A Pampulha mantém resistência mesmo depois de selada a construção de dois hotéis de 13 andares na região que é um dos cartões-postais de Belo Horizonte. Entre associações de moradores, o clima é de revolta, pois, apesar da pressão da comunidade pela não aprovação dos empreendimentos, eles foram vencidos na reunião do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur), na qual foi traçado o destino dos dois edifícios na Avenida Alfredo Camarate. Uma esperança está no Ministério Público de Minas (MPMG), que vai concluir em aproximadamente 15 dias inquérito sobre a regularidade dos prédios. Satisfação mesmo apenas nas áreas comerciais próximas ao terreno dos prédios, onde a expectativa é de aumento de rendimentos.
A apuração da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo vai analisar se os edifícios ferem a legislação, o impacto ambiental para a área de adensamento especial (ADE), entre outros aspectos legais. Mas uma nova ação poderá ser instaurada, se os promotores acatarem a representação que está sendo preparada pelas associações de bairro. Eles querem a averiguação do processo de votação da permissão, anteontem.
A reunião do Compur foi tensa, com muitas vaias, protestos, tumulto e bate-boca por parte de quem acompanhava cada passo dos conselheiros. Para os empreendedores, a única perda foi a redução da altura dos prédios: ambos deverão ter, no máximo, 40 metros. O Hotel Go Inn foi projetado para ter 59 metros e o Bristol Stadium, 48 metros. Depois das adequações, os projetos seguirão para licenciamento da Secretaria-Adjunta de Regulação Urbana.
Mobilidade A presidente da Associação Pró-Civitas dos Bairros São Luís e São José, Juliana Renault Vaz, acredita que o poder da população ainda é muito pequeno. “Desde o momento em que a lei foi alterada, os governantes deixaram claro que eles tinham projetos para aqueles lotes. Foram leis preparadas para os hotéis”, avalia Juliana. Ainda segundo ela, o parecer do Compur favorável aos empreendimentos prejudica a vida dos moradores da região. “A mobilidade pode piorar, a poluição vai aumentar e a cidade tem a perder”, completa Juliana.
Mobilidade é um dos temores da secretária Aline Damião Gonçalves, de 37 anos, moradora da região. “O trânsito que já não está bom será um inferno, além disso, é um crime começar a construção de prédios no entorno da lagoa. É dessa forma que percebemos como a prefeitura valoriza o patrimônio da cidade”, diz. Para a comerciante Eula Efigênia dos Santos, de 45, dona de um salão de beleza na Rua Conceição do Mato Dentro, os hotéis são outro sinal: “Eles vão trazer um bom movimento. Está longe do conjunto arquitetônico, não haverá prejuízo”.
O representante da CMR Construtora, responsável pelo Bristol, Milton Alves de Freitas Júnior, diz que deve retomar as obras até o fim do mês – a construção estava embargada. Ele defende que não há conflito de interesses entre o empreendedorismo e um dos símbolos da capital mineira. “Quem não quer progresso? Estamos na Catalão, e dois quarteirões atrás é só comércio. A comunidade deve brigar mesmo, mas nada justifica o medo de verticalização, que é prudente e se deve pensar nela. Há muito mais a valorizar”, diz. Os representantes da Brisa Empreendimentos Imobiliários, responsáveis pelo Go Inn, foram procurados, mas não se pronunciaram.