Depois de implantar oito quilômetros de ciclovias e iniciar a construção de mais oito no ano passado, com investimentos de R$ 1,16 milhão, Belo Horizonte traça os próximos passos para aumentar sua malha cicloviária e saltar dos atuais 34 quilômetros de pistas para 120 quilômetros no fim do anoNa terça-feira, integrantes do projeto Pedala BH, da BHTrans, que comemora a doação de mais de R$ 2 milhões pelo Banco Mundial para a construção de 24 quilômetros no Barreiro e em Venda Nova, começam a estudar novas rotas para a cidadeOs planos para quadruplicar a extensão das ciclovias ocorrem num momento em que vários entraves ainda impedem que a bicicleta se torne transporte viável na montanhosa capital mineira.
Seis meses depois da inauguração de quatro espaços exclusivos para bicicletas – Rota Avenida Américo Vespúcio (Região Noroeste), Rota Avenida Risoleta Neves (Região Norte), Rota Savassi (Centro-Sul), no Bulevar Arrudas (Região Central) –, a participação dos ciclistas no trânsito da capital mineira ainda é irrisóriaCiclistas e especialistas em transporte insistem que construir pistas específicas para o veículo sobre duas rodas não é o bastante“Estrutura cicloviária não é sinônimo de cicloviaPor enquanto, as pistas ainda são muito isoladas umas das outrasFaltam espaços seguros para deixar a bicicleta e não há uma campanha educativa continuada sobre o assunto”, diz o integrante do movimento Mountain Bike BH Humberto Guerra, participante ativo das discussões sobre as ciclovias em BH.
Num contexto em que faltam informações e estatísticas que expressem o crescimento e o alcance do uso da bicicleta na capital, contagem de ciclistas feita pelo Estado de Minas, na semana passada, quando a cidade retomou seu ritmo na volta às aulas, dão indícios de quão embrionário é esse movimento na capital, estigmatizada pela topografia montanhosaEm duas manhãs, das 8h às 12h, a reportagem contou quantos ciclistas passaram por duas pistas de BH e comparou com estudo semelhante feito em 2010 pelo Mountain Bike BH, com base em metodologia do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês) e a pedido da BHTrans, antes da implantação das ciclovias.
Inaugurada em outubro, a Rota da Savassi, única da Região Centro-Sul, tem 2,8 quilômetros e vai da Rua Professor Moraes até a Rua Piauí, na esquina com a Avenida dos AndradasEm abril de 2010, passaram pelo trecho, das 8h às 12h, 21 ciclistas, média de 5,2 por hora, a menor entre os seis trechos pesquisadosQuase dois anos depois, com a pista exclusiva implantada, 26 ciclistas passaram no mesmo intervalo, média de 6,5 ciclistas por horaUm aumento de 24% que, em números absolutos, representa um adepto ao meio de transporte a mais a cada 60 minutos
Em quatro horas, 17 pessoas transitaram de bicicleta no entorno, sem usar a pista“Acho o trajeto dessa ciclovia pouco funcional”, resume o músico Breno Terra, de 22 anos, que cruzou a ciclovia na Avenida Afonso PenaMas há também quem não abra mão de usar a via exclusiva“Prefiro dar volta maior e pegar a ciclovia, pois aqui temos mais segurançaO problema maior é a falta de integração com outras rotas”, afirma o cirurgião-dentista Rodrigo Moremose, de 48 anos, que até instalou buzina na magrela, para, cordialmente, pedir passagem aos pedestres, que aderiram em peso à pista.
VIA 240 Primeiro espaço inaugurado no âmbito do Pedala BH, em julho, a ciclovia da Avenida Risoleta Neves, antiga Via 240, que corta bairros da Região Norte, tem 2,2 quilômetros de extensão e conecta a ciclovia da Avenida Saramenha à Estação BHBus São GabrielEm levantamento feito em maio de 2010, a via apresentou o maior número de usuários entre as rotas para bicicletas estudadasNo período das 8h às 12h, o trecho foi cruzado por 70 bicicletas, média de 17,5 por horaJá na semana passada, com a via implantada, o EM contou, no mesmo intervalo, 37 bikes – 9,2 por hora, queda de 47%.
Outros 12 ciclistas, o que representa um terço do grupo na ciclovia, passaram pela região, mas fora da faixa exclusiva“Prefiro ficar na ruaSe atropelo alguém, depois o culpado sou eu”, diz Rodrigo Santos, de 31, que acabava de voltar de entrevista de emprego
O mestre em engenharia de transportes pelo Instituto Militar de Engenharia Paulo Rogério Monteiro alerta que fatores como calor ou chuva podem alterar de forma expressiva o número de frequentadores das ciclovias, que devem ser analisadas de maneira qualitativa, e não quantitativa“O sistema de transporte é composto por várias engrenagens e a bicicleta é uma delasEla cumpre uma função ambiental e de saúde, mas tem que ser ligada a outros meios de transporte”, afirmaO especialista também cobra a implantação de elementos que convidem cidadãos a adotar a bicicleta como transporte“Se você, por acaso, tem uma bicicleta, mas não tem onde estacioná-la, vai de bike?”, perguntaA BHTrans informou que não comentaria planos para
ciclovias.
4 problemas nas pistas
Não há conexão entre as cicloviasUma malha cicloviária garantiria alternativas de caminhos para que mais ciclistas percorram trajeto mais longo em segurança.
Faltam bicicletários e locais onde seja possível guardar com segurança as bikes.
Especialistas cobram campanhas educativas que promovam a adesão de mais pessoas ao meio de
transporte, divulguem as ciclovias implantadas e orientem o motorista a respeitar o ciclista.
Falta ligação entre as ciclovias e outros meios de transporte, como ônibus e metrô.