Jornal Estado de Minas

Flanelinhas invadem Savassi em plena revitalização

Em pleno processo de revitalização, calçadas e ruas são invadidas por flanelinhas e usadas livremente como estacionamento, sem reação da prefeitura e da Polícia Militar

Flávia Ayer
Grelha de água pluvial na Rua Antônio de Albuquerque não suporta peso de carros - Foto: Foto anônimo

A ação de flanelinhas, a falta de educação de motoristas e a omissão do poder público atropelam a Praça da Savassi antes mesmo do fim da reforma de uma das áreas mais emblemáticas de Belo HorizonteFora do controle da Polícia Militar (PM) e da prefeitura, flanelinhas transformam em estacionamento os quarteirões fechados do quadrilátero cortado pelas avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio VargasO desrespeito, somado à presença de vândalos que já deixaram marcas pela praça, resultou em pisos quebrados, bancos destruídos e canteiros de plantas esmagados.

Até mesmo de dia, nos fins de semana, o espaço virou território livre para veículosMas é à noite, a partir das 22h, que se transforma em alvo predileto de achacadores e oportunistas, de acordo com moradores que denunciam os abusos ao Estado de Minas e cobram resposta de órgãos públicosA ocupação irregular contrasta com a proposta de revitalização da Savassi, que prioriza o pedestre e tira 200 vagas de estacionamento.


O abuso é mais frequente no quarteirão da Rua Antônio de Albuquerque, esquina com a Rua Alagoas, próximo a boates e casas noturnasNa terça-feira, véspera de feriado do dia 12, flanelinhas orientavam motoristas a parar em cima do piso com massa fresca, assentado na tarde do mesmo diaCarros se espremiam sobre o canteiro que havia acabado de receber grama.

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No sábado, o EMviu a cena se repetir, com dois flanelinhas cercando veículos e indicando o local proibido como opção para estacionarAs telas que protegiam a obra estavam todas amontoadas em um canto e paralelepípedos de granito que isolavam a área foram arrastados para a lateralNinguém coibiu a ação, apesar de a Savassi inteira estar tomada de achacadores que cobravam R$ 10 pela vaga, com exigência de pagamento antecipado.


A atividade de flanelinha é proibida pelo Código de Posturas, documento que regula o uso do espaço público, desde meados do ano passadoQuem infringe a regra pode ser multado em até R$ 1.200, no caso de áreas no entorno da Avenida do ContornoQuando há extorsão, o assunto vira caso de polícia

São autorizados a trabalhar nas ruas e avenidas da capital apenas profissionais credenciados no Programa Lavadores e Guardadores de Carros da prefeituraAtualmente, 1.382 têm a permissãoOs guardadores são proibidos de exigir dinheiro e podem somente receber doações dos motoristas.


Arquiteta que assina o projeto de revitalização da Savassi, Edwiges Leal está revoltada com o desrespeito“Sabemos que os flanelinhas são pessoas marginalizadas, mas contam com a conivência de cidadãos que estão pagando pela obra, mas não valorizam esse patrimônio da cidade”, diz.


Edwiges conta que o piso – pré-moldado feito com falso granito – havia acabado de ser assentado em parte do quarteirão da Antônio de Albuquerque com Alagoas, e o impacto dos carros fez com que várias lajotas quebrassem“O material não tem resistência ao arraste, pois ainda não foi rejuntadoA grama havia acabado de ser plantadaOs carros também não poderiam passar sobre as grelhas de água pluvial, pois elas são sensíveis”, lamentaSem saber estimar o prejuízo, a arquiteta explica que cada metro quadrado instalado do piso na Savassi custa, em média, R$ 100, com a mão-de-obra.


Educação


Para quem mora e trabalha na região, o abuso é inconcebível“É um absurdo o que está ocorrendoNós, moradores e lojistas da Savassi, estamos sofrendo meses de transtorno com a obra e quando aparece o resultado acontece isso”, afirma o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Savassi, Alessandro Runcini, que também é diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL/Savassi)

Runcini afirma que flanelinhas sempre foram um problema na área“Antes de multar, também é fundamental educar os motoristas sobre o perfil que escolhemos para a Savassi”, diz, sem esquecer da necessidade de melhorar o transporte público na região.

Flanelinha orienta motoristas a estacionar sobre lajotas recém-instaladas na Antônio de Albuquerque - Foto: Foto anônimo 

 

Análise da notícia

Abuso e omissão Paulo Nogueira

Inaceitável, inadmissível, intolerável… São muitos os adjetivos para definir o abuso de motoristas sem noção de civilidade e de flanelinhas achacadores e a omissão do poder público diante da invasão da Savassi em plena reforma Uma das regiões mais nobres e charmosas de BH, a Savassi está em processo de revitalização ao custo de R$ 10,4 milhões, que agora pode ser maior diante da depredação na calada da noite e à luz do diaA falta de estacionamento de forma alguma justifica o que está acontecendo na regiãoAlém do prejuízo material, não dá para aceitar a ação criminosa dos supostos tomadores de contaCadê a PM, a Guarda Municipal, a BHTrans e os fiscais?