Em Belo Horizonte, no Bairro Etelvina Carneiro, na Região Norte, há a Rua Garota de Ipanema, em homenagem à inspiração de Vinicius e TomE há, na Região Noroeste, o Bairro Ipanema, espremido entre duas movimentadas avenidas, a Brigadeiro Eduardo Gomes e a Abílio MachadoÉ lá que vamos atrás das garotas do Ipanema? São tão inspiradoras quanto foi Helô Pinheiro? “NãoEnquanto as garotas de Ipanema, no Rio, vão à praia, as daqui trabalham”, diz Daiane Stefany, de 16 anos, caixa de um sacolão“Mas tenho orgulho do bairro no qual nasci”, garante
O sacolão fica na Brigadeiro Eduardo Gomes, onde os limites dos bairro Ipanema e Glória se confundem “Aqui é tranquiloNão temos muita diversão, mas nos fins de semanas nos reunimos em casas de amigos e nos divertimos”, acrescenta a garota
“Eu, se tivesse filhos, não os deixaria andando por aí”, diz Pamela Pereira, de 20 anos, casadaPor quê? “Nasci aquiHá assaltos, tráfico de drogas e o policiamento deixa a desejar.” E ela fala com propriedade, porque passa os fins de semana fora, visitando o marido na prisãoEle foi condenado por rouboAs garotas do Ipanema são do tempo do funk, do pagode, do sertanejoMal sabem balbuciar a canção de Vinicius e Jobim
Carência de lazer
O bairro da Região Noroeste, como tantos outros da periferia, é carente de áreas de lazer“Realmente, aqui não temos onde levar os filhos”, afirma o comerciante JamilPor falta de opção, a estudante de direito Stephane Lopes, de 20, solteira, passa os fins de semana estudando“Não sou muito baladeiraÀs vezes, nos reunimos em casas de amigos e, raramente, vou a uma danceteria em um bairro perto daqui com os amigos.” Acha o bairro seguro, um pouco mais agitado dos seus tempos de criança, mas ‘urbanamente’ melhoradoAs ruas são limpas, todos têm água encanada e esgoto
Até quem não mora lá gostaFernanda Dias, de 30, solteira, funcionária de uma loja de informática no bairro, não tem críticas severas, mesmo depois de ter sido vítima no trabalho de um assalto a mão armada“Estamos aqui há um ano e fomos vítimas da violência uma vezA polícia roda muito, embora haja dias em que as rondas sejam escassasMesmo assim, gosto do Ipanema, mesmo não sendo daqui.”
Se não reclama tanto a segurança, Regina de Fátima, de 52, que abriu um bar e restaurante na garagem de casa, pede mais apoio da polícia“Já fui assaltada duas vezes”, dizE ela, se consegue boa freguesia à noite, não diz o mesmo no almoçoOntem, entre as 13h e as 14h, não havia ninguém provando de sua cheirosa carne de panela
O bairro é mais seguro nas laterais limitadas pelas duas grandes avenidas, por causa da intensidade comercial“A lanchonete do lado já foi assaltada algumas vezes, mas nunca tive problema”, diz César Augusto Ferreira, de 45, dono de uma loja de confecção de adesivos e banners na Abílio MachadoOutro problema no Ipanema está na identificação das ruasNão há, em todas as esquinas, placas indicativasA antiga Rua Roma mantém a placa, mesmo tendo sido rebatizada como Maria Syllena AndreazziÉ lá que, no alto de um poste de madeira, um barulhento pica-pau cava um buraco para lhe servir de ninhoSe não há gaivota no Ipanema de BH, assim como não há uma musa inspiradora dando sopa em suas ruas, há o assanhado pica-pau e garotas que se orgulham do bairroAh, é a beleza que existe…