Jornal Estado de Minas

Surto de catapora assusta Formiga, no Centro-Oeste de Minas

Duas crianças, de 2 e 3 anos, morreram e mais de 300 pessoas foram infectadas em Formiga, no Centro-Oeste de Minas. Escolas estão recusando alunos que apresentam os sintomas

Simone Lima

Vinícius, de 1 ano, contraiu a doença na creche e está no hospital. A mãe não sabia que a varicela poderia ser tão grave - Foto: NANDO OLIVEIRA/ESP. EM/D. A PRESS

A cidade de Formiga, no Centro-Oeste de Minas, está em alerta por causa de um surto de catapora (varicela)Nos últimos dez dias, duas crianças morreram em decorrência da doença e mais de 300 pessoas foram infectadasO número é bem superior ao do ano passado, quando 47 casos e uma morte foram notificadas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde

Junto com a Santa Casa, o órgão está aconselhando os pais a ficarem atentos aos primeiros sintomas da doença, que é o surgimento de pequenas lesões no tronco (tórax e abdômen)As instituições de ensino estão sendo orientadas a não receber alunos com os sintomas“A transmissão tem ocorrido principalmente nas escolas e crechesO problema é que, grande parte das vezes, quando o sintoma aparece a criança já está transmitindo o vírus”, afirmou a coordenadora de Epidemiologia da secretaria, Juliana Castro.

A Secretaria de Estado de Saúde confirmou ontem que há um surto localizado em Formiga, município de quase 67 mil habitantes, e que o número concentrado de casos ainda não foi registrado em outras cidades do estadoNo dia 8 deste mês, uma menina de 3 anos chegou a dar entrada no pronto-atendimento, mas a mãe decidiu procurar um médico amigo da família em PiumhiO quadro dela era grave e a criança morreu antes de ser internadaDois dias depois, a vítima foi um menino de 2 anos que faleceu após deixar o pronto-socorroEle também não ficou internado
Nos dois casos, a varicela teria evoluído para um quadro de infecção.

Três crianças ainda estão internadas na Santa Casa e nenhuma corre risco de morteUma delas é o pequeno Vinícius, de 1 ano e sete mesesA mãe dele, a costureira Elidiane Cristina Ferreira, de 29 anos, acredita que o menino tenha contraído a doença na creche onde passa parte do dia“Começou com uma bolinha na bocaAchei que não era nadaDe uma hora para outra essas manchas começaram a formar feridas e espalhar pelo corpoDesde sábado estou aqui no hospital e não sei quando vamos poder ir para casa”, conta.

Mãe de 4 filhos, a dona de casa Roseli dos Reis Ferreira, de 30 anos, também passou o fim de semana no hospitalOs dois caçulas, Luciana, de 4, e Eros, de 3, também foram contaminadosAssustada, ela conta que só agora percebe a gravidade da doença“Meus dois mais velhos já tiveram catapora e não foi assim tão sério
Eu não sabia que essa doença podia ser grave a ponto de ter que internar as crianças”, afirma.

Altamente contagiosa, a catapora é uma doença aguda que aparece com mais frequência entre os meses de agosto e novembroOs sintomas principais são febre, falta de apetite, fadiga, dor de cabeça e o surgimento de lesões acompanhadas de forte coceiraO que pouca gente sabe é que, se não for tratada, ela pode levar ao óbito. 

Neste ano, Minas Gerais teve 14.188 casos da doença com 17 mortesSomente na Região Centro-Oeste, foram registrados até hoje 1.254 casos de varicela enquanto em todo o ano passado foram 1.979A vacina contra a varicela só está disponível na rede particular e custa cerca de R$ 160O Ministério da Saúde informou que estão sendo feitos estudos para que a imunização seja gratuita.

 

Francês dá entrada em upa com suspeita de sarampo

Na madrugada de ontem, um francês de 34 anos buscou atendimento na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Venda Nova com sintomas de sarampoDe acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, ele foi levado imediatamente para o Hospital Eduardo de Menezes, referência em doenças infectocontagiosas, onde passa por examesNa UPA, as pessoas que tiveram contato com ele, que veio de uma região onde há transmissão da doença, foram vacinadasDesde 2000, não há registro do vírus transmissor do sarampo no BrasilEm Belo Horizonte, o último caso foi em 1999

Estado teve recorde de casos em 2010

No ano passado, Minas Gerais teve o maior número de doentes por catapora até então notificadoDurante todo 2010, 28 pessoas morreram e foram registrados mais de 56 mil casos da doençaNa época, as cidades mais atingidas foram Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro, Governador Valadares, na Região Vale do Rio Doce, e Varginha, no Sul de MinasAs cidades responderam por quase metade de todos os casosA Região Metropolitana de Belo Horizonte, incluindo a capital, teve 25% das ocorrênciasOs números assustaram os especialistasAté então, o maior número de óbitos registrados no estado tinha sido em 2007, quando 12 pessoas morreram no estado vítimas da varicela.

FIQUE ATENTO

- Leve a criança ou vá ao médico quando perceber as primeiras lesões
- Isole a criança, não deixe que ela vá para a escola
- O indicado como tratamento é tomar muitos banhos por dia, pelo menos três, sempre lavando a cabeçaAs lesões aparecem nas áreas mais quentes do corpo: couro cabeludo, pescoço, virilha, axila
- Mantenha as unhas curtas para que ela não acumule bactérias
- Evite que a criança brinque em areia e terra
- Não use permanganato de potássioO produto está proibido e não é usado mais na rede SUS como tratamento da catapora
- Não use pasta d’água nas lesõesO produto acumula gordura no local e não deixa que a bactéria saia do organismo, propiciando sua proliferação
- Use sabonete neutro ou comum
- Não use remédio para febre como aspirina ou a base de ibuprofeno
- Se uma criança na casa estiver com catapora, vacine os outros parentes que nunca tenham pegado a doença

PALAVRA DE ESPECIALISTA

ANDRÉA LUCCHESI DE CARVALHO, infectologista pediátrica, presidente do Comitê de Infectologia da
Sociedade Mineira de Pediatria

Duas doses da vacina é o ideal
"A catapora é uma doença infectocontagiosa que aparece na pele e gera uma lesão específica, o exantema, que é uma mancha vermelhaDepois, ela fica mais gordinha, vira uma vesícula, quando dá uma água, e depois faz uma cascaA primeira manifestação é a bolinha no corpo e cada vez elas aumentam mais (quantidade) espalhando a partir do tronco - tórax e abdômen - e depois nas extremidadesNa criança a doença é comum porque é muito contagiosaDe acordo com a Anvisa, uma hora de contato já é considerado risco de contágioDois dias antes de aparecerem as lesões a doença pode ser transmitida pelo ar e dois dias depois de aparecerem já se transmite pelo ar e por contatoGeralmente, a doença e a vacina concedem imunidade duradoura, mas a pessoa que não tem problema imunológico pode ter novamente com poucas lesões, por isso hoje indicamos duas doses da vacina, uma na criança com 1 ano e depois entre 4 e 6 anosCom duas doses, a eficácia aumenta de 93% para 98%."