Jornal Estado de Minas

Filho mais velho da procuradora implorou ao segurança que salvasse sua mãe

Garoto completou 7 anos nessa sexta-feira, dia em que os pais foram enterrados. Procuradora pediu ajuda da babá dizendo que seu marido queria matá-la.

Alfredo Durães

Girlene Fastor protegeu as crianças durante o crime e continua cuidando delas na casa da avó materna - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press

O depoimento prestado à polícia pela babá Girlene Fastor, de 34 anos, dá detalhes do clima de horror que tomou conta da mansão do casal Ana Alice Moreira de Melo e Djalma Brugnara Veloso na madrugada de quinta-feiraGirlene contou aos policiais que a procuradora federal gritou por socorro e pediu que ela ligasse para a polícia quando começou a ser atacada pelo maridoO pedido foi em vão: quando Girlene – que estava trancada no quarto com as crianças – voltou à suíte do casal encontrou Ana Alice caída em um dos cantos do cômodo em meio a uma poça de sangueA  babá, que já havia pedido uma viatura policial, ligou para a portaria do condomínio para saber se Djalma Brugnara já havia saído

O segurança André Luiz dos Santos, de 30 anos, estava de plantão e conta que minutos depois da saída do empresário do condomínio recebeu o telefonema da babá“Ela estava muito nervosa, dizendo que ia chegar um carro da polícia e que era para deixar entrarPerguntei o que estava acontecendo, pois sou o segurança do local, e ela disse: ‘Sobe aqui pelo amor de Deus’Cheguei lá e estava tudo muito silenciosoColoquei a lanterna na maçaneta da porta principal e vi que estava manchada de sangueEmpurrei a porta com a lanterna e entreiVi rastros de sangue pela sala e, pelo tamanho das pegadas, eram de um homem

Fui acompanhando as pegadas e quando cheguei ao quarto do casal a porta estava abertaAna Alice estava caída no chão, ele a machucou muito”, lamentou.

O segurança se emociona ao lembrar a cena do filho mais velho do casal, que completou 7 anosnessa sexta-feira “O menino estava aos prantos e me pedia: ‘Moço, salva a minha mãe, moço, tem um homem matando a minha mãe’Acho que ele não sabia que era o próprio pai que estava láA criança menor também chorava muito e a babá a abraçava, tentando acalmá-laMas ela também não conseguia se acalmar”, disse André.

André acredita que Ana Alice lutou muito para se defender das facadas“Tudo estava reviradoHouve muita luta no quarto"A cena de filme de terror ficou gravada na memória, segundo o segurança, que, embora treinado para lidar com situações como essas, não parou de pensar no filho dele, de 8 anos, que estavam em casa à sua espera“Fiquei com muita penas das crianças da dona Alice
Perderam mãe e pai de uma vezA família tem dinheiro, tem casa boa, carros de luxo, mas nessas horas não tem nadaA violência está em qualquer lugar”, disse André

Trancados no quarto com a babá, crianças ouviram o pedido de ajuda desesperado da mãe ao ser atacada - Foto: Reprodução/Facebook
Crianças perguntam pelos pais
Na falta da mãe, os filhos de 3 e 7 anos da procuradora Ana Alice Moreira de Melo, recebem, além do cuidado dos parentes, o carinho da babá Girlene Fastor, de 34, que dividiu com eles os momentos mais difíceis dessa tragédia que marcará para sempre a história das crianças

Quando o pai dos meninos entrou na mansão de madrugada, e a mãe desesperada gritava por socorro dizendo que seria morta, a primeira reação de Girlene foi proteger as crianças, se trancando em outro quarto com elas

Nessa sexta-feira, Girlene prestou suas últimas homenagens à patroa, no cemitério Bosque da EsperançaEla foi levada por uma pessoa ligada à família e demonstrava muita tristezaDisse, mais tarde, que não poderia falar com ninguém, seguindo orientação de uma advogada da família da vítima

Do cemitério, a babá seguiu para a casa da avó materna das criançasEmbora tenha recebido a orientação para não falar com a imprensa, a babá disse que os filhos do casal estão inconsoláveis“Eles estão muito abalados e perguntam pelos pais o tempo todo”, disse Girlene

A babá relatou à Polícia Militar que Ana Alice e Djalma Brugnara estavam separados há duas semanas e que ele estava morando em outra residência no mesmo condomínio(PF)


Empresário passaria carnaval na Bahia

Cerca de 12 horas antes de assassinar a esposa Ana Alice, o empresário Djalma Brungnara fez reservas em uma agência de viagens para o carnavalEle ligou para a empresa por volta das 16h de quarta-feira e reservou um pacote para o período de 16 a 21 de fevereiro no Arraial D’ajuda Ecoresort, um dos mais luxuosos do Sul da Bahia, nesse distrito de Porto SeguroO pacote era para duas pessoas

A revelação é de um agente de viagens que se disse amigo do empresárioEle pediu para não ser identificado e confessou que está estarrecido com o acontecido, visto que Djalma era também um cliente antigo e parecia viver muito bem com a esposa“Ele era um cara muito ativoNunca poderia imaginar isso Quando perguntei se eram apenas duas pessoas, já que o casal sempre viajava com os dois filhos, ele disse que estava em processo de separação da mulherNão perguntei quem era a outra pessoa e fiz a pré-reserva em nome dele”, afirmou

“Na quinta-feira, antes de saber do acontecido, liguei para o telefone dele para dizer que estava tudo OK, mas ele não atendeuEntão deixei recadoO Djalma sempre viajava com a família e nos pagava em prestações, com cheques pré-datadosAinda tenho cheques dele aqui, da última viagem”, acrescentou

Sem despertar qualquer suspeita

Segundo o segurança do condomínio Vila Alpina, André André Luiz dos Santos, por volta das 20h de quarta-feira Djalma chegou em seu veículo branco, aparentemente tranquiloPor volta das 4h de quinta-feira, o empresário voltou à portaria e também parecia tranquilo“Me deu boa noite e eu o respondiA cancela demorou um pouco para abrir, ele passou com o carro em baixa velocidade e acelerou depoisEle usava uma camisa branca e não deu para ver se estava manchada de sangueNão desconfiei de nadaEle e Ana Alice sempre foram muitos educados com a gente”, disse o segurança.