Vinte sacolas foram recolhidas aleatoriamente em supermercados, farmácias e padarias de BH e de cidades da região metropolitanaDe início, a coleta já permite afirmar que ainda estão disponíveis no mercado embalagens proibidas pela leiAs amostras foram distribuídas em quatro grupos: compostáveis e biodegradáveis, convencionais, oxibiodegradáveis e recicladasOs resultados preliminares do estudo, ao qual o Estado de Minas teve acesso, não permitem distinção entre os exemplares de um mesmo grupo de sacolas ou entre grupos distintosApenas uma embalagem, dita compostável e biodegradável, já apresentava indícios de degradaçãoA pesquisa aponta também que as amostras de sacolas oxibiodegradáveis, quando submetidas à queima, tiveram teor de cinzas extremamente elevado, sinalizando para a presença de aditivos inorgânicos que podem ser poluentes.
Segundo o coordenador do Grupo de Pesquisa em Géis e Polímeros da UFMG, professor Roberto Fernando de Souza Freitas, as embalagens foram submetidas ainda a raios infravermelhos para identificar seus elementos químicos e tipo de material, e análises térmicas para definir a temperatura de fusão (130 graus) e degradação (430 graus), esmiuçando os resíduos que sobram com aditivosA pesquisa comprova que as amostras têm entre 85% e 90% de polietileno, que é um polímeroO indicativo era esperado para as embalagens convencionais, mas foi verificado também nas outras
Resíduos
De acordo com o especialista, a queima do polímero produz cinzas que são altamente poluentes porque podem conter metal, entre outras substâncias e aditivosOs resultados iniciais mostram que as sacolas oxibiodegradáveis têm o mesmo percentual de resíduos das sacolas tradicionaisSomente a amostra de sacola compostável que apresentava indícios de degradação registrou teor de cinzas menor, de 7 a 8%As demais tiveram 15% de resíduos poluentes“No caso da embalagem que apresentava sinais de degradação, não sabemos quando ela foi produzida e por isso não é possível afirmar se a degradação ocorreu pelo tempo, por falhas no processamento do polímero ou ausência de aditivos na proporção usada para ampliar a vida útil da sacola”.
O professor é contrário à Lei 9.529/2008, que restringe o uso das sacolas plásticasEle diz que os polímeros trouxeram mais qualidade de vida à população e que a proibição dessas embalagens não resolve o problema ambientalNa opinião dele, os esforços do poder público deveriam se concentrar na conscientização sobre a forma de descarte inadequado desse material na natureza“Ao propor a substituição das sacolas convencionais pelas biodegradáveis, a lei gera no imaginário das pessoas a falsa ideia de que as novas embalagens poderiam ser descartadas sem qualquer dano ao meio ambiente, o que não é verdadeEssas embalagens supostamente biodegradáveis são plásticos oxidegradáveis ou fragmentáveis, que recebem aditivos químicos para acelerar o processo de degradação”, afirma Roberto.
‘Catástrofe’
De acordo com o coordenador do Grupo de Pesquisa em Géis e Polímeros da UFMG, a degradação química promove uma poluição invisível, com a quebra dos sacos plásticos em milhares de pequenas moléculas que não desaparecerão na natureza
O trabalho ainda não foi finalizadoO universo das amostras será ampliado e também estão feitos testes de envelhecimento acelerado em uma câmara que simula as condições do meio ambiente, de temperatura, luz e poluiçãoAs sacolas plásticas ainda devem ser enterradasO estudo deve ser concluído até meados de 2012O resultado inicial, porém, já surpreendeu o fisioterapeuta Gabriel Cordeiro, 33 anos, que fazia compras ontem em supermercado da capital“Nunca tinha ficado em dúvida”, disse
FIQUE ATENTO
O QUE PODE SER USADO
Sacola biodegradável compostável: Feita de amidos (milho, mandioca ou batata) ou do bagaço de cana-de-açúcarNão poluente e sem resquícios de toxicidade, a sacola tem decomposição natural no prazo de 180 dias sob determinadas condições de umidade e de luz.
Sacolas retornáveis: Feitas de tecidos, lonas, TNT, sisal ou plásticos, com espessura mínima de 0,3 mmSão resistentes e duráveis
Sacos plásticos transparentes: Usados para embalar frutas e verduras nos sacolões e carne nos açougues, não são citados na lei porque não têm finalidade de transporte
Saco de lixo biodegradável: Produzido com amidos ou bagaço de cana, tem prazo de decomposição de até 180 dias e substitui os sacos de lixo convencionais à base de petróleoResíduos finais resultantes nãosão danosos ao meio ambiente
O QUE NÃO PODE SER USADO
Sacola de plástico convencional: Produzida à base de petróleo, é descartável e tem tempo de decomposição de até 400 anos
Oxibiodegradável: Sacola plástica feita de polímero de petróleo que contém o aditivo D2W, que acelera a decomposiçãoO aditivo faz a sacola se separar em partes, mas o processo não ocorre naturalmente
Biodegradável compostável sem selo : Não tem a identificação de atendimento das normas da ABNT porque foi confeccionada antes da publicação do Decreto 14.367, no último dia 12, que exige o selo
Reciclada: Sacola de plástico descartável feita com sobras de produção e de plástico reciclado oriundo de cataçãoGeralmente é colorida (verde, amarela, vermelha ou preta), tem impurezas e resíduos tóxicos prejudiciais para o meio ambiente
PONTO CRÍTICO
A lei das sacolas biodegradáveis compostáveis é positiva?
Marcus Vinicius Polignano, ambientalista, coordenador do Projeto Manuelzão da UFMG
SIM
“Desde que a lei das sacolinhas foi sancionada, milhares de embalagens plásticas foram retiradas de circulaçãoNosso modelo de consumo propicia conforto e comodidade, mas pouco se preocupa com o destino dessas sacolas e isso leva à degradação do meio ambienteO jeito mais comum de reutilizar as sacolas plásticas é para jogar o lixo foraA gente produz, consome e joga foraHá sacolas plásticas, pilhas, pneus e material de computadorSe queremos ter sustentabilidade, teremos que abrir mão da comodidadeA sociedade precisa evoluirEvitar o consumo de matéria-prima e o descarte de material que não é biodegradável é um exercício de cidadaniaE cada um de nós pode ter atitudes mais significativas com o meio ambiente em nosso dia a diaA prefeitura também precisa fazer sua parte e ampliar a coleta seletivaOutra vertente para se discutir é a fiscalizaçãoOs órgãos de certificação precisam qualificar produtos verdadeiramente com essas característicasSenão, é malandragem da indústria”.
Roberto Fernando de Souza Freitas, coordenador do Grupo de Pesquisa em Géis e Polímeros da UFMG
NÃO
“A lei tem equívocos básicos e tira o conforto do cidadão, banindo certos tipos de sacolinhas plásticas, mas isso não contribui em nada para a diminuição do impacto no meio ambienteOs sacos transparentes usados para embalar frutas, carnes e peixes continuam disponíveis no mercado e eles têm a mesma composição química das outras embalagensAlém disso, a lei passa uma ideia de que você pode descartar as sacolas no meio ambiente por elas serem ecologicamente corretas, o que não é verdadeOs plásticos invadiram nossas vidas porque são mais leves, personalizáveis, impermeáveis, fáceis de processar em qualquer formaParadoxalmente, o que traz facilidade traz também um problema que só se desfaz entre 100 e 500 anosExatamente pela sua durabilidade, ele pode ser recicladoAs sacolas convencionais serviam para seu fim e uma possibilidade era melhorar sua qualidade para diminuir seu usoO problema não é usar a sacolinha, mas a forma como descartá-la”.