Jornal Estado de Minas

Crime sobre duas rodas dispara e Polícia Militar monta bloqueio

Graças à agilidade na fuga, motos já são usadas em 36% dos ataques ao comércio em BH. Operação Impacto chega à capital hoje, prevendo cerco nos semáforos e ações táticas nas ruas

Junia Oliveira Sandra Kiefer

Motocicletas passarão por fiscalização especial, em investida que tenta dar resposta ao aumento das ocorrências envolvendo o veículo - Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press



Agilidade no trânsito, baixo consumo de combustível, crédito fácilOs mesmos atrativos que fazem cada vez mais gente optar pelo transporte em motocicleta se tornaram chamariz para ladrões e transformaram as duas rodas em tormento para as vítimas e em desafio para a políciaSó no ano passado, mais de um terço dos assaltos a estabelecimentos comerciais de Belo Horizonte foram cometidos com a ajuda de motosO índice alarmante, de 36%, obriga a Polícia Militar a montar estratégia especial para tentar deter o avanço do que se transformou em meio de fuga preferido no mundo do crimeEssa forma de ação é difícil de combater, por ter como principais traços a rapidez na fuga e o anonimato do assaltante, com identidade escondida pelo capaceteE, embora já assustador, o percentual de uso do veículo em assaltos é ainda maior, pois ficam foram da conta de ataques a comerciantes outros delitos, como as chamadas saidinhas de banco.

A partir de hoje, a PM põe na rua várias operações para abordar motociclistas suspeitos e promete tornar investidas em semáforos e nas ruas uma rotina na capitalA operação batizada de Impacto contará com pelo menos três tipos de abordagens, que poderão ocorrer simultaneamenteSerá promovida em todas as áreas comerciais da cidade, incluindo as principais vias de acesso a essas regiõesPara isso, foram feitas análises de locais, horários e modo da ação criminosa em cada local

Nos estudos do comandante do Policiamento da Capital, coronel Rogério Andrade, além do aumento do número de casos de roubo usando moto, foi traçado um perfil dos criminosos: “São homens, atuam em dupla, usam capacete, pilotam motos que têm certa potência e agem armadosUm deles permanece na motocicleta e outro desembarca e rouba o estabelecimento ou a pessoa”, detalha
A grande capacidade de mobilidade e possibilidades de fuga são apontadas também como fator-chaveOs levantamentos constataram que os roubos ocorrem principalmente em grandes corredores de trânsito ou próximo a eles

Uma das ofensivas da Operação Impacto consiste em ações rápidas nos sinais de trânsitoEnquanto o semáforo estiver vermelho, policiais vão fazer um pente-fino e destacar alguns motociclistas, que serão levados para a lateral da rua ou avenida para averiguaçãoMilitares à paisana do Tático Móvel, Patrulha de Operações e do Grupo de Prevenção Motorizado (GPmor) também ficarão espalhados, observando suspeitos em motos ou aqueles que andam a pé, com capacete na mão

Viaturas serão adaptadas para receber um sistema de som que servirá de alerta à populaçãoEm determinadas áreas, a polícia passará informando no megafone que uma operação poderá ser desencadeada a qualquer momento – nos semáforos ou com o fechamento de quarteirões inteirosA ideia é não assustar cidadãos que estiverem no local“Essa é uma estratégia de segurança para atacar o problemaÉ necessária uma intervenção diferenciada para obter uma diminuição significativa desse tipo de crime, que passou a envolver moto por causa da versatilidade do veículo”, afirma o coronel.

A implantação do sistema de som tem o apoio da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio)
“É preciso tomar medidas para atenuar a situação, uma vez que acabar com o problema é difícilA moto é hoje um grande perigo, devido à facilidade de locomoção no trânsito”, afirma o presidente da entidade, Lázaro Luiz GonzagaO sindicato e a federação dos motociclistas também se reunirão com a PM, a partir de hoje, para firmar parcerias

Nos bairros, a expectativa é grandeO presidente da Associação de Moradores do Bairro Santo Antônio, Gegê Angelino, destaca a Avenida Prudente de Morais, um importante corredor da capital, como estratégico para a ação da PM “Temos muita reclamação sobre a criminalidade na região envolvendo motoqueiros e garupeiros e estamos preocupados, pois a avenida, que tem um trânsito fortíssimo, passou a ser ligação para vários bairros e isso facilita a fuga dos bandidos”, relata

Ofensiva rápida espalha o medo

Alexandre foi baleado em ação que durou três minutos: "Fiquei com pavor de motos" - Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A PressEm agosto do ano passado, Alexandre Teixeira, de 38 anos, sobreviveu a dois tiros depois de ser assaltado no Restaurante Maurício, onde trabalha com o pai, José Maurício Teixeira, de 55 anosA ação dos ladrões durou três minutos e dois segundos, como mostrou uma das câmeras do circuito interno de vigilância do estabelecimento, apontada para a ruaDois assaltantes chegaram a pé, usaram o capacete para esconder o revólver e fugiram em uma motocicleta YBR de cor escura“Moto é fácil de trocar a placa e de desovar depois do crimeEu, que nunca tive medo de moto, fiquei com pavorNão posso ver uma parada na esquina que acho que serei abordado”, diz o empresário, que costumava participar de enduros na juventudeSeis meses depois, os dois bandidos continuam soltos e Alexandre sofreu a última cirurgia na perna para retirar os estilhaços de bala, mas já está trabalhando normalmente“Só pensava em ficar vivo para cuidar dos meus dois filhos”, completa ele, que reagiu ao assalto, o sétimo em seis anos do restaurante, além de 15 arrombamentos

“Eu estava na lanchonete quando vi que a moto avançou o sinal da Avenida do Contorno (com Rua Gonçalves Dias) e percebi que era assaltoNa hora, liguei para a polícia do celular Tentei ver a placa, mas o cara tirou um adesivo do tanque de gasolina e tapou a identificação”, conta o representante comercial L.C.P., de 35 anosEle conversava com conhecidos em uma lanchonete, às 13h30, quando presenciou uma saidinha de banco praticada com a ajuda de motocicleta em plena Avenida do Contorno, há cerca de 15 diasSegundo ele, o empresário atravessava na faixa de pedestres com cerca de R$ 5,5 mil quando foi abordado pelo garupa da moto, que levou o dinheiro, pulou de volta na moto e fugiu com o comparsa, ambos com a identidade oculta pelo capaceteSegundo os comerciantes da região, foram registradas nove saidinhas de banco nos últimos três meses no mesmo ponto



Interior

Os trabalhos que serão implementados em BH tiveram origem no Centro-Oeste mineiro, onde o coronel que agora está à frente do CPC atuouO programa contou com a participação de 51 municípios, onde foram feitas várias blitzesNelas, o motoqueiro era orientado a parar, desligar o veículo, tirar o capacete e levantar o braço direitoA ideia é orientar os condutores para que o procedimento se repita na capitalAs autoescolas também serão alvo da PM

Memória

São Paulo tentou proibir a garupa

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vetou no fim do ano passado projeto de lei que proibia as motocicletas de levarem passageiros na garupaA proposta, aprovada pela Assembleia Legislativa no fim de novembro, proibia que os garupeiros fossem carregados nos dias úteis nas cidades paulistas com mais de 1 milhão de habitantesNa ocasião, o governador chegou a afirmar que não seriam medidas como essa que diminuiriam a criminalidade, mas sim a atuação da Polícia Militar.