Jornal Estado de Minas

Comunidade apela para tirar igreja de caixas em Mariana

Comunidade de Gogô, em Mariana, recorre ao MP para que capela desmontada e guardada em galpão seja reconstruída

Gustavo Werneck
Acervo foi retirado na década de 1970 em condições não esclarecidas - Foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press - 6/1/10


Os moradores de Mariana assistem a uma novela cheia de mistério e reviravoltas que se arrasta por mais de 40 anos e, tudo indica, está longe de terminarDisposta a ter de volta o seu bem religioso e cultural mais valioso, a comunidade de Gogô, localizada a quatro quilômetros do Centro Histórico da primeira cidade de Minas, recorre ao Ministério Público estadual pedindo intervenção para que seja reconstruída a Capela de Santana, datada de 1711O templo católico já foi desmontado, retirado de sua estrutura barroca no Morro de Santana em condições jamais esclarecidas, e transferido para Belo Horizonte na década de 1970 dentro de caixas

Um abaixo-assinado com cerca de 300 nomes foi encaminhado à Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas GeraisAs peças foram armazenadas num galpão na Pampulha, na capital, e retornaram para Mariana em fevereiro de 2008O que incomoda a população de Gogô é que já se passaram mais de três anos e o material continua guardado, pela prefeitura local, no Centro Cultural Arquidiocesano Dom Frei Manoel da Cruz, antigo Palácio dos Bispos“Já esperamos muito tempo, as peças podem estar se degradandoQueremos que a capela seja reconstruída logo, conforme o compromisso das autoridades municipaisO prazo dado já expirou”, reclama o vice-presidente da Associação dos Moradores do Bairro Morro de Santana, Eduardo Campos.

As obras, com recursos municipais, deveriam ter sido iniciadas no segundo semestre de 2010, a partir do projeto dos arquitetos Jô Vasconcelos e Altino CaldeiraAlém do templo, seria feito um anexo subterrâneo com museu para abrigar objetos que guardam a memória da capela, cujo terreno fica em área de preservação arqueológica tombada pelo municípioO coordenador e promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, diz que o projeto foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para análise, devendo, quando for concluída a avaliação, haver uma reunião com a comunidade


Entrave

Nos últimos dois anos, Mariana teve seis trocas de comando na prefeituraAs turbulências políticas, segundo o promotor de Justiça, interferiram no processoO secretário municipal de Cultura, Marcílio Queiroz, adianta que o assunto estará na pauta da reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural no próximo dia 27Queiroz revela que há interesse da administração em resgatar o projeto“No dia 15, tivemos um encontro com a diretoria da Associação Marianense de Artistas Plásticos (Amap), que poderá colaborar na reconstrução da capela”, afirmou.

Em 2004, o Estado de Minas fez uma série de reportagens sobre a história da capela, desde que ela foi retirada de Mariana para ser remontada na sede da empresa Mendes Júnior, em BHCom o fechamento da empresa, a capela foi doada, em 1999, à UFMG, mas por se tratar de uma instituição laica, a universidade a repassou à PUC Minas, que, por sua vez, não chegou a reconstruí-laEm 2008, a Prefeitura de Mariana obteve o direito de reaver o acervo.