As esculturas ficam nas laterais do adro, de mais difícil acesso e com partes só alcançadas mesmo pelo robô“É um método seguroEstamos fazendo vários estudos de viabilidade e reunindo todas as autorizações dos órgãos de defesa do patrimônio”, diz a diretora de Cultura da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Jurema Machado.
A expectativa é de que o escaneamento dos originais de pedra-sabão, com uso do robô, comece no mês que vemNo dia 24 haverá uma reunião em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para tratar dos últimos detalhes do projeto, com a presença dos envolvidos nessa nova etapa de reprodução das peças reconhecidas, desde 1985, como patrimônio cultural mundialA iniciativa de fazer as réplicas é da Unesco e tem o objetivo de mapear cada uma, conhecer o sistema construtivo, desenvolver pesquisas e garantir segurança integral ao acervo.
O trabalho, segundo os especialistas, não se relaciona à substituição das esculturas originais, prejudicadas e ameaçadas pelo tempo e poeira de mineração, pelas cópiasEles explicam que, se um dia ocorrer algum dano a um dos profetas, num ato de vandalismo, mesmo que haja segurança no local, haverá condições de se fazer a restauração sem problemas e com total fidelidadeAlém disso, a escultura em fibra de vidro poderá participar de exposições em qualquer lugar.
LINHA DE PRODUÇÃO
Aleijadinho viveu em Congonhas entre 1796 e 1805 e deixou na cidade um dos maiores conjuntos de arte barroca do mundo, com 66 imagens esculpidas em cedro, seis relicários e 12 profetas em pedra-sabãoDe acordo com informações da Comau do Brasil, com sede em Betim e especializada em automação e gestão de ativos industriais, será a primeira vez que um robô automotivo vai atuar na preservação de um bem culturalA empresa, do Grupo Fiat, cederá gratuitamente o equipamento de origem italiana.
A diretora da Unesco explicou que cinco profetas já foram escaneados manualmente, sendo montados andaimes para execução da tarefa
Jurema explicou que a reprodução de três dos profetas já tem recursos assegurados, via Lei Federal de Incentivo à Cultura“Já temos autorização para a execução das demais réplicas, e estamos partindo para a captação de verbas”, afirmou a diretoraA previsão é de que todo o trabalho fique pronto em dois anos, devendo as réplicas ficar na reserva técnica do Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra, fruto da parceria entre Unesco, Prefeitura de Congonhas e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com investimento de R$ 15 milhões e inauguração prevista para 2012.
Faxina nas esculturas
O estado de conservação dos profetas chama a atenção de quem visita o santuário, principalmente pela crosta escura que cobre a pedra-sabãoO superintendente do Iphan em Minas, Leonardo Barreto de Oliveira, informou ontem que a limpeza de todo os profetas, que ocorre a cada cinco anos e estava prevista para agora, não será mais feita de uma vez“Vamos fazer por etapas, de dois em dois meses, seguindo o cronograma de execução das réplicasPara fazê-las, é preciso que a escultura esteja bem limpa e assim não precisaremos repetir o serviçoFaremos um por um”, explicou
Entenda o caso
De 1800 a 1805, Aleijadinho esculpe os 12 profetas para o adro do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas;
Em 1938, conjunto do santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan);
De 1950 a 1970, são feitos moldes e réplicas dos profetas, mas a maioria se perde ou sofre degradação
No início da década de 1980, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) promove limpeza mecânica dos profetas, com técnicas não mais usadas (escova de náilon, sabão de coco etc.)
Em 1985, conjunto do santuário é reconhecido como patrimônio cultural mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco);
De 1996 a 1998, numa parceria Brasil-Alemanha, entra em ação o Projeto Ideas para estudo de degradação dos materiais pétreos e edificações históricasComeça a ser usado um biocida para limpar as esculturas e evitar lesões e ataque principalmente de líquens;
De 2002 a 2003, surge a polêmica de substituição dos profetas originais pelas réplicas, devido ao ataque de líquens, fungos e outros micro-organismosEm 2003, é lançado o projeto de construção do Museu do Barroco, que, com o tempo, se tornou Memorial Congonhas/Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra;
Em 2011, com a chancela da Unesco, fica pronta a primeira réplica, a do profeta Joel.