Não é conversa de pescador: na cidade de Resplendor, no Vale do Rio Doce, a lagosta vem do rio, de açudes e cachoeiras, e não do marAlém da semelhança física com o crustáceo tradicional, nascido e criado no oceano, também a lagosta-de-água doce, como é conhecida, tem a casca laranja depois de cozida, carne de cor branca e o gosto muito parecido com o da servida no litoralPalavra de quem pesca e prepara pratos com o ingrediente e também dos que já provaram a iguariaNo entanto, não são aparentadas, como explica Fábio Vieira, biólogo e doutor em ecologia“Elas pertencem a famílias distintas e, portanto, são de espécies também diferentesA de água doce é da família Palaemonidae e da espécie Macrobrachium carcinusA do mar, da família Palinuridae, espécies Panulirus argus e Plaevicauda, mas confesso que o sabor é bastante semelhante.” Ou seja, na ponta do garfo, a diferença é praticamente imperceptível.
No Restaurante, Churrascaria e Pizzaria Gilmar, em Resplendor, a lagosta-de -água-doce é a base para a moqueca (veja receita na página)Como cada crustáceo tem, em média, 100g (depois de retirada a cabeça), o prato leva de quatro a cinco unidades e é comercializado por R$ 80“Vendo como se fosse individual, mas serve de duas a três pessoas”, avisa o proprietário da casa, Gilmar Lopes Nágime.
A moqueca faz sucesso e está no cardápio fixo há 25 anosTradicional, a receita é de preparo simples e vai para a mesa acompanhada de pirão feito com o caldo de cozimento da lagosta e arroz branco
Caseiras
Gilmar conta ainda que a oferta da lagosta-de-água-doce já foi mais abundante na regiãoAtualmente, pequena quantidade vem dos braços de rio locaisA maioria é “importada” de Manhuaçu (MG) ou Linhares e Mascaranha, já no Espírito SantoBenilde Madeira, pescador há 20 anos, residente em AImorés, também na região do Vale, confirma a informação“Atualmente, o dia de pesca não rende mais que 1kgDepende da lua, do tempo bom ou chuvoso, da temperatura, de a água estar limpa ou suja e outras variáveis.”
Para fisgar a lagosta, ele usa um tipo de armadilha de fabricação artesanal conhecida como jequiConta que deixa a gaiola dormir no fundo da água, em locais próximos a pedras e cachoeiras (habitat preferencial do crustáceo, que “gosta de água corrente, bem oxigenada” e “só sai da toca durante a noite”)
Em casa, o pescador Benilde prepara o crustáceo de duas maneirasUma delas é clássica: basta aferventar a lagosta e degustar a carne e o recheio das patas com sal e limão a gostoA outra é bem mineira“Prepare a moqueca como de costume, mas acrescente azeitona ao cozido e finalize com lascas de queijo de minas verde (não pode estar maduro ou curado, senão derrete além da conta)Fica uma delícia”, garante.
Moqueca de lagosta
Ingredientes para 2 porções
500g de lagosta-de-água-doce inteira, apenas sem a cabeça; 2 tomates sem sementes e cortados em cubos ou tiras; 1 cebola cortada em cubos; urucum, coentro fresco, sal e alho a gosto e farinha de mandioca suficiente para o preparo do pirão.
Modo de fazer
Retire a cabeça e lave a lagosta em água correnteTempere a gostoÀ parte, faça um refogado de tomate simplesAcrescente o crustáceo e água suficiente para que sobre molho para o pirãoDesligar o fogo depois de poucos minutos de fervuraFinalizar com coentro e servirPara fazer o pirão, acrescente farinha de mandioca à parte do molho do refogado e misture até dar o ponto