Jornal Estado de Minas

Deslizamentos de terra ameaçam 50 áreas de BH

Força-tarefa vistoria 50 locais com alto risco de desmoronamento e afundamento de terreno, incluindo áreas nobres de BH, para buscar soluções e evitar tragédias

Mateus Parreiras Bruno Freitas

Barranco abaixo de mansão abandonada representa grande risco na Rua João Camilo de Oliveira Torres, no Mangabeiras - Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS



Pelo menos 50 pontos localizados em áreas de alto risco geológico em várias regiões de Belo Horizonte estão sendo vistoriados por uma força-tarefa formada por agentes da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) e 28 engenheiros voluntários da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS)Os locais sob risco iminente de deslizamento e afundamento de solo que podem ameaçar a integridade de construções estão por toda a cidade, inclusive áreas nobres, como o Sion e Mangabeiras, na Região Centro-Sul de BHNo fim das vistorias, previsto para sábado, serão recomendadas soluções construtivas para sanar os problemas e recomendações da Comdec para aprimorar o código construtivo municipal

De acordo com os engenheiros, a contribuição poderá culminar na proibição de construir em terrenos considerados de alto riscoO mutirão técnico foi formado nesta semana e atua desde segunda-feiraO primeiro local vistoriado foi o Bairro Buritis, na Região Oeste, onde um edifício condenado desabou antes que a ordem judicial para demolição fosse cumpridaOutros três estão sob ameaça e um deles já recebeu ordem para ser demolidoDe acordo com o coordenador da Comdec, coronel Alexandre Lucas Alves, os 50 locais vinham sendo monitorados, mas careciam de embasamento especializado para que as notificações fossem mais precisas aos moradores e outras pessoas que passam nesses lugares“Estamos sendo acompanhados por profissionais de notório saber técnico e que poderão nos auxiliar nas melhores soluções possíveis para cada caso”, disseOs locais onde as vistorias ocorrem não são divulgados pela Comdec“É uma estratégia institucional para que não ocorra o mesmo que está havendo no Buritis
Os edifícios ameaçados se transformaram numa atração turística, reunindo gente à sua voltaIsso leva ainda mais perigo”, afirma o coordenador.

O Estado de Minas percorreu locais vistoriados pela força-tarefaEntre as ruas João Camilo de Oliveira Torres e Engenheiro Bady Salum, no Mangabeiras – próximo à Praça do Papa e ao Palácio das Mangabeiras –, há uma encosta da qual sedimentos e pedras grandes deslizam há anos ameaçando construções próximas e em especial uma grande casa branca que está desocupadaO imóvel já foi notificado pela Comdec“A situação ali é críticaA movimentação do solo está ocorrendo e um pedaço da encosta já desceuA mansão que fica no alto está correndo risco de ser danificada e até de desabar dependendo do que ocorrer”, analisa o engenheiro da ABMS Ivan Libânio Vianna“Estamos dando esse apoio técnico à Defesa Civil com foco na prevenção de acidentes e preservação da vida humanaNão sabemos os locais de antemão, a Comdec é que nos leva e nós avaliamos”, afirma Vianna

Proprietário de uma casa na Rua Engenheiro Bady Salum, na parte de cima da encosta, o consultor Cláudio Santos reclama que a prefeitura tem feito constantes vistorias no bairro, mas nenhuma providência foi tomada
“Moro aqui há quatro anos e a casa sempre esteve fechadaTenho certeza de que o barranco nos fundos da propriedade vai ceder ainda mais”, alertouPara o vigia Ronaldo Pereira, ainda há risco de os sedimentos soterrarem completamente a Rua João Camilo de Oliveira TorresMetade da via já foi encoberta pela terra, obrigando os veículos a trafegarem em uma faixa“Os moradores estão com medo de ficarem ilhados, uma vez que a rua é sem saída”, afirmou PereiraAlguns metros à frente, outro desmoronamento obstruiu parte da pista ao redor da Praça Anselmo Bruschi, parte do itinerário da linha de ônibus 4103 (Aparecida/Mangabeiras).

Perigo no Sion

Outro ponto que inspira cuidados e foi avaliado ontem fica na altura do número 927 da Rua Patagônia, no SionLá os perigos são nítidosOs passeios e o muro de contenção já racharam com fissuras em que cabe um braçoTrês postes precisaram ser substituídos pela Cemig, pois corriam risco de desabar “A região toda é composta por solo muito instável, composto por filito, que é um minério fino combinado com rocha”, avalia o engenheiro da ABMS Morador de um edifício em frente à encosta, o aposentado Eduardo Vieira revela que a terra vem deslizando aos poucos desde o início das chuvas “Tem até um bolsão de barro formado numa das bases do morroSe não fizerem nada, é inevitável que a terra caia sobre os veículos que passam pela via”, alertou

 

Desmoronamento de terra é ameaça crescente na Rua Patagônia, no Sion, na Região Centro-Sul - Foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS 

 

Palavra de especialista

 

Edésio Teixeira de Carvalho
geólogo aposentado da UFMG

Solo dificulta construções

Os vales que seguem a Serra do Curral, como partes do Buritis, Belvedere, Mangabeiras e Sion, são formados por rochas chamadas filito e quartzito Esse solo apresenta uma dificuldade construtiva naturalNão é nada que não possa ser contornadoA engenharia tem técnicas para que se construa com segurança em quase todos os terrenosHoje, só não se consegue construir em lava de vulcãoO problema é que esses solos exigem técnicas caras e perfurações muito profundasOs engenheiros costumam construir em Belo Horizonte usando experiência e conhecimento prático que adquiriram ao trabalhar nesses tipos de soloHá muitos engenheiros que dominam esses conhecimentos e fazem muito bem essas análises, mas a presença de geólogos no levantamento do terreno é algo que pode garantir a segurança construtiva.