Jornal Estado de Minas

Há violência mesmo onde há locais para internação

Em Sete Lagoas e Divinópolis, que contam com centros socioeducativos, ação de menores também preocupa

Simone Lima Marcos Avellar

Cidades que dispõem de centros de internação de menores não escaparam do aumento da violência

Em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, apesar de ter capacidade para atender 48 adolescentes infratores, o centro socioeducativo abriga 60A superlotação é atribuída tanto ao número maior de menores envolvidos em infrações quanto pela falta de vagasAlém de atender jovens do município, o centro de internação de Divinópolis precisa acolher adolescentes da região e de outras cidades, como Passos, no Sul do estado.

Dos adolescentes apreendidos em Divinópolis, 31% foram encaminhados ao centro socioeducativo por envolvimento com o tráfico de drogasOs outros 69% foram acusados de roubo, tentativa de homicídio e homicídioSegundo a Promotoria da Infância e da Juventude, pelo menos três adolescentes são encaminhados semanalmente ao Ministério PúblicoA maioria vem de famílias carentes e desestruturadas.

Para a conselheira tutelar Alice Amaral, o aumento da criminalidade está ligado ao tráfico de drogasEm praticamente todos os casos, ela diz, há um menor envolvido com a droga, seja vendendo ou usando“Precisamos fortalecer as políticas públicas que visam não apenas cuidar desses adolescentes, mas evitar que outros acabem sendo levados para o mesmo caminho”, diz a conselheiraApesar da superlotação, a Promotoria da Infância e da Juventude garante que nenhum adolescente chegou a ser liberado por falta de vagas.

INFLUÊNCIA DO CRACK
O aumento da participação dos jovens nos crimes também preocupa o Juizado da Criança e do Adolescente de Sete Lagoas, na Região Central de Minas“O número de processos de menores no crime aumentou assustadoramente”, observa o juiz Edilson Rumbelsperger
E a lógica dos crimes acompanha a dos números apresentados pela PMSão principalmente delitos envolvendo o uso ou tráfico de drogas“Os pais ou tutores estão desesperados por causa dissoMuitas vezes, em dias de audiência, encontro mães chorando pela situação dos filhos”, afirma o juiz, que está há 15 anos à frente do Juizado e percebeu esse aumento dos jovens no crime depois da chegada do crack.

Com dois centros de internação na cidade, o Centro Sócio Educativo (CSE), com aproximadamente 100 vagas, e o Centro de Internação Provisória (CEIP), com 15, o juiz ainda enfrenta dificuldade de enquadrar os menores infratores em medidas adequadas“A gente vai administrando a situaçãoSe vemos que um interno apresentou melhoras, liberamos para abrir vaga para outro que precisa ser internado”, explica.

Mas, para o juiz, mesmo com os dois centros, o ideal na cidade seria ter um local para aplicar a semiliberdade“Pelo perfil dos crimes praticados pelos jovens aqui, a internação é uma medida muito rigorosaPor outro lado, na liberdade assistida, normalmente, o jovem tem tendência a voltar a praticar delitos ou mesmo a usar drogasJá na semiliberdade ele poderia sair para estudar ou trabalhar, mas teria que passar as noites e fins de semana com o acompanhamento do estado ou um tratamento adequado”, avaliaSegundo ele, a maior parte dos internos no CSE ainda é de jovens de outras cidades, principalmente da Grande BH, mas o número de internos de Sete Lagoas aumenta ano a ano.