Jornal Estado de Minas

Maior favela do estado tem 11 bairros, 160 becos e 207 pequenas empresas

Sandra Kiefer
Maior aglomerado de Minas Gerais sem considerar os complexos de favelas, o Jardim Terezópolis/Santo Antônio tem cerca de 23,1 mil moradores e números impressionantes
A favela conta com 11 bairros, 160 becos e 207 pequenas empresas na região industrial, segundo informações da Regional Jardim TerezópolisSim, a favela tem uma regional só para ela, dentro da estrutura da Prefeitura de Betim, cidade de contorno industrial da Grande Belo Horizonte“Nós pensávamos que o Jardim Terezópolis perdia para a Cabana, mas é bom saber da real dimensão porque o governo dá mais atenção à nossa comunidade”, diz José Pereira, administrador regional do Jardim Terezópolis“Quanto maior a população, mais aglutinada ela é e maiores são os problemas, porque as casas são muito próximas umas das outrasUm grave problema é a segurança, que já foi pior”, completa.

“O Jardim Terezópolis impressiona pelo tamanho, mas não chega a ser um favelão, porque aqui tem infraestrutura”, diz Bruno de Carvalho, supervisor da regionalSem esconder a admiração, ele mostra o investimento de R$ 1 milhão feito com recursos próprios pelos moradores na construção de um prédio de 15 apartamentos na Avenida Belo Horizonte, principal corredor de trânsito do Jardim Terezópolis.

Na mesma avenida, chama a atenção o movimento do comércio, bem como o aluguel de caçambas para recolher os restos do material de construção e o passeio adaptado com guia para deficientes visuais ao longo de toda a via“Ainda está faltando saneamento em 10% das casas da Vila Bemge e Vila Recreio, mas estamos criando uma consciência ecológica nos moradores, que não jogam entulho nas ruasÉ só olhar o número de caçambas alugadas”, diz Bruno, que se orgulha de ter nascido no Jardim Terezópolis e de retornar ao lugar onde nasceu depois de longa temporada em Madri e em Londres para acudir a família depois que o irmão foi preso por tráfico de drogas“Fui atrás de vida financeira melhor e o destino me trouxe de volta para vender água de coco e caldo de cana na esquinaEstá dando mais certo
Lá fora o custo de vida é mais alto e a gente paga para viverAqui, já comprei meu imóvel financiado”, compara.

Sonho

No cruzamento com a Avenida BH, está a maior farmácia do bairro, a Drogaria Terezópolis, com placa do tamanho do empreendimentoO negócio é comandado pelo farmacêutico Jaisel de Oliveira Portes, de 32 anos, que está no quinto período do curso de medicina e vai se tornar o primeiro médico criado na região, onde mora há 14 anos“Vim atrás da minha família, que é do interior (São Félix de Minas), e quero realizar um sonho de criança que estou conseguindo aos poucos depois de atingir a estabilidade financeiraComo médico, quero dar o retorno a esta comunidade, que me sustenta como comerciante”, afirma.

No passeio da frente, está a loja de roupas femininas Gesa Moda, de Maria de Jesus Araújo, de 45 anos, a Gesa“Considero o Jardim Terezópolis como um bairro, porque é um lugar que tem tudoPara quem sabe conviver, não tem nada que impede de morar aqui”, afirma ela, referindo-se de forma velada à violência e à criminalidade, maior preocupação dos moradores do local, que já foi o mais violento de Betim, e hoje perde para Citrolândia e PTBPelo aluguel da loja, Gesa paga um salário mínimo mensal“Se a loja fosse no Centro de Betim eu pagaria R$ 2 mil por mês e poderia vender mais, mas os gastos seriam maioresPrefiro ficar por aqui, onde sou conhecida por todos”, resume a lojista, que gosta de ser chamada pelo apelido.

Vilas

Dos 11 bairros, apenas a Vila Bemge e a Vila Recreio abrigam pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e, nestas duas vilas, estão os últimos becos sem pavimentação e sem casas de tijolos, que serão beneficiados pelo projeto de habitação popular do governo federal Minha casa, minha vida
A Jardim Terezópolis nasceu no encalço da montadora de veículos italiana Fiat, cinco anos depois da sua instalação em Betim, em 1976.

“Não vejo isto aqui como favelaÉ um ótimo lugar para morarTem água, luz, esgoto, tem de tudo no comércio e a violência é mais lá para baixoA casa é minha e só não tenho o papel”, admite a dona de casa Carmelita Alves Rocha, de 57 anos, que já criou os filhos e agora ajuda a cuidar dos netos (como Eduarda Gabriele, de 3, e Rosilaine, de 8) há 20 anos no mesmo barracão na entrada da Vila Recreio