Jornal Estado de Minas

Moradores de Betim ajudam famílias que perderam tudo com a chuva

Volutários distribuem alimentos em Betim - Foto: Edesio Ferreira/EM DA Press
Dezenas de famílias foram desalojadas em Betim nos últimos dias por conta das fortes chuvasAlgumas perderam tudo, até as casasMuitas delas foram remanejadas para abrigos improvisados em escolas ou para casas de amigos e parentesA situação é crítica, uma maneira que ninguém gostaria de começar o ano

Diante desse quadro, dois moradores de Betim se sensibilizaram com a situação de quem perdeu tudo por conta dos temporais e decidiram se mobilizar para arrecadar donativosHá cerca de duas semanas o microempresário Mateus Camargos, 24 anos, um dos idealizadores, criou um perfil na rede social Facebook para divulgar a campanhaNo grupo denominado “Doações para desabrigados das chuvas em Betim”, trezentas pessoas se mobilizam para conseguir os donativosAlimentos, roupas calçados, brinquedos, materiais de higiene pessoal, eletrodomésticos, colchões e outros objetos são solicitados“Estou fazendo isso para ajudar mesmoTodos estão vendo o que está acontecendo com as famílias que perderam tudo e ninguém toma uma iniciativaNós nos sensibilizamos e estamos recolhendo essas doações para ajudar”, afirmou Mateus.

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Segundo ele, até então as pessoas têm se mobilizado e doado produtos
De camas a alimentos, as doações vão chegando aos poucos nos pontos de entrega“Até o momento já arrecadamos treze cestas básicas, além de roupas, fogões e camas”, relatouAlém disso, empresários e dois supermercados da região também contribuíram com doaçõesEle frisou que a prioridade de arrecadações é de alimentos“Pedimos que cada um peça ou avise em suas igrejas para doar um quilo de alimento pois está precisando muitoSe cada pessoa doar um pouco, teremos muito”, disse.

Mateus ainda adiantou que futuramente, pretende realizar a reconstrução das casas“Devemos promover festas beneficentes para arrecadar fundosEsse grupo não vai acabar, vai só aumentarJá faz muito tempo que tenho o desejo de ajudar às pessoas e me sinto realizado por se tornar realidade”, disse

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Ele ressaltou que a importância de se realizar a campanha via internet é a facilidade de comunicação e divulgação da mobilização
“Tenho quase dois mil amigos no Facebook e não iria conseguir me comunicar com todas por telefoneEntão montei o grupo e chamei alguns amigos com quem eu podia contarA facilidade de me comunicar pelo Facebook é maior”, disse.

Pontos de arrecadação

No total, quatro pontos em diferentes regiões da cidade estão recebendo os donativosSão eles Rua Uberlândia, nº 145, Bairro Niteroi (falar com Naiara Correia); na administração do Parque de Exposições David Gonçalves Lara e na Igreja Batista Nova Canaã, na Avenida Bandeirantes, nº 67, Centro (neste caso especificar que as doações são para os desabrigados das chuvas em Betim)Os donativos podem ser entregues durante o diaQualquer dúvida pode ser esclarecida pelo telefone 8511-2136.

Prejuízos

Betim decretou estado de emergência na última quarta-feira por conta dos prejuízos causados pelas chuvasDe acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura da cidade, 700 pessoas estão desalojadas e 15 foram desabrigadasNo total, segundo a assessoria, 16 imóveis foram condenados pela Defesa Civil.

Os Bairros em que foram detectados pontos de alagamento são Colônia Santa Isabel, Vila Cruzeiro, Vila Machadinha e Aroeiras, na região de Citrolândia, e ainda na Região de VianópolisEstes pela proximidade com o Rio Paraopeba, que transbordouOs Bairros Itacolomi e Nossa Senhora de Fátima, na região do Alterosas, também correm risco de alagamento pela proximidade com a represa Várzea das Flores que se enche por causa do grande volume de chuvas e, consequentemente, eleva o nível do Rio BetimOcorreu ainda um deslizamento no Jardim Teresópolis e também em outras áreas isoladas da cidade

Moradores tentam recomeçar

- Foto: Edesio Ferreira/EM DA Press

A Colônia Santa Isabel, local em que os danos da chuva foram mais críticos na cidade, acordou nesta sexta-feira coberta de barro e não de água, como ficou durante boa parte da semanaCom a trégua da chuva por três dias, as águas do rio Paraopeba e do córrego Bandeirinhas, que alagaram diferentes regiões do bairro, muitos moradores voltaram à suas casas para retirar a lama e começar a maratona de limpezaUm mutirão da prefeitura também foi formado para a limpeza das ruas, que envolveu a Divisão de Obras e Limpeza Urbana e a Defesa CivilA operação ainda contou com o apoio da Transbetim e da Polícia Militar.

As entradas do bairro foram liberadas, ao menos pela águaComo o trabalho de retirada do barro e entulho é intenso, motoristas ainda tiveram que buscar rotas alternativas para chegar ao centro da ColôniaA Rua Padre Damião, que teve um quarteirão tomado inteiramente pela água do córrego Bandeirinhas, foi uma das primeira a receber a limpezaAgentes da prefeitura auxiliaram um trator na retirada do barro, enquanto que a Defesa Civil limpou a rua com mangueira apósO ritual foi seguido em todas as ruas que foram tomadas pela água

“A situação estava brava, a água entrou mais de um metro em casaNão cheguei a sair, porque tenho um andar de cima, mas assim que a água desceu a gente já começou a limpar, porque senão o barro fica mais difícil de sairIgual estava na rua tinha barro em casa, a gente teve que bater rodo para tirar”, comenta Ana Dias de Almeida, de 62 anos“A minha tristeza é com as pessoas idosas que têm sequelas da hanseníase e tem que conviver com isso”, destaca

Na Rua Silva Lima, uma das primeiras a receber a inundação, o barro era alto e o lixo era muitoEntulho, lixo, móveis quebrados, eletrodomésticos e até a louça de um banheiro se misturavam a sujeira no asfalto e calçadasUm morador juntou a família toda para tentar limpar um pouco do que ficou para trás dentro de casa“Encontramos lama e desesperoTinha muito lixo e doenças já que essa lama é toda infectadaPerdemos dois guarda-roupas e encontramos garrafas e lixo”, comenta Emerson Martins Silva, de 33 anos.

Seguindo direto, os quintais das casas da Rua Ana Neri se misturaram às margens do rio Paraopeba e no ápice da inundação não era possível distinguir aonde um começava e o outro terminava: tudo era águaO resultado foi lama, muita lama“Lá em casa a água subiu uns dois metros na parede e ficou uns 40 centímetros de lamaSou sozinho para limpar porque só tem mulher, então eu tenho que limpar sozinhoPerdi muita coisa porque muitos móveis molhei com a chuva, sofá, cama, praticamente tudo”, Josenil Lucas, de 52 anos.

Nas Ruas Pio XII, Geraldo Madureira Ramos, dos Esportes e São Geraldo o cenário é o mesmoAonde se vai moradores se unem para limpar as residências, mesmo sabendo que a água pode voltar a subir“A gente vai ficar em abrigo ainda por mais uns dias, até passar essa chuvaradaPorque corre o risco de chover de novoEstamos lavando as paredes porque se não entrar água de novo fica bem mais fácil para a gente lavar e limpar”, afirma Maria José Campos, de 59 anosA casa dela é literalmente vizinha de muro com o córrego Bandeirinhas e, portanto, foi a primeira da rua a ser inundada“A água subiu demais,  tinha muito barro e tivemos que lavar tudo, até no telhado a gente teve que dar mangueirada”, comentaCom o recuo da água o fornecimento de energia foi reestabelecido

Membros da Paróquia Maria Mãe dos Pobres, do bairro Novo Amazonas, também estiveram pelo bairro distribuindo mantimentos para os moradoresOs produtos foram doados por membros da Comunidade São Sebastião, que também contribuíram com roupas e calçados, entregues à Casa Paroquial da Colônia