecto singelo, trazendo à tona um costume dos tempos coloniais. Devido ao isolamento das fazendas nos séculos 18 e 19, então distantes das igrejas dos povoados, os proprietários católicos se sentiam na obrigação de construir ermidas dentro de suas propriedades. No interior do templo, se encontram os trabalhos de talha dourada e painéis atribuídos a Manoel da Costa Athayde, o mestre Athayde (1762-1830), expoente do barroco mineiro, e retábulo, ao que tudo indica, esculpido pelo português Francisco Vieira Servas (1720-1811). Depois de se tornar propriedade do Iepha, a fazenda passou por três períodos de recuperação – a primeira de 1976 a 1979, a segunda em 1998 e em 2007.
 


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