(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Ataque bilionário ao crack

Avanço do consumo da droga leva governo federal a anunciar plano de ações com recursos de R$ 4,4 bilhões até 2014. Em Minas Gerais, déficit no atendimento a usuários chega a 80%


postado em 08/12/2011 06:00 / atualizado em 08/12/2011 07:08

 

Avanço do consumo da droga leva governo federal a anunciar plano de ações com recursos de R$ 4,4 bilhões até 2014(foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)
Avanço do consumo da droga leva governo federal a anunciar plano de ações com recursos de R$ 4,4 bilhões até 2014 (foto: BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS)

 

A cada cinco viciados em crack, apenas um consegue tratamento na rede pública em Minas Gerais. O dado do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas reforça a gravidade da epidemia que se alastra por quase 80% dos municípios mineiros, segundo recente pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Para tentar o avanço da pedra no país, o governo federal anunciou nessa quarta-feira investimentos de R$ 4,4 bilhões no Plano Nacional de Combate ao Crack e Outras Drogas até 2014, com o desafio de controlar esse problema sistêmico com tratamento adequado a dependentes, passando por políticas de prevenção e repressão à circulação de drogas.

Minas precisaria aumentar muito o número de vagas, levando-se em conta a “demanda latente” de viciados que ainda conseguem de alguma forma manter a vida produtiva, na avaliação do presidente do conselho, Aloísio Andrade. Segundo ele, o estado tem déficit de 80% no atendimento aos dependentes. Só em BH, o Centro Mineiro de Toxicomania (CMT) atendeu até 22 de novembro, 1.009 novos casos de dependência química. Desse total, 444 era usuários de crack (44%), número maior do que o de viciados em álcool e outras drogas.

“Há um grupo de dependentes que está fora do convívio social e produtivo e aquele que está na iminência de precisar de atendimento. A Organização Mundial da Saúde trabalha com o dado de que 10% da população está acometida por dependência química. Se trouxermos esse dado para Minas, no que a gente chama de cálculo arquétipo, só atendemos um quinto do desejado”, afirma.

O plano nacional tem como lema “Crack, é possível vencer” e o conjunto de ações envolve esforços dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Estados e municípios terão de se inscrever no programa e pleitear recursos e projetos. No que diz respeito ao tratamento, toda a rede passará a ter serviços 24 horas por dia. Haverá abertura de novos “consultórios de rua” para atendimento da população viciada e exposta aos riscos, criação de leitos, enfermarias especializadas e unidades para crianças e adolescentes, além da implantação do programa Tele-Saúde para troca de experiências em tempo real.

A proposta também determina a ampliação dos centros de atendimento psicossocial – álcool e drogas (Caps-AD). Em Minas, segundo a Secretaria de Saúde, são apenas 13 unidades. Para o ano que vem, há expectativa de inauguração de 20.

No primeiro semestre deste ano, de acordo com o Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas (Cread), porta de entrada para o tratamento público, 8.459 pessoas foram atendidas. Neste mesmo período foram contabilizados 668 retornos. Entre janeiro e junho de 2010, foram 4.687 atendimentos e 397 retornos.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que os quatro centros de referência em saúde mental, Álcool e Droga de Belo Horizonte (Cersam-AD) atendem 70 usuários em sistema de permanência por dia. No único setor infantil, são 17 por dia. A secretaria diz que não faltam vagas e que as duas equipes de consultórios de rua abordam cerca de 100 dependentes por dia.

TRÁFICO Para a segurança, o Ministério da Justiça vai contar com integração e inteligência para enfrentamento das organizações criminosas e traficantes de drogas. Há planejamento para aplicação de policiamento ostensivo e de proximidade em cracolândias, instalação de bases móveis com câmeras e monitoramento de criminosos. O ministro José Eduardo Cardozo afirmou que vai ampliar o efetivo da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal e definir ações específicas e sigilosas para as rotas de tráfico, mapeadas pelo número de apreensões. Há ainda capacitação e programas de prevenção voltados às escolas.

Durante o lançamento do plano, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff assinou projeto de lei para acelerar a destruição de entorpecentes apreendidos pelas polícias e agilizar o leilão de bens de traficantes. O PL também trata de modificações na lei de enfrentamento ao crime organizado e lavagem de dinheiro. Em outra mensagem ao Congresso Nacional, a presidente cria o Sistema Nacional de Estatística e Análise de Segurança Pública. “Não posso traçar políticas públicas e metas na área de segurança com dados de três anos atrás. O próprio mapa da violência é feito com dados do Sistema Único de Saúde de 2008. Por incrível que pareça, ainda não existe um sistema integrado com informações de todos os estados”, criticou o ministro.

 

 

DEPOIMENTO

 

 

“Não quero que minha familia me veja assim”

“Quando vim de Colatina (ES) para BH, em 2007, já cheirava cocaína, mas foi aqui que entrei de cabeça no crack. Arrumo os trocados para comprar a pedra pedindo na rua, vendendo lata e sucata que cato. Fumo o dia inteiro, aqui perto da boca de fumo, onde (os traficantes) trazem as pedras (a R$ 5 cada). A gente nem vê a hora passar. É tudo muito louco. Mas sinto a discriminação de quem passa. Se quero ajuda? Quando a gente chega ao hospital, apavorado, achando que vai morrer, os médicos e enfermeiros nos esculhambam. ‘Vai, fuma mesmo, noiado’, eles dizem. Sinto falta da minha mulher, das minhas duas filhas e duas netas que moram em Santa Luzia. Mas não quero que me vejam assim. Prefiro que me vejam morto, quieto, dentro do caixão. Queria ajuda para parar. Acho que quando passar minha condicional, em quatro meses, largo a droga e volto para minha terra. Fui preso e fiquei 11 meses na cadeia, só porque tinha umas pedras. Era coisa de usuário, mas me fizeram perder quase um ano da minha vida na prisão. Se vou continuar fumando lá, só Deus sabe”

 M.C., de 41 anos,


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)