O movimento é intenso em ponto famoso da Avenida Alfredo Balena, no Bairro Santa Efigênia. Tarde comum de emergência no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), referência nacional em traumas físicos de todas as urgências. Mais um dia de trabalho para o coordenador de enfermagem José Flora da Silva, de 63 anos, que dá expediente diário das 13h às 20h30 na “casa da salvação”. São 27 anos de histórias que o marcaram profundamente. Casado, pai de dois filhos – Thyago, de 26, e Polyana, de 27 –, diz que, ali, vive uma lição diária de profissionalismo. Relembra casos que movimentaram muito o HPS, como o velório de Tancredo Neves, em 1985, na Praça da Liberdade, quando muitas pessoas passaram mal na fila para ver o corpo do presidente e tiveram que ser atendidas às pressas e foram levadas para o hospital. Cita caso trágico que resultou na morte de 20 pessoas. “Elas chegaram a ser atendidas, mas não resistiram às graves queimaduras causadas por explosão de botijão de gás. Foi no Mineirinho, durante uma festa de confraternização religiosa”, relembra.
Relembra outros casos e diz com orgulho da solidariedade e do compromisso dos funcionários da casa com a causa “vida”. “Quando ocorre algum caso mais grave, envolvendo muitas vítimas, toda a população do João XXIII se apresenta. Quando não comparecem, as pessoas ligam para saber se é preciso que venham.” Rodrigo Faleiro, médico de Laura Gibosky, diz que o HPS vem crescendo muito também em tecnologia. “Quando falamos em serviço público, tem gente que pensa que falta equipamento. No João XXIII, quando recebemos médicos de outros estados e também do exterior, todos ficam muito bem impressionados com a estrutura do hospital.” Raul Starling, por sua vez, lembra que atuar na emergência exige respostas rápidas. “Em medicina, quando há tempo, você pode consultar um livro. No trauma, você tem que saber”, diz. Assim como os colegas de vocação e profissão Eduardo Cerqueira, Raul Starling e Jair Raso, Rodrigo Faleiro tem o brilho da vida na retina e não esconde o prazer de trabalhar pelo salvamento sem distinção. Pelas suas mãos, entre a luz e a escuridão, passaram crianças e bandidos da pior estirpe.