Jornal Estado de Minas

Até palavrões em alto e bom som atrapalham o sono em BH

Na Cachoeirinha, peladeiros que jogam bola até tarde perturbam o sono da vizinhança. Na Cidade Nova, há uma série de causas para o barulho que atormenta idosa de 83 anos

Mateus Parreiras

Passa das 23h, mas o jogo continua acirrado na quadra no Bairro Cachoeirinha, Região Nordeste de Belo Horizonte

A bola corre na grama sintética e um batalhão de homens em uniformes percorre apressado o campo sob os berros de meia dúzia de espectadores e as instruções recheadas de palavrões dos goleirosO clima de pelada de fim de expediente invade a casa do empresário Hayram Ávila, de 34 anos, pai de dois filhos pequenos, como se os jogadores estivessem na salaPara que os meninos não ouçam as palavras inapropriadas, a solução é fechar as janelas, ligar o ventilador de teto e deixar a televisão no máximo“Parece que os jogadores estão aqui dentroAí fica difícil deixar os meninos ouvirem esse palavreado de baixo calãoJá reclamamosA síndica já falou, mas não mudou nada”, desabafa o empresário.

Veja o mapa do barulho em BH



Do lado de fora da casa, os ruídos produzidos na pelada chegam a 80,9 decibéis, o que equivale ao som de um motor de aspirador de pó sugando poeira ou a uma furadeira de impacto perfurando uma parede de concretoMesmo com o muro alto que separa a casa de Hayram da quadra de futebol, o nível de poluição sonora que bate à janela é alto: 70 decibéis – o mesmo provocado numa escavação de solo com uso de pá e picareta“Quando as luzes da quadra se apagam, lá pela meia-noite, e a gente acha que finalmente vai ter sossego, o barulho vem da Avenida Bernardo Guimarães e da fábrica que fica ao lado aqui de casa”, afirmaA região onde ele mora, a Nordeste, é a segunda em volume de reclamações no Disque-Sossego, com 1.104 ligações, perdendo apenas para a Centro-Sul, com 1.937.

Também na Região Nordeste, no Bairro Cidade Nova, a aposentada Aramina Duarte Lages, de 83, foi cercada por todos os lados por fontes de poluição sonora

Não bastasse o intenso movimento da Avenida Cristiano Machado, ligação da Linha Verde com o Centro da capital, ela ainda é importunada pelo comportamento de jovens que bebem e ouvem música em volume alto num posto de gasolina vizinhoDo outro lado, há uma casa de festas e recepçõesQuinta-feira, além de tudo, ela ainda foi castigada pelos ruídos incessantes de uma serra e as marteladas de uma obra na Feira dos Produtores“A gente perde o sonoAcorda assustada e depois passa o dia seguinte com o corpo ruimJá chamamos a prefeitura, a polícia, mas pouco é feito”, afirma.

Uma medição feita do lado de fora da residência de dona Aramina, registrou a média de 71,2 decibéisAté as 23h30, a serra e as marteladas continuaram, produzindo picos de 85 decibéis fora do edifício, o que equivale a uma esmerilhadeira limando metal“A barulheira aqui vai às vezes até as 2hNinguém respeitaOs carros saem cantando pneus
Com música alta, gritam uns com os outros no posto”, reclama a aposentada.

SEM JUSTIFICATIVA
A gerência da Feira dos Produtores informou que o local passa por reformas e que não há permissão para que o trabalho passe das 22hSegundo a administração, a segurança será notificada e as obras até tarde da noite não voltarão a ocorrerA reportagem não conseguiu encontrar ninguém que se responsabilizasse pela quadra esportiva e justificasse o barulho das peladas de futebol até tão tarde.

Na Região Centro-Sul as medições na Avenida Prudente de Morais e na Rua Sergipe, na Savassi, apresentaram média inferior a 80 decibéis, apesar da grande frequência nos baresUm dos motivos é que os locais mais densamente habitados, onde as medições foram feitas, não ficam próximos do agitoDe qualquer forma, as buzinas dos carros e a aceleração de motos desreguladas geraram picos altos, de 83,3 e de 86 decibéis.