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Estado de Minas

Desrespeito às leis de trânsito vira praga em Belo Horizonte

Especialistas recomendam prevenção para jovens e mais punição para veteranos


postado em 25/10/2011 06:00 / atualizado em 25/10/2011 08:40

Venda Nova - EM flagrou vários carros avançando sinal para entrar na Avenida Padre Pedro Pinto ontem à tarde(foto: Marcos Michelin/EM/D. A Press)
Venda Nova - EM flagrou vários carros avançando sinal para entrar na Avenida Padre Pedro Pinto ontem à tarde (foto: Marcos Michelin/EM/D. A Press)

Nem mesmo quem ensina dá o exemplo e respeita as leis de trânsito. Passava das 13h de ontem quando um carro de autoescola dirigido por uma aprendiz de motorista ultrapassou o sinal vermelho na esquina da Rua Maria Macedo com a Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Nova Suíssa, Zona Oeste de Belo Horizonte. Nítida falta de educação. A jovem sorridente nem mesmo se constrangeu. Virou à esquerda e seguiu seu caminho, rumo à tentativa de tirar a carteira de habilitação. O exemplo de desrespeito à legislação é um caso comum em toda a BH. Não importa a região da cidade nem a classe social do motorista infrator. É ele quem contribui para o trânsito caótico de todo dia, prejudicado também pelo achaque de flanelinhas ilegais. Em áreas nobres ou na periferia, não faltam flagrantes da incivilidade e ausência de espírito coletivo. Segundo especialistas, as campanhas de conscientização devem ser permanentes, mas voltadas para ações efetivas.

O consultor em trânsito Osias Batista ressalta que mobilizações destinadas a adolescentes são fundamentais. “A sociedade criou algo tão competitivo que tudo aquilo que se investe no menino até os 10 anos de idade se perde depois. É preciso dar continuidade. Falta uma ação mais forte com quem está começando a dirigir e vai transformar o trânsito de hoje”, diz. Para os adultos, ele defende ações mais incisivas e punição. “Não tem que dar aula para adulto, pois quem tirou carteira jurou obedecer à lei. Nas campanhas, é preciso dizer que falta de educação no trânsito mata, custa dinheiro e congestiona o tráfego. Elas devem ser menos lúdicas e mais efetivas. Dragão chinês na rua não leva a nada”, ressalta, referindo-se a um personagem das campanhas da BHTrans.
Você flagrou infrações de trânsito? Clique aqui e mande suas fotos, vídeos e depoimentos
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O instalador de piso Marcos Vinícius Pereira Batista, de 27 anos, concorda que punição é o melhor remédio, mesmo tendo ele mesmo cometido uma infração. Ontem, estava parado na faixa de pedestre na Praça da Matriz, no Centro de Venda Nova, enquanto esperava um amigo que tinha ido ao cartório. “O motorista de BH e de nenhum lugar do país respeita lei de trânsito. Brasileiro só aprende quando dói no bolso, pois ele não tem cultura”, afirmou. “Sei que estou errado, mas estou dentro do carro e com o pisca-alerta ligado. Qualquer um que me pedir para sair, eu saio. Não tem lugar para parar e pagar estacionamento é um absurdo”, justificou.

O dinheiro para educação no trânsito vem da receita das multas. A prefeitura arrecadou, no primeiro semestre, R$ 4,9 milhões. Responsável por gerenciar o trânsito na capital, a BHTrans diz que investiu R$ 3,6 milhões em campanhas educativas no primeiro semestre deste ano, descontado o repasse obrigatório de 5% para o governo federal. O valor destinado para educação no trânsito é menor que o aplicado no mesmo período do ano passado, quando a verba atingiu R$ 5,5 milhões. A explicação do presidente do órgão, Ramon Victor César, é de que comerciais de televisão e anúncios no rádio encareceram as despesas dos primeiros seis meses de 2010. Esse tipo de divulgação será ampliado a partir de agora.

“O administrador público sempre quer investir mais, mas temos limitações. Dos gastos com a receita das multas, 64,5% foram usados nas operações de tráfego e fiscalização de trânsito, 24% em manutenção e implantação de sinalização e 11,5% com segurança e educação. Nossa intenção é pelo menos chegar aos R$ 10,6 milhões de 2010 (R$ 8,8 milhões, levando-se em conta o desconto para o Denatran). Desde 2009, quando investimos R$ 7,3 milhões em campanhas de conscientização em Belo Horizonte, estamos aumentando os investimentos”, explicou.

Candidatos a motoristas

A BHTrans também ampliou o público das abordagens educativas. Desde março, jovens candidatos a carteiras de motoristas estão acompanhando palestras de educadores do órgão em suas escolas. Até setembro, foram 3.896 alunos com idades entre 16 e 18 anos até setembro. De acordo com o presidente do órgão, foi possível perceber no bate-papo com os estudantes que os de escolas da periferia pretendem concluir os estudos e começar a trabalhar para comprar uma moto. Aqueles das escolas particulares de bairros nobres, por sua vez, querem tirar carteira para dirigir o carro que podem ganhar dos pais se aprovados no vestibular. Há ainda campanhas para crianças de 7 a 9 anos, que visitam o Circo Transitando Legal da BHTrans, e para grupos com idades de 10 a 14 anos, que recebem os educadores em suas escolas para discutir questões de mobilidade urbana, regras de trânsito e respeito ao próximo. Entre janeiro e setembro deste ano, 35.759 crianças participaram das atividades.

A ideia é que, no futuro, não cometam infrações como as flagradas ontem pela reportagem. Na Avenida Silva Lobo, no Bairro Grajaú, na Região Oeste de BH, perto de vários restaurantes, dezenas de carros estavam parados em locais onde é proibido estacionar e em pontos de ônibus. O mesmo ocorre no Bairro Parque São Pedro, em Venda Nova, na Rua Severino Lara, segundo taxistas da região.

Palavra de especialista


Silvestre Andrade consultor em trânsito - Participação da escola

Sou muito favorável à ideia de ir às escolas. Mas se as escolas não se envolverem, nada disso é suficiente. Elas têm um compromisso com a formação dos alunos, que não pode ser só acadêmica, mas sim para a vida. E não podem ficar omissas diante da falta de respeito à sociedade e da falta de valores e de civilidade. Trânsito é questão de sobrevivência, e mata. O número de mortes é grande, os problemas de trânsito são enormes e a cidadania não se aprende só para tirar carteira de motorista. O que a BHTrans investe é teoricamente, suficiente para a parte dela. Mas isso é apenas o começo da caminhada.

 

 

 


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