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Estado de Minas

Imagem de Nossa Senhora do Rosário, do século 18, é restaurada

Após passar décadas com sua beleza escondida e retorna ao lugar de origem,o Santuário de Santa Luzia


31/10/2011 07:12 - atualizado 31/10/2011 07:16

Tânia Maria Fortunato deixou de assistir à missa no Mosteiro de Macaúbas para ver a santa. Imagem estava encoberta por gesso e tinta a óleo
Tânia Maria Fortunato deixou de assistir à missa no Mosteiro de Macaúbas para ver a santa. Imagem estava encoberta por gesso e tinta a óleo (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press. Brasil. )

Beleza encoberta pela tinta a óleo, formas escondidas por uma camada de gesso e falta de brilho causada pela ação do tempo. Intervenções inadequadas. Uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, do século 18, voltou na noite de ontem ao seu altar, no Santuário de Santa Luzia, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, depois de quatro meses de restauração que lhe devolveu o esplendor original. Às 19h, houve missa e cerimônia celebradas pelo titular da paróquia, padre Danil Marcelo dos Santos, com emoção extra garantida pela Guarda de Moçambique de Nossa Senhora da Guia. Como ocorre tradicionalmente nas festas dedicadas à santa, o grupo de congado só entrou no templo depois de pedir licença. A porta principal foi aberta e todos seguiram até a capela-mor dançando e entoando seus cânticos, que vêm do tempo dos escravos.

Segundo o padre Danil, todas as imagens da igreja estão sendo preservadas com o dinheiro do dízimo ofertado pela comunidade. “A restauração da imagem de Nossa Senhora do Rosário, especialmente, foi custeada por uma paroquiana que preferiu o anonimato. Já o terço que a santa traz nas mãos foi presente de dona Tiná Silva, vizinha do santuário”, informou. O pároco disse que foram restauradas as imagens de São Benedito, São Lázaro, São Hilário, Santana Mestra e São Miguel Arcanjo. Ainda neste mês, está previsto o retorno de mais duas – Santo Antônio e São Sebastião, igualmente recuperadas. “No santuário, temos mais cinco para restauro, incluindo um calvário. Na sequência, vamos cuidar do patrimônio das igrejas do Rosário e do Bonfim, também com o apoio dos católicos. São bens culturais e espirituais da cidade e temos que preservá-los.”

Desde a manhã, muitos fiéis foram até a sacristia da igreja matriz para ver o trabalho feito pela restauradora Carla Castro Silva e fazer suas orações. Moradora da localidade de Macaúbas, na zona rural, a 15 quilômetros do Centro da cidade, a dona de casa Tânia Maria Fortunato trocou a missa da manhã, tradicionalmente celebrada no Mosteiro de Macaúbas, pela liturgia no santuário, só para ver a santa. “Tenho muita devoção por ela e não poderia deixar de vir. Ela está muito mais bonita”, comentou Tânia, comparando com as fotos anteriores da santa mostradas num cartaz.

O casal José Fernando e Ângela Maria da Silva, do Bairro São Benedito, também foi à missa das 10h e conferiu o resultado na sacristia. Os dois gostaram do que viram. “É bom admirar um serviço assim, que traz de volta a cor, o brilho e as formas”, afirmou. A dona de casa Vânia Marques Costa, moradora do Bairro Boa Esperança, ficou feliz: “Todas as vezes que saio de casa, peço a proteção de Nossa Senhora do Rosário. Fomos vizinhas durante muitos anos”, brincou Vânia, que morou, antes de se casar, quase em frente à igreja dedicada à santa, na Rua Direita, no Centro Histórico.

A Matriz de Santa Luzia está em área tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e os bens são protegidos pelo município. Todas as peças estão inventariadas pela Arquidiocese de Belo Horizonte.

BARROCO PORTUGUÊS

A restauradora Carla destacou a importância da peça sacra, esculpida em madeira em meados do século 18, no estilo barroco português. “É uma imagem muito bonita, que está sorrindo. A santa e o menino têm dentes, mas eles estavam pretos de tanta sujeira. No geral, a escultura estava muito degradada, exigindo cuidado urgente", explicou Carla. No início do século 20, uma intervenção inadequada deu “um banho” de gesso associado a uma pintura a óleo azul. A ação fez com que a superfície perdesse 60% da policromia. “Foi uma remoção muito difícil”, contou a especialista. Os cupins também fizeram muitos estragos na imagem, abrindo galerias na madeira.

Quem vê agora a imagem nota um brilho especial na coroa da santa, confeccionada em prata e folheada a ouro. Carla contou que ela estava com uma tinta escura cobrindo todo o metal. O Menino Jesus estava sem a sua coroa e o padre Danil tratou de mandar fazer outra em São João del-Rei, no Campo das Vertentes. “Agora, a peça está completa”, disse com alegria. Na noite de ontem, a peça voltou ao altar pelas mãos de Maria Matos e Francisco de Mattos Souza, “reis” da festa de Nossa Senhora do Rosário. No próximo domingo, haverá cortejo a partir das 8h, com descida do mastro e despedidas dos congados.

Enquanto isso...
...acervo é tema de exposição
Até dia 14, moradores e visitantes poderão ver a exposição Resgatando imagens, preservando nossa fé, em cartaz no Solar da Baronesa, na Rua Direita, 408, no Centro Histórico de Santa Luzia. A promoção é da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, com apoio da prefeitura local, que exibe fotos e reportagens de três tempos da luta pela preservação do patrimônio cultural, com grande parte do material documentado e cedido pelo Estado de Minas: a recuperação de 10 imagens furtadas, inclusive a padroeira Santa Luzia, e recuperadas em 1971; a campanha para retorno de três anjos que iriam a leilão no Rio de Janeiro (2003); e o trabalho da paróquia do Bairro da Ponte, que, este ano, conseguiu que antigos moradores fizessem a devolução de imagens sob seus cuidados. A organização da mostra é de Adalberto Andrade e Elizabete Tófani.



Encontro para valorizar as comunidades


Moradores de nove municípios participaram, no fim de semana, em Jaboticatubas, na Grande BH, do Balaio do Patrimônio/Serra do Cipó, promovido pela Superintendência em Minas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “É impressionante a diversidade cultural da região, com uma série de atividades e tradições”, destacou, ontem, o superintendente do órgão federal, Leonardo Barreto de Oliveira. Estavam presentes moradores das comunidades de Conceição do Mato Dentro, Congonhas do Norte, Dom Joaquim, Itambé do Mato Dentro, Jaboticatubas, Morro do Pilar, Santana do Riacho, Santo Antônio do Rio Abaixo e São Sebastião do Rio Preto.

O encontro, segundo os organizadores, serviu para valorizar ainda mais os patrimônios material e imaterial e apresentar novas etapas de um trabalho desenvolvido com as comunidades da Serra do Cipó. O Balaio do Patrimônio/Serra do Cipó é resultado do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) – Levantamento Preliminar, desenvolvido na região de novembro de 2010 a junho. O INRC é uma metodologia desenvolvida pelo Iphan que tem como meta a produção de conhecimento sobre as referências culturais presentes no território brasileiro – no caso do INRC Serra do Cipó, essa metodologia foi aplicada levando-se em consideração a riqueza cultural da região identificada no Mapeamento Cultural de Minas Gerais, feito pela superintendência do Iphan entre 2008 e 2009.

Na primeira etapa do INRC Serra do Cipó foram identificados em torno de 380 bens culturais distribuídos nas cinco categorias que organizam a metodologia: saberes e ofícios; formas de expressão; celebrações; lugares; edificações. Os técnicos informam que foi incluída uma sexta categoria – mestres e artesãos – para destacar a importância das pessoas que detêm conhecimentos sobre artes tradicionais e populares, a exemplo de confecção de chapéus de palha. Sem essas pessoas, dizem, o conhecimento não pode ser transmitido às gerações futuras.


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