Jornal Estado de Minas

Sobreviventes enterram mãe e irmão em Além Paraíba

Enterro foi realizado sob forte comoção

  Fui afundando e subindo, bebendo água, com muitos móveis e pedaços de pau batendo em mim - Leandra Alves, estudante, 12 anos - Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press

 

Salvas das enchentes do Rio Limoeiro, duas moradoras do Bairro Vila Matias, um dos mais castigados pelas enchentes em Além Paraíba, as irmãs Leandra Alves, de 12 anos, e Letícia, de 7, voltaram a chorar nessa terça-feiraPela manhã, a mãe delas, a diarista Aparecida Alves, de 23, e o irmão caçula, Igor, de 2, foram sepultados na mesma cova do Cemitério Municipal.

Letícia foi salva, segunda-feira, graças à coragem do mecânico Wellington Luiz Melo, o Magal, de 47 anos, que pulou do segundo andar de casa e mergulhou para resgatá-la, quando era carregada pela correnteza e gritava por socorroLeandra se agarrou a um colchão e a uma grade de janela e, quando já desistia da vida, uma mão estendida a puxou de volta

Na tarde dessa terça-feira, Leandra retornou ao que sobrou da casa na tentativa de recuperar alguma coisaResgatou duas leiteiras, usadas para  ferver o leite  do  irmãozinho que morreu Sem casa, sem mãe, sem irmão e sem ao menos uma fotografia para guardar, Leandra foi morar com a avó e Letícia com uma tia

Leandra conta que, de madrugada, ela e os irmãos foram acordados pelo barulho da água do rio, que invadiu o bairro  com força arrasadora, levando paredes e móveisA mãe, que ainda curtia a casa que ganhou de presente do patrão há oito meses, quis de qualquer jeito salvar o que podia

Leandra lembra que colocou os irmãos sobre a cômoda e a sua mãe se recusou a deixar a casa, levantando os móveis, mesmo com os vizinhos tentando alertá-la do perigo, aos gritos"A água subiu muito depressa e passou por cima da cômodaDerrubou meus dois irmãos

As paredes estouraram e os dois foram arrastados pela correnteza para fora", contaA adolescente diz que foi levada pela água logo em seguida, com a mãe "Não enxergava nadaNão tinha luz na rua, estava tudo escuro no bairro Fui afundando e subindo, bebendo água, com muitos móveis e pedaços de pau batendo em mimFiquei todo machucada, toda ralada, mas conseguir sair", conta a menina.