Despedida do cantor é marcada por muita comoção no Cemitério Bosque da Esperança - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

 

A tristeza não foi a principal marca do velório do cantor Wando, na noite desta quarta-feira no Cemítério Bosque da Esperança, Região Norte de Belo HorioznteAs recordações de alguém que era como um irmão, um grande companheiro, a todo momento era lembrada pelos amigos e colegas de trabalhoEntre os fãs, as lembranças eram de momentos românticos embalados pela trilha sonora do cantor e compositor.

“Vim de Ribeirão das Neves (Grande BH) e vou passar a noite aquiWando fez parte de minha vida, quando comecei a namorar com meu falecido marido, homem a quem amei e ainda amo, com quem tive quatro filhos e quatro netos”, justiçou a dona de casa Isabel Oliveira Ribeiro, de 46 anos, que não conseguia esconder as lágrimasComo última homenagem ao seu ídolo, ela carregava um botão de rosa, o qual pretende deixar sobre o caixão.

A cabeleireira Jussara Quintiliano, 43, depositiou a calcinha da amiga sobre o caixão, dizendo que volta para deixar a própria roupa íntima - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press Teve fã que foi além, como Rosana Silva de Oliveira, de 36, que acompanhada de sua filha Adriene, de 8, conseguiu ser a primeira a deixar uma calcinha na urna do cantor“Não sei o que dizerWando é amor, é tudo!”, disse entre uma música e outra que cantaloravaA aposentada Maria Ramos de Jesus, de 65, também com rosas nas mãos, disse que não ousaria tanto, mas não podia deixar de homenagear seu ídolo, que deixou seus namoros nos anos 70 bem mais românticos.

'Um pai fantástico'

Katiuscia Czakaj, de 32, filha do cantor que mora na Alemanhã, e que na terça-feira o visitou, definiu Wando como “um pai fantástico”Emocionada, ela falou do último encontro: “estava tudo indo bemEsperávamos que ele iria para o quarto, se recuperaria e viveria por muitos anos com a genteEstá muito difícil compreender tudo isso”, desabafou.

O sogro do cantor, o empresário Lúcio Vasconcelos, de 67, lembrou de como começou o relacionamento de sua filha, Renata, quando Wando foi cantar na festa de 18 anos dela

“Não perdi um genro, mas um grande amigo, com quem tinha liberdade para discutir todos assuntos”, disse o empresário.

Cantor Márcio Greyck, amigo e parceiro de Wando - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press O cantor e compositor Márcio Greyck, amigo da família, disse que “a verdadeira música popular brasileira perdeu um de seus gênios”No último DVD de Wando, a canção “Amor Infinito” que o cantor canta em homenagem à sua mulher Renata, é de autoria de Márcio Greyck.

Coroas de flores

Dezenas de coroas de flores lotaram o salão reservado para a despedida do cantor WandoVárias eram assinadas por grandes personalidades, entre políticos e artistas, dentre elas o ex-presidente Fernando Collor, o senador Aécio Neves, a cantora Cláudia Leite e a humorista Gorete Milagres.


Quadro Clínico

Wando chegou ao Biocor por uma recomendação do seu médico particular, João Carlos DionísioFoi encaminhado para realização de cateterismo cardíaco, devido ao quadro de angina (dores no peito, causadas pela falta de sangue no coração) e alteração de exames propedêuticos (cintilografia miocárdica), feitos anteriormenteNa sequência, devido à gravidade e extensão das obstruções coronarianas encontradas, os médicos optaram pela permanência no hospital e cirurgia de revascularização do miocárdio

O artista apresentou um quadro de angina refratário ao tratamento clínico e a solução, como "medida de salvar sua vida", foi a realização, em caráter de urgência, de uma angioplastia coronariana de múltiplas artériasFoi implantado um stent - uma malha em forma de tubo de metal -, no interior da coronária para facilitar a passagem do sangue.

Vida do cantor

Nascido em 1945 Cajuri, interior de Minas Gerais como Vanderley Alves dos Reis, Wando mudou-se ainda criança para Juiz de ForaDa capital da Zona da Mata, ele foi para Volta Redonda (RJ), onde trabalhou como feirante, entregador de leite, vendedor de jornal e caminhoneiroDe lá, partiu para Congonhas, onde aprendeu a tocar violão e passou a viver de música com o conjunto EscaravelhosNos anos 1970, se mudou para São Paulo para investir na carreira

Em 1973, ele lançou seu primeiro disco, Glória a Deus e samba na terraO trabalho, que trazia o sucesso O importante é ser fevereiro, seguia a linha aberta por Caetano Veloso e Chico BuarqueA guinada para o som romântico e brega veio com o disco seguinte, que levava seu nomeNa sequência, veio a consolidação da carreira com mais onze discos, como Gosto de maçã, de 1978, Gazela, de 1979, Vulgar e comum é não morrer de amor, de 1985 e Ui: Wando paixão, lançado em 1986.

Em 1988, o disco O mundo romântico de Wando trouxe Fogo e paixão, sua música de maior destaque na carreiraA letra é marcante e conhecida até por quem não está familiarizado com a carreira do cantor: "Você é luz, é raio, estrela e luar / manhã de sol, meu iá iá meu iô iô"

Mas mais do que as músicas, o que realmente levou o cantor para o estrelato foi uma jogada de marketing com calcinhasA atitude de distribuir as peças íntimas surgiu em 1987 e acabou virando marca registrada de Wando, que sempre recebia de volta das fãs várias calcinhas durante seus showsAo longo dos anos, ele garantia ter juntado mais de 17 mil peças e pensava em fazer um museu.

Wando era casado desde 2005 com a belo-horizontina RenataEle dividia seu tempo entre o Rio de Janeiro, onde mantinha uma base de negócios, e a capital mineira, onde mora com a mulher e a filha Maria Sabrina, de cinco anosEle tinha outros três filhos e oito netosSeu último disco de inéditas foi Fêmeas, de 2001

Mesmo sem lançar um trabalho novo há mais de 10 anos, Wando mantinha uma agenda agitada de shows e apresentaçõesA internação por problemas cardíacos deixou os fãs em suspensoNo domingo, 5 de fevereiro, o cantor divulgou um bilhete que garantia o seu retorno"Eu estou na oficina de Deus arrumando a turbinaMe aguardem!", disseMas o coração, cansado de bater por amor, não aguentou esperar