Jornal Estado de Minas

Risco de dois edifícios do Buritis desabarem é iminente

Defesa Civil reconhece risco iminente em prédios no Buritis e impede condôminos de retirar até objetos pessoais. Enquanto órgãos de fiscalização e controle se eximem de apontar responsáveis, desalojados não sabem a quem recorrer e situação vira novela de final incerto

Guilherme Paranaiba Valquiria Lopes

Equipes constataram inclinação nos prédios. Dois estão interditados e o terceiro, em obras, foi isolado - Foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press

 

O empresário Eduardo Bianchini terminava de retirar os últimos móveis do apartamento em que vivia, no número 211 da Rua Laura Soares Carneiro, Bairro Buritis, Oeste de BH, quando chegou a ordem da Defesa Civil: ninguém mais poderia entrar no Edifício Vale dos Buritis a partir daquele momentoBianchini não teve tempo de retirar a cama de dentro de casaNem sabe quando, ou se, poderá fazer issoO destino dele e das outras oito famílias que viviam no condomínio e no vizinho Art de Vivre caminha para se tornar uma novela de fim imprevisívelPrédios lacrados e moradores impedidos até de pegar objetos pessoais, os órgãos responsáveis pela fiscalização e controle de obras e posturas não dão sinais de indicar solução para o impasseMuito menos de apontar responsabilidadesTudo caminha para desaguar na Justiça, em uma repetição do que ocorreu há um ano e meio no Bairro Anchieta, Centro-Sul de BH, quando as obras de um shopping provocaram a interdição de cinco prédios vizinhosDesde então, dezenas de moradores aguardam uma decisão judicial que garanta seus direitos.

Em um jogo de empurra, a Prefeitura de BH, por meio da Regional Oeste, afirma que os responsáveis técnicos é que devem responder por quaisquer problemas ou danos existentes nas obras que assinaramO Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia/Seção Minas Gerais (Crea Minas), com base em vistoria feita nas edificações, ainda na fase de obras, informou que não havia irregularidades e que o profissional responsável é que deve se pronunciarEnquanto isso, moradores, o lado mais vulnerável do impasse, não têm a mínima ideia do que esperar do futuro.

O engenheiro responsável pelos dois prédios em construção, ambos agora isolados, assim como o Vale dos Buritis, afirma que só vai se pronunciarem “momento oportuno”O empresário Eduardo Bianchini precisou sair às pressas, mas foi o único que conseguiu retirar quase toda a mudança do prédio condenado

“Por sorte consegui alugar um apartamento no Bairro Castelo (Região da Pampulha),do outro lado da cidade, mas a dificuldade de resolver tudo de última hora é enormeTive que sair correndo com minha mulher, grávida de 4 meses, e com um filho de 7 mesesA única coisa que ficou pra trás foi uma cama”, afirma o empresário.

A suspensão da retirada dos objetos foi determinada pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), em nova vistoria na manhã de ontemDe acordo com o coordenador da Comdec, coronel Alexandre Lucas, a situação se agravou: foram descobertas trincas e rachadurasnos pilares que sustentam os dois edifícios interditados, o que tornou arriscada qualquer movimentação dentro dos prédios“A situação encontrada pelos técnicos mostra que o risco de desabamento é iminente”, afirma o coronel.

A supervisora de call center Rita de Cássia Piumbini não teve a mesma sorte do vizinho Bianchini: ficou impedida de tirar qualquer objeto de dentro de casa“A gente fica literalmente sem chãoAqueles apartamentos eram o único patrimônio que tínhamosNão temos para onde correr”, desabafa a supervisoraEla ainda reclama da inoperância dos órgãos que poderiam resolver a situação“É burocracia para todos os lados
Agora, só nos resta esperar” completaRita faz parte das seis famílias moradoras do Vale dos Buritis beneficiadas pela decisão da Justiça, que ordenou as obras de reestruturação do prédio pela empresa Estrutura EngenhariaO juiz deu prazo de 24 horas para o recomeço das intervenções, assim que a empresa tome oficialmente conhecimento da decisão

De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG),o mandado foi encaminhado ao oficial de Justiça e o processo já está a cargo de perito designado para determinar qual é a demanda real dos moradores, em virtude da situação agravada do prédioO advogado da Estrutura Engenharia afirmou que vai recorrer da decisão, por entender que a deterioração do edifício foi causada por “agressões vindas da rua, como a penetração da água da chuva no solo em virtude da ausência de uma rede de drenagem pluvial”A advogada Karen Teixeira, que representa os moradores, tampouco está satisfeita com a decisão, e diz que o pedido de reestruturação já está defasado“Em virtude do avanço da situação, entendemos que agora só a reconstrução do prédio resolve o problema”, diz a advogada .

Ontem, no fim da tarde, engenheiros da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) estiveram na Rua Laura Soares Carneiro para vistoriar os edifíciosEles foram acompanhados pelo engenheiro da Defesa Civil Eduardo Augusto Pedersoli RochaDe acordo com o profissional da Comdec, não foi possível adiantar nenhuma informação a partir da visita dos técnicos da prefeituraEle disse apenas que a situação dos prédios está se agravando e que a evolução é imprevisível.

Especialista faz raio x do Bairro Buritis e condena o soloVeja: