Jornal Estado de Minas

A história do saber

Museu da Escola é inaugurado na capital

Espaço, a ser inaugurado hoje em BH, mostra avanços do ensino brasileiro, destaca a importância do papel do professor na sociedade e terá um centro de formação

Glória Tupinambás

Reconstituição de uma sala de aula padrão na década de 1920: carteiras pesadas, quadro negro, móveis sóbrios e uniforme recatado, abaixo dos joelhos - Foto: Fotos: Renato Weil/EM/D.A Press

A lousa de pedra-ardósia e moldura de madeira mais parece um iPad – parado na década de 1920O mata-borrão, a caneta-tinteiro e o caderno Avante foram superados pelas lapiseiras, canetas esferográficas e notebooksO uniforme de saia plissada também ganhou ares de antiguidade, ao lado da palmatória e das temidas orelhas de burroO passar do tempo reinventou a sala de aula e os cenários da educação, mas não foi capaz de tirar o brilho da principal figura na transmissão do saber: o professorParte dessa trajetória de transformação do ensino poderá ser visitada, a partir de hoje, no Museu da Escola Ana Maria Casasanta, a ser inaugurado no Bairro Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, na antiga sede da Secretaria de Estado de EducaçãoNuma prova de que o educador tem lugar de destaque na história, o espaço vai funcionar com a Magistra, nova escola de formação de professores que deve oferecer cursos de capacitação a mais de 35 mil profissionais da rede estadual por ano.

Confira galeria com imagens do Museu da Escola

Num acervo com mais de seis mil peças, o visitante poderá viajar na linha do tempo da educação, aberta com uma sala de aula da Escola TradicionalO tablado para abrigar o professor, as cadeiras de ferro presas ao chão e a palmatória na mesa marcam o modelo de ensino adotado em Minas até meados dos anos 1920“O estado vivia sob a novidade da criação dos grupos escolares Nesse tempo, o foco era o professor e a educação era de repasse, sem trocas entre educadores e alunosUm dos objetos marcantes era a pequena lousa, usada pelos estudantes para treinar a lição, já que nessa época o papel era muito caro e os cadernos quase artigos de luxo”, explica a pedagoga do museu, Nelma Marçal Lacerda Fonseca.

No espaço vizinho, aparecem os traços da primeira grande mudança no ensino nacional – a Reforma Francisco CamposA Escola Nova foi marcada pela alfabetização nos livros da Lili, pela chegada dos jogos pedagógicos na sala de aula e pelo uso de contos e pequenas histórias para o aprendizado

Na estante, ao alcance das mãos do professor, estão exemplares de obras como A bonequinha preta, de Alaíde Lisboa de Oliveira, e O poço do Visconde, de Monteiro LobatoEsse período também engloba as nuances da política, quando Getúlio Vargas usava a escola como espaço de divulgação da ideologia do Estado Novo.

Acordo com os EUA

Antes de chegar à Escola Contemporânea, o visitante pode fazer mais uma paradaDessa vez, na educação dos anos 1950, em que prevalecia o modelo do Programa de Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar (Pabaee)“O Brasil firmou um acordo de cooperação com o governo dos Estados Unidos e o foco da educação passou a ser a técnica, ou seja, os projetores de slides e filmes, as radiolinhas, etc.A Escola Normal, que funcionava no atual Instituto de Educação de Minas Gerais, tinha um quartel-general onde professores brasileiros e norte-americanos faziam intercâmbio de experiências”, acrescenta a pedagoga Nelma.

Antes da esferográfica, alunos usavam tinteiro e caneta bico de pena - Foto: Renato Weil/EM/D.A Press

O passeio pela história termina no Museu Pedagógico e Laboratório Leopoldo Cathoud, com cerca de cinco mil peças que narram a trajetória do ensino de ciências nas escolasEsqueletos, equipamentos de física, química e astronomia e amostras mineralógicas, zoológicas, botânicas e paleontológicas compõem um acervo que começou a ser construído na década de 1930 e dão vida à filosofia da época, que usava a máxima de que “o professor precisa aprender para ensinar”Outra referência do espaço é a Biblioteca Bartolomeu Campos de Queirós, também montada na antiga sede da Secretaria de Estado de EducaçãoA unidade conta com um acervo de 50 mil livros e, nas estantes, estão títulos atuais, materiais de pesquisa e documentos sobre a história da educação no estado.

Espaço para capacitação

Escritórios e gabinetes da antiga sede da Secretaria de Estado de Educação, no Bairro Gameleira, em Belo Horizonte, passam a funcionar a partir de hoje como salas de aulaO espaço vai abrigar a Magistra, escola de formação e desenvolvimento profissional de educadores da rede estadualCom investimentos de R$ 20 milhões em 2012, a unidade prevê a oferta de cursos de capacitação gratuitos a cerca de 35 mil professores e outros profissionais ligados à educação, como inspetores, gestores e auxiliares, a cada ano
Outra frente de trabalho da Magistra é a plataforma virtual, com cursos de educação a distância oferecidos por meio de convênios com 19 instituições de ensino parceiras, entre elas as universidades federais de Minas Gerais (UFMG), de Juiz de Fora (UFJF), de Uberlândia (UFU) e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), estadual de Minas Gerais (UEMG), de Montes Claros (Unimontes) e a PUC Minas.

A primeira turma da escola terá 94 educadores das 11 unidades de ensino de Belo Horizonte que integram o projeto piloto Reinventando o ensino médioA partir da semana que vem, os profissionais das escolas estaduais – todas da Região Norte da capital – terão aulas de capacitação sobre o novo modelo de ensino que tem como proposta a mistura das tradicionais matérias escolares com disciplinas tecnológicas voltadas para o mercado de trabalhoApontado como uma alternativa para alunos que não estão focados apenas nos vestibulares, mas têm interesse na formação profissionalizante, o projeto prevê aulas em 16 áreas, como webdesign, reciclagem, recreação cultural, turismo, comunicação aplicada e tecnologias da informação.

A temida palmatória, punição para quem era considerado rebelde - Foto: Renato Weil/EM/D.A Press

Ensino a distância

Já os cursos a distância terão quatro pilares: cursos voltados para a disciplina do currículo básico comum; temas transversais; gestão educacional; e escola, família e sociedadeAo todo, serão 33 opções de cursos à disposição dos profissionais da educação a partir de hojeAs aulas também estão abertas a profissionais das redes municipais de educação e escolas públicas de todo o estado poderão participar de algumas atividades, como as rodas de conversa sobre temas atuais, dentro da programação do Canal Minas Saúde.

Segundo a secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, a Magistra faz parte das estratégias de valorização do professor“Sabemos que ainda há um longo caminho pela frente, mas um dos instrumentos é a capacitação permanente dos educadoresQuanto mais qualificado o profissional, mais qualificado o sistemaO Magistra será um câmpus do professor e do profissional da educação para o enriquecimento cultural e metodológico”, afirma Ana Lúcia.