Jornal Estado de Minas

Desrespeito às leis de trânsito vira praga em Belo Horizonte

Especialistas recomendam prevenção para jovens e mais punição para veteranos

Junia Oliveira Paula Sarapu

Venda Nova - EM flagrou vários carros avançando sinal para entrar na Avenida Padre Pedro Pinto ontem à tarde - Foto: Marcos Michelin/EM/D. A Press


Nem mesmo quem ensina dá o exemplo e respeita as leis de trânsitoPassava das 13h de ontem quando um carro de autoescola dirigido por uma aprendiz de motorista ultrapassou o sinal vermelho na esquina da Rua Maria Macedo com a Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Nova Suíssa, Zona Oeste de Belo HorizonteNítida falta de educaçãoA jovem sorridente nem mesmo se constrangeuVirou à esquerda e seguiu seu caminho, rumo à tentativa de tirar a carteira de habilitaçãoO exemplo de desrespeito à legislação é um caso comum em toda a BHNão importa a região da cidade nem a classe social do motorista infratorÉ ele quem contribui para o trânsito caótico de todo dia, prejudicado também pelo achaque de flanelinhas ilegaisEm áreas nobres ou na periferia, não faltam flagrantes da incivilidade e ausência de espírito coletivoSegundo especialistas, as campanhas de conscientização devem ser permanentes, mas voltadas para ações efetivas.

O consultor em trânsito Osias Batista ressalta que mobilizações destinadas a adolescentes são fundamentais“A sociedade criou algo tão competitivo que tudo aquilo que se investe no menino até os 10 anos de idade se perde depois
É preciso dar continuidadeFalta uma ação mais forte com quem está começando a dirigir e vai transformar o trânsito de hoje”, dizPara os adultos, ele defende ações mais incisivas e punição“Não tem que dar aula para adulto, pois quem tirou carteira jurou obedecer à leiNas campanhas, é preciso dizer que falta de educação no trânsito mata, custa dinheiro e congestiona o tráfegoElas devem ser menos lúdicas e mais efetivasDragão chinês na rua não leva a nada”, ressalta, referindo-se a um personagem das campanhas da BHTrans.
Você flagrou infrações de trânsito? Clique aqui e mande suas fotos, vídeos e depoimentos - Foto: O instalador de piso Marcos Vinícius Pereira Batista, de 27 anos, concorda que punição é o melhor remédio, mesmo tendo ele mesmo cometido uma infraçãoOntem, estava parado na faixa de pedestre na Praça da Matriz, no Centro de Venda Nova, enquanto esperava um amigo que tinha ido ao cartório“O motorista de BH e de nenhum lugar do país respeita lei de trânsitoBrasileiro só aprende quando dói no bolso, pois ele não tem cultura”, afirmou
“Sei que estou errado, mas estou dentro do carro e com o pisca-alerta ligadoQualquer um que me pedir para sair, eu saioNão tem lugar para parar e pagar estacionamento é um absurdo”, justificou.

O dinheiro para educação no trânsito vem da receita das multasA prefeitura arrecadou, no primeiro semestre, R$ 4,9 milhõesResponsável por gerenciar o trânsito na capital, a BHTrans diz que investiu R$ 3,6 milhões em campanhas educativas no primeiro semestre deste ano, descontado o repasse obrigatório de 5% para o governo federalO valor destinado para educação no trânsito é menor que o aplicado no mesmo período do ano passado, quando a verba atingiu R$ 5,5 milhõesA explicação do presidente do órgão, Ramon Victor César, é de que comerciais de televisão e anúncios no rádio encareceram as despesas dos primeiros seis meses de 2010Esse tipo de divulgação será ampliado a partir de agora.

“O administrador público sempre quer investir mais, mas temos limitaçõesDos gastos com a receita das multas, 64,5% foram usados nas operações de tráfego e fiscalização de trânsito, 24% em manutenção e implantação de sinalização e 11,5% com segurança e educaçãoNossa intenção é pelo menos chegar aos R$ 10,6 milhões de 2010 (R$ 8,8 milhões, levando-se em conta o desconto para o Denatran)Desde 2009, quando investimos R$ 7,3 milhões em campanhas de conscientização em Belo Horizonte, estamos aumentando os investimentos”, explicou.

Candidatos a motoristas

A BHTrans também ampliou o público das abordagens educativasDesde março, jovens candidatos a carteiras de motoristas estão acompanhando palestras de educadores do órgão em suas escolasAté setembro, foram 3.896 alunos com idades entre 16 e 18 anos até setembroDe acordo com o presidente do órgão, foi possível perceber no bate-papo com os estudantes que os de escolas da periferia pretendem concluir os estudos e começar a trabalhar para comprar uma motoAqueles das escolas particulares de bairros nobres, por sua vez, querem tirar carteira para dirigir o carro que podem ganhar dos pais se aprovados no vestibularHá ainda campanhas para crianças de 7 a 9 anos, que visitam o Circo Transitando Legal da BHTrans, e para grupos com idades de 10 a 14 anos, que recebem os educadores em suas escolas para discutir questões de mobilidade urbana, regras de trânsito e respeito ao próximoEntre janeiro e setembro deste ano, 35.759 crianças participaram das atividades.

A ideia é que, no futuro, não cometam infrações como as flagradas ontem pela reportagemNa Avenida Silva Lobo, no Bairro Grajaú, na Região Oeste de BH, perto de vários restaurantes, dezenas de carros estavam parados em locais onde é proibido estacionar e em pontos de ônibusO mesmo ocorre no Bairro Parque São Pedro, em Venda Nova, na Rua Severino Lara, segundo taxistas da região.

Palavra de especialista


Silvestre Andrade consultor em trânsito - Participação da escola

Sou muito favorável à ideia de ir às escolasMas se as escolas não se envolverem, nada disso é suficienteElas têm um compromisso com a formação dos alunos, que não pode ser só acadêmica, mas sim para a vidaE não podem ficar omissas diante da falta de respeito à sociedade e da falta de valores e de civilidadeTrânsito é questão de sobrevivência, e mataO número de mortes é grande, os problemas de trânsito são enormes e a cidadania não se aprende só para tirar carteira de motoristaO que a BHTrans investe é teoricamente, suficiente para a parte delaMas isso é apenas o começo da caminhada.