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Estado de Minas

Silicone pode ter causado cegueira de motorista


06/12/2011 06:00 - atualizado 06/12/2011 07:07

Jaeder de Oliveira perdeu a visão do olho esquerdo
Jaeder de Oliveira perdeu a visão do olho esquerdo (foto: JACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS)

 

Depois de ser atingido no olho esquerdo por um morcego que entrou na cabine de seu caminhão, o motorista Jaeder de Oliveira foi submetido a uma cirurgia para corrigir o descolamento da retina. Mas o resultado do procedimento foi o inverso do pretendido. Jaeder ficou cego. Mais tarde, ao ser submetido a uma perícia pública determinada pela Justiça do Trabalho, o motorista foi surpreendido por um laudo que jamais poderia supor: o documento público apontou que na sua cirurgia, em vez do produto medicinal, teria sido usado óleo de silicone industrial, bastante vendido para lustrar pneus e painéis de automóveis. Ele foi submetido a cirurgia no Centro Oftalmológico de Minas Gerais, no Bairro de Lourdes, Centro-Sul de BH. “A constatação é grave, porque durante 10 anos (de 1997 a 2007) o procedimento pode ter atingido outros pacientes ”, diz o responsável pelo laudo, o médico oftalmologista Breno Tirado.

O especialista é também autor da denúncia encaminhada para a Promotoria de Saúde do Ministério Público estadual. Amanhã, o mesmo documento segue para a Promotoria de Defesa do Consumidor. Ao entrar com uma ação trabalhista para apurar o acidente que ocorreu durante o trabalho, o motorista foi submetido à perícia médica. O laudo apontou que ele havia ficado cego devido ao uso indevido do silicone. A grosso modo, Breno Tirado explica que o silicone industrial é perigoso, porque se movimenta dentro do olho. No caso de Jaeder, teria bloqueado a saída do líquido que circula dentro do óleo provocando a pressão alta ocular ou o glaucoma, exatamente, o, que segundo a perícia, teria levado o motorista a ficar cego. Além do risco de deslocamento, o silicone industrial pode provocar infecções, já que não é esterilizado e depende de rígido controle sanitário.

Como a cirurgia do motorista foi feita em 2007, a conclusão da perícia ocorreu depois de diversos exames, análise de ultrassonografias e depoimentos de dois funcionários da clínica. “Eles contam como durante 10 anos compraram silicone industrial no mercado. O funcionário chega a ressaltar que antes de realizar a compra tirava o uniforme do hospital.” No processo é relatado ainda que o óleo de silicone comprado no mercado custava, na época, R$ 36 o litro, enquanto cem mililitros do produto medicinal custava R$ 1,1 mil.


Defesa

Advogado Roberto Toledo diz que denúncia não procede
Advogado Roberto Toledo diz que denúncia não procede (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS)
O advogado do Centro Oftalmológico de Minas Gerais, Roberto Toledo, afirmou que as denúncias não procedem. “Nunca houve manipulação de silicone que não fosse de uso medicinal. Há atualmente quatro processos na Justiça contra o hospital, mas nenhum contra o uso de óleo de silicone”, disse. Segundo ele, a clínica passa por constantes fiscalizações surpresa da vigilância municipal, estadual e federal, mas nada de irregular foi encontrado em 44 anos de história do tradicional centro clínico. “Nos processos já enfrentados, nunca houve condenação judicial, seja por erro médico ou por uso de substância ilegal. Todo nosso material sofre auditoria interna e externa e temos, inclusive, o ISO 9001, que certifica a nossa qualidade.”


Toledo disse que o óleo de silicone é usado em cirurgias específicas e é de uso comum. Especificamente sobre o caso de Jaeder Ferreira de Oliveira, Toledo sustenta que o Centro Oftalmológico é apenas parte de um processo trabalhista do paciente contra a empresa na qual ele trabalhava como motorista. “Ele foi atendido aqui. No processo, nos solicitaram mais informações sobre a procedência do óleo de silicone. Apresentamos as notas fiscais de compra em conformidade com a Anvisa e o juiz nos intimou para retirar a documentação porque não havia nada a ser questionado.” Sobre a possibilidade de abertura de inquérito no MP, Toledo destacou que qualquer solicitação será atendida.

 

Ação na Justiça e na OAB

 

Perito Breno Tirado aponta uso de silicone industrial na cirurgia
Perito Breno Tirado aponta uso de silicone industrial na cirurgia (foto: JACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS)
O laudo público do motorista Jaeder de Oliveira, que apontou uso de óleo de silicone não medicinal em cirurgia oftalmológica, gerou denúncia no Ministério Público, mas também provocou outras repercussões acerca do material médico usado em cirurgias. Uma ação civil também foi distribuída na 5ª Vara Civel da Justiça estadual. “Vamos acionar também a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG) para acompanhar esse caso”, informou Antônio Carlos Teodoro, advogado do motorista que perdeu a visão do olho esquerdo.

Segundo Teodoro, que é conselheiro da OAB, o caso é tão grave que merece investigação com participação do Tribunal de Contas. “Para o esclarecimento devido, todas as notas fiscais das cirurgias realizadas no período indicado pela perícia pública devem ser apresentados e verificados.”

De hábitos simples, Jaeder comentou que não teve oportunidade de perguntar ao médico porque ficou cego, mas, quando foi submetido a uma segunda cirurgia para retirar parte do silicone adicionado no primeiro procedimento cirúrgico, foi comunicado de que o fato ocorreria. Ao perder a visão, Jaeder também perdeu a profissão, já que está impedido de dirigir. “Parei de estudar na sexta série (ensino fundamental). Desde pequeno sempre gostei do caminhão. Agora, o INSS me mandou fazer um curso de informática. Vou ter de encontrar nova profissão.” Aos 50 anos, pai de duas filhas e avô de um menino, ele mostra o acompanhamento médico feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto a pressão do olho sadio é de 18, o olho esquerdo, que ficou cego e doente, tem pressão de 36, às vezes chegando a 60.

O perito Breno Tirado disse ainda que o único óleo de silicone autorizado para cirurgias é o medicinal de alta viscosidade, diferente de produtos de média e baixa viscosidade encontrados no mercado. O Ministério Público informou, por meio da assessoria de imprensa, que “a representação ainda não chegou à Promotoria de Saúde, pois ainda está na parte de trâmite administrativo”.

SAIBA MAIS

COMO DENUNCIAR

Diante de qualquer suspeita de irregularidade em um atendimento ou estabelecimento médico, o cidadão pode entrar em contato com a Vigilância Sanitária Municipal pelo telefone 156. Teclar opção 4 (outros serviços), seguida da 1 (saúde). Para formalizar a denúncia, que pode ser identificada ou anônima, é preciso saber o endereço completo do local que será denunciado. Também pode-se recorrer ao SAC, via internet (www.pbh.gov.br). A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa que inclui as reivindicações nas inspeções de rotina. As clínicas médicas que usam materiais proibidos em seus procedimentos são autuadas e o material é apreendido.


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