Jornal Estado de Minas

BRT traz muitas dúvidas sobre o que está por vir

As intervenções estão a pleno vapor
Basta olhar nos canteiros de obras das avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado para perceber que algo diferente – e grande – está a caminhoEntre especialistas de trânsito, o assunto é naturalMas, para quem usa o transporte coletivo todos os dias em Belo Horizonte, o termo BRT (Bus Rapid Transit, ou transporte rápido por ônibus, na sigla em inglês) é quase uma incógnitaA percepção é geral e os relatos são unânimes: muita gente já ouviu falar, mas não tem a menor ideia do que se trataDo imaginário, saem as mais diversas apostasHá quem acredite que o metrô, finalmente, sairá do papel com um nome mais modernoOutros apostam que a sigla representa o resgate de modelos do passado, como bondes ou trólebusE há quem simplesmente nem arrisque uma resposta.

O Estado de Minas ouviu 10 pessoas, moradoras de várias regiões da capital e Grande BHNenhuma delas soube definir o que é o BRTA aposentada Maria Lúcia de Azevedo, de 69 anos, moradora do Bairro Ouro Preto, na Pampulha, repete o discurso da funcionária pública Nadir de Aquino, de 67, ao se lembrar do trólebus
“Era muito bom, não sei por que acabouTem alguma coisa a ver?”, questionaO trólebus, ou ônibus elétrico (que se movimenta conectado a uma rede de fios) foi implantado em BH no início da década de 1950No fim da década seguinte, parou de circular, sob alegação de alto custo de operação e da rede elétricaEm 1986, foram feitos novos estudos para reimplantaçãoNa ocasião, foi feita concorrência pública para a compra de novos carros que trafegariam no sistema a ser construído na Avenida Cristiano MachadoNo fim de 1987, as obras foram interrompidas, ônibus ficaram nas garagens das empresas e nunca mais se tocou no assunto.

Para a universitária Carolina Ferreira dos Santos, de 24, moradora do Bairro Mantiqueira, na Região Norte da capital, o novo modal é tema que ainda precisa ser discutido com a população“Esperávamos pelo metrô e agora só falam nesse tal de BRTAté hoje não entendi o que é issoA única coisa que sei é que estão quebrando toda a Antônio Carlos, que foi construída outro dia mesmo, numa clara demonstração de falta de planejamento e de desperdício do dinheiro público”, critica.

O tema, que ainda não está claro para a população, é dúvida até entre estudiosos
Em pesquisa sobre a logística do transporte urbano de Belo Horizonte para seu curso de MBA, o marketólogo Helder Michetti indica pontos considerados essenciais para atender as necessidades da população no transporte coletivo e as demandas das copas do Mundo e das ConfederaçõesEntre eles, está a necessidade de desafogar o tráfego de acesso às principais cidades vizinhas e de priorizar o conforto dos passageiros, dando mais segurança e eficiência ao sistema existente e a ser implantado.

Para ele, a nova aposta ainda não está bem explicada“Parece que estão trabalhando numa justificativa à falta do metrô, uma maquiagem para simular um conforto maiorNão acho que responderá à necessidade de maior rapidez e fluidezHaverá um canal exclusivo para esses veículos, mas e o restante das vias?”, questiona.

ESCOLHA
Dois modelos estão em estudo para circular nos corredores do BRTUm deles é um veículo com 18,6 metros de extensão e 2,5m de largura, motor traseiro a biodiesel e capacidade para 160 passageiros, sendo 47 sentadosO modelo conta com portas laterais à esquerda, poltronas ergométricas e corredores amplos para o deslocamento de passageirosÉ o mesmo modelo que circula em Curitiba (PR), São Paulo (SP), no Chile e na Colômbia.

A outra opção tem 20m de extensão e 2,6m de largura, motor central a diesel e capacidade para transportar até 160 passageiros, sendo 58 sentadosO modelo também conta com portas laterais à esquerda, poltronas ergométricas e corredores amplosTem área envidraçada nas janelas, ar-condicionado, três locais para acomodação de bicicletas e espaço no teto para informação aos passageirosEsse modelo ainda não circula em nenhuma cidade brasileira.