Cachoeira da Prata está na lista de municípios com maior população feminina

O fenômeno sempre rende assunto em Belo Horizonte: para muitas mulheres, faltam homens na cidade. Em mesas de bar, no salão de beleza ou no trabalho, a reclamação é recorrente. “Onde a gente vai vemos sempre mais mulheres do que homens”, queixa-se a assistente comercial Diva Mara Souza, de 33 anos, moradora do Bairro Alípio de Melo, na Região Noroeste. “A concorrência fica desleal”, brinca. A queixa não é à toa. A capital está no topo da lista das cidades mineiras que têm o maior percentual de mulheres (53,1%). Por um décimo, no entanto, não foi Cachoeira da Prata (53%), na Região Central, que levou o título. Na cidade, de 3,9 mil habitantes, as mulheres andam em grupos de seis ou sete nos dias de festa, enquanto os homens estão sozinhos ou em duplas. Juiz de Fora, na Zona da Mata, ocupa o terceiro lugar, com 52,7%.

“Ter um título é bom, mas o de cidade com mais mulheres é um prejuízo para a gente, porque é superdifícil arrumar namorado”, diz Márcia Ferreira de Paula, de 17 anos, filha de uma família de nove filhos de Cachoeira da Prata, dos quais seis são mulheres. No lado feminino da família, apenas a adolescente Pâmela de Paula Moreira, de 12, tem opinião diferente. “É bom que seja assim, pois mostra que as mulheres estão dominando, estão com tudo”, avalia. Na Escola Municipal Coronel Américo Teixeira, na cidade, os dados do censo podem ser confirmados. “Passamos a ter em nossas salas de aula sempre mais meninas do que meninos. Em classes com 20 alunos, por exemplo, a média é de 14 mulheres para seis homens”, calcula a diretora, Solange Medeiros de Souza Neves.

TRABALHO A professora aponta como uma das razões para a menor população masculina o enfraquecimento das atividades da indústria têxtil na cidade, fundada em 1886 e que era o grande polo empregador da região. “Com o encerramento das atividades da companhia têxtil, os homens começaram a buscar emprego em outras cidades maiores, como Sete Lagoas”, afirma Solange. A avaliação é reforçada pela aposentada Rosemeibe de Fátima Abreu, de 50 anos. Embora já tenha arrumado seu “par perfeito”, ela diz que conhece muitas mulheres de faixas etárias diferentes reclamando da falta de homens. “Já acertei na loteria, mas ainda tem muito gente tentando”, diz.

A estudante Rúbia, de 17, conta que precisou cruzar as fronteiras da cidade para conseguir um namorado e há três anos mantém um relacionamento com um rapaz no município vizinho de Sete Lagoas. “Os meninos que ‘prestam’ já têm namorada. Só ficaram aqueles que não querem nada com a vida”, comenta, lembrando ainda que nunca teve um amor em Cachoeira da Prata. A jovem diz ainda que na sala de aula onde estuda a voz firme é sempre feminina. “Somos nós quem ditamos as regras. Afinal, são 27 mulheres e apenas três homens”, conta, rindo.

Outra razão apontada para o destaque das mulheres pode estar ligada à saúde, para a aposentada Herta de Melo Viana, de 84 anos. “Nasci em uma família de 12 filhos, sendo seis homens e seis mulheres. Só um deles está vivo, enquanto todas nós estamos bem. Isso ocorreu porque eles não se preocuparam em prevenir doenças”, afirma.

HOMENS E enquanto em BH a assistente comercial Diva Mara Souza reclama da competição acirrada na busca por uma paquera, em Delta, no Triângulo Mineiro, a mulherada não se queixa de falta de casamento. O município foi apontado pelo censo do IBGE como o que tem maior percentual de homens (56,1%) entre os 853 municípios mineiros. O motivo, segundo a prefeita Lauzita Rezende da Costa (PTB), pode ser a grande migração de homens de outras regiões do país para trabalhar no corte de cana-de-açúcar. Os municípios que ocupam o segundo e terceiro lugares da lista também estão no Triângulo: Pirajuba, com 54,7%, e União de Minas, com 54,6%.